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Terça, 16 Agosto 2022 10:59

Transição política dificilmente será suave se UNITA ganhar - analista

O diretor do Programa África da Chatham House, Alex Vines, disse à Lusa que será difícil um cenário de "transição política suave" no caso da UNITA, o maior partido da oposição angolana, vencer as eleições em 24 de agosto.

"Seria preciso uma vitória esmagadora, que não parece ser a tendência atual. O cenário mais provável é um resultado eleitoral apertado e um período de contestação pela UNITA e outros partidos da oposição através dos tribunais e protestos nas ruas" disse à Lusa Alex Vines.

Para o diretor do Programa África da Chatham House, um 'think-tank' com sede em Londres, a votação em 24 de agosto será "muito competitiva".

"O que podemos dizer com certeza é que o MPLA não atingirá os 61% que obteve em 2017. O resultado será muito mais curto e, se assim for, podemos esperar uma séria reação da oposição se o resultado traduzir uma vitória apertada para o MPLA [partido no poder desde a independência, em 1975]", acrescentou.

Alex Vines recordou que anteriores resultados eleitorais em Angola "acabaram por ser aceites e os parlamentares da oposição assumiram os seus lugares na Assembleia Nacional".

A verificar-se uma "vitória apertada" do MPLA, "os protestos podem ser mais prolongados", admite.

"O Presidente de Angola e líder do MPLA] João Lourenço voltou a sinalizar que irá realizar eleições autárquicas - o que dará à UNITA uma boa oportunidade para obter ganhos eleitorais a nível local. Pode ser do interesse da UNITA continuar a consolidar a sua influência a nível local e entrar numa corrida de longo prazo para, no futuro, formar governo", destacou.

Quanto a reflexos da morte do ex-Presidente José Eduardo dos Santos na votação em 24 de agosto, Alex Vines considera que as divisões no seio do MPLA "continuam por sarar", mas acredita que não haverá efeitos no resultado.

"O MPLA tende a unir-se quando procura manter o poder. Há consenso quanto a isso", frisou.

José Eduardo dos Santos como tema de campanha ajuda a unir MPLA

O ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que morreu em 08 de julho, se for tratado como tema de campanha nas próximas eleições em Angola, servirá para unir o partido no poder, segundo analistas contactados pela Lusa.

O diretor do programa África na Chatham House, Alex Vines, considera que as divisões no seio do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) "continuam por sarar", mas acredita que não haverá efeitos no resultado.

"O MPLA tende a unir-se quando procura manter o poder. Há consenso quanto a isso", frisou.

A mesma opinião é expressa pelo economista Jonuel Gonçalves que diz acreditar que se finalmente se realizar o funeral do antigo chefe de Estado angolano "o MPLA tende a tirar partido das cerimónias".

"Eu continuo convencido de que se houver funeral antes das eleições o MPLA aproveita. De qualquer forma", afirmou.

"Agora, se não houver [funeral]… até aqui está tudo calado, mas eu tenho quase a certeza que, em cima da hora, a UNITA vai levantar de novo o problema das divisões e do relacionamento dentro do MPLA e acaba por tentar atrair eleitores do MPLA e vai falar no caso do José Eduardo dos Santos. Vai falar no 'caso 27 de Maio' e vai falar no José Eduardo dos Santos", acrescentou.

Jonuel Gonçalves faz a mesma leitura de Alex Vines, de que se a UNITA tentar explorar as divisões que a morte do ex-Presidente evidenciou no partido no poder, "mais reforçado fica o MPLA".

"Quanto mais força a UNITA tiver mais unifica o MPLA", sintetiza o economista, considerando que há setores da população, e de quadros do MPLA, que têm a sensação de que José Eduardo dos Santos foi mais maltratado do que devia ter sido".

"Houve um certo exagero, e isto eu noto inclusive de quadros. Quer dizer, não é só na população em geral. Notou-se isso entre quadros e este pessoal não ficou assim muito satisfeito com essa história, mas quanto mais forte for a oposição, menos esse problema vai contar dentro do MPLA", reforçou.

Se José Eduardo dos Santos, o ausente mais presente na campanha eleitoral em curso em Angola, for usado como tema de campanha, é sinal de falta de bom senso, defendeu Eugénio Costa Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL).

"Creio que acabaram todos por ter bom senso de não trazer à colação até agora. Mas se for, creio que teria vantagem para um e desvantagens para outro. Vantagens talvez para a UNITA, enquanto o MPLA, se fosse usar o nome tendo em conta alguns anticorpos e muitos anticorpos estranhos de José Eduardo dos Santos poderia ter ainda um efeito negativo", disse.

"Eu era da opinião na altura que ia ser o ausente mais presente da campanha. Enganei-me pelo menos até agora. E assumo esse engano porque, na minha opinião, ambos tiveram bom senso de não usar uma figura como a do ex-Presidente", adiantou.

O analista Herlânder Napoleão recorda que logo no início da campanha eleitoral, o sucessor de José Eduardo dos Santos e líder do MPLA, João Lourenço num dos comícios que fez, disse que o MPLA "queria dedicar a vitória ao ex-Presidente e isso soou um bocado a uma grande contradição".

Herlânder Napoleão revisita a história e relata que João Lourença num congresso do MPLA João Lourenço "com toda a veemência disse que era preciso combater os corruptos, nem que para isso que tivessem de ser combatidos grandes pilares", que posteriormente classificou como "marimbondos".

São conhecidos os desenvolvimentos das investigações judiciais abertas aos filhos do ex-Presidente, com destaque para Isabel dos Santos e José Filomeno dos Santos, logo a seguir a João Lourenço tomar o poder.

Para Herlânder Napoleão, com a subida de João Lourenço ao poder, o combate à corrupção em Angola "usou métodos seletivos".

Mais de 14 milhões de angolanos, incluindo residentes no estrangeiro, estão habilitados a votar em 24 de agosto, na que será a quinta eleição da história de Angola.

Os 220 membros da Assembleia Nacional angolana são eleitos por dois métodos: 130 membros de forma proporcional pelo chamado círculo nacional, e os restantes 90 assentos estão reservados para cada uma das 18 províncias de Angola, usando o método de Hondt e em que cada uma elege cinco parlamentares.

Desde que entrou em vigor a Constituição de 2010 que não se realizam eleições presidenciais, sendo o Presidente e o vice-presidente de Angola os dois primeiros nomes da lista do partido mais votado no círculo nacional.

No anterior ato eleitoral, em 2017, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) obteve a maioria com 61,07% dos votos e elegeu 150 deputados, e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) conquistou 26,67% e 51 deputados.

Seguiram-se a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), com 9,44% e 16 deputados, o Partido de Renovação Social (PRS), com 1,35% e dois deputados, e a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com 0,93% e um deputado.

A Aliança Patriótica Nacional (APN) alcançou 0,51%, mas não elegeu qualquer deputado.

Além destas formações políticas, na eleição em 24 de agosto estão ainda o Partido Humanista (PH) e o Partido Nacionalista da Justiça em Angola (P-Njango).

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