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Sábado, 20 Agosto 2022 20:10

Horas à espera do 'messias', votantes da UNITA têm de contentar-se com substituto

Rute está junto ao palco do comício de hoje da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) no Caxito, província do Bengo, há 10 horas, para ouvir daquele que considera o seu salvador, mas que não irá chegar.

“Ele é o meu messias, quem nos vai guiar para fora desta miséria, eu espero o que for preciso”, diz à Lusa Rute, que veio de Dande, um município vizinho do Caxito.

Enquanto falava à Lusa, a mulher não sabia que o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, ainda não tinha saído de Mbanza Congo, a três horas de distância. E a noite chegaria e as luzes do palco iluminaram apenas o número dois da lista candidata às eleições angolanas de dia 24, Abel Chivukuvuku, que, num discurso curto, ainda começou por prometer a presença do presidente do partido mas, dez minutos depois do discurso, acabou por sair e terminar a iniciativa.

“O nosso candidato ACJ terminou o comício muito tarde e está a ver se ainda consegue vir aqui mas pediu-nos para orientar o discurso, porque somos só uma equipa, a equipa da mudança”, afirmou Abel Chivukuvuku, que lidera o movimento Pra-Já Servir Angola e é o número dois de Adalberto da Costa Júnior.

“A UNITA capitania, tem o Pra-já Servir Angola, o Bloco Democrático e a sociedade civil. É uma seleção nacional. Quem é o nosso Leonel Messi? É o ACJ? Qual é a sua camisola? É o 3”, gritou, numa referência ao número da candidatura do partido que tenta federar os maiores movimentos de oposição em Angola.

“Disseram-me que ele estava cá às 12 horas, mas vou esperar”, insiste Ana Santana, do Caxito, de uma família que sempre votou UNITA mas que, desta vez, acredita na mudança.

“Vamos mudar, eu confio”, diz, de lenço preto na cabeça, um cachecol com a figura de Jonas Savimbi (fundador histórico do partido) e a t-shirt de Adalberto da Costa Júnior.

O voto no três de Ana Santana está garantido e a certeza de que o processo de contagem também será justo. “Vamos ganhar, não há hipótese de nos roubarem”.

Opinião diferente tem, do alto do palanque sobre o chão de terra do Caxito, Abel Chivukuvuku.

Na quarta-feira, “depois de votar, é ‘votou sentou’”, gritou numa referência ao pedido do partido para que os apoiantes fiquem perto das mesas de voto a vigiar a contagem e os resultados, um apelo considerado ilegal pelas autoridades angolanas.

“Não sentem na assembleia. Fiquem a 80 metros ou 100 metros e sentam para, desta vez, não poderem roubar o nosso voto. Eles afixam os resultados e todos tiram fotografia com o telemóvel”, recomendou Chivukuvuku.

No final do comício de dez minutos, durou mais tempo os apelos do ‘speaker’ a pedir aos apoiantes para não levarem as cadeiras distribuídas.

“Elas são precisas, não as levem por favor”, ouviu-se no recinto por diversas vezes.

Um comício em Angola é oportunidade de negócio porque a cerveja irá esgotar em muitos bares e a fome aperta.

“Eu não sou da UNITA mas isto é bom para nós”, diz Maria Eduarda, que vende carne e mandioca na rua de acesso ao palco.

Já Ana Paula dos Santos, o mesmo nome da ex-mulher do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, cujos restos mortais chegaram hoje a Luanda – é da UNITA e junta a vantagem de vender cerveja à cor partidária.

“Sou viúva, mas não do José Eduardo. O meu chamava-se Aníbal. Se fosse o outro estava melhor, diz Ana Paula dos Santos, 42 anos e mão na cintura, que promete votar na “mudança” na quarta-feira.

E o que é a “mudança”? Sorri, com dentes imaculadamente brancos, e levanta três dedos como se fosse um sinal de vitória.

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