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Terça, 22 Fevereiro 2022 11:30

Conterrâneos de Savimbi dizem-se “abandonados” e discriminados por Luanda

Na terra de Jonas Savimbi, no interior de Angola, os moradores queixam-se que “falta quase tudo” porque as autoridades angolanas acreditam que a zona é um “bastião” da UNITA.

Morto em combate há exatamente 22 anos, abrindo caminho ao fim da guerra civil angolana, os restos mortais de Jonas Savimbi estão enterrados desde 2019 na aldeia de Lopitanga, município do Andulo, onde nasceu o guerrilheiro que resistiu e lutou ativamente contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975).

“A nossa aldeia, ficou mesmo atrás, o Governo não está a nos ajudar, não temos escolas, não temos escola e nem hospital”, afirmou à Lusa António Venâncio, recordando que é na missão de Tchilesso, a mais de 10 quilómetros, que se encontram os serviços públicos.

Por estes dias, Lopitanga voltou a ser palco mediático, com cerimónias fúnebres no cemitério local que “dão visibilidade” à aldeia, mas ao mesmo tempo se traduzem numa “penalização” dos cidadãos locais devido à falta de serviços públicos, considera o morador.

Este sentimento é partilhado por muitos outros locais. Os moradores daquela terra, 30 quilómetros do município do Andulo, província do Bié, centro/sul de Angola, dizem-se “abandonados” pelas autoridades locais por “faltar quase tudo” na região onde está sepultado Jonas Savimbi, acreditando que a situação é consequência desta ser um “bastião” da UNITA.

O ato central das celebrações dos 20 anos de morte de Jonas Savimbi, que morreu em combate em 22 de fevereiro de 2002 realizou-se em Lopitanga, onde o presidente fundador da UNITA foi inumado em junho de 2019.

Centenas de cidadãos da região acorreram ao local, no sábado passado, para assistir a cerimónia fúnebre de Elias Salupeto Pena, ex-chefe da delegação da UNITA na Comissão Conjunta Político-Militar e lamentaram pela “falta de quase tudo”.

Segundo os populares, a falta de serviços públicos, como escolas, hospitais, energia elétrica, serviços sociais e outros em Lopitanga, onde os acessos são feitos apenas por picadas e vias, concorrem para o subdesenvolvimento da região.

“Primeiro, precisamos de hospitais aqui nesta aldeia, escolas para as crianças, porque as crianças só andam atrás das mães para as lavras porque não têm escolas”, disse à Lusa Barroso Kandimba, 45 anos, residente em Lopitanga desde 2004.

“As crianças a partir de 15 anos são as que conseguem ir à escola pé, andando mais de 10 quilómetros, mas as com menos de idade não chegam (à escola)”, contou.

Há 18 anos em Lopitanga, Kandimba recorda que a região não tem hospital, situação que faz com que os populares, mesmo adoentados, tenham de percorrer quilómetros a pé até à missão do Tchilesso, para o acesso à assistência médica.

O imponente túmulo de Jonas Savimbi no local, construído pelo seu primogénito Cheya Sakaita Savimbi, a escassos metros do cemitério onde estão sepultados os pais, primos e demais familiares, confunde-se com um santuário cuja limpeza e segurança do espaço são garantidos por militantes da UNITA naquela região.

Essa atenção do partido da oposição tem depois consequências concretas, que se refletem na falta de investimento público, acusou António Venâncio.

“Aqui quando alguém está doente tem de te levar até ao Tchilesso e a pé é complicado, há pessoas que morreram pelo caminho. Aqui a situação está mesmo mal”, lamentou.

Questionado sobre o grau de desenvolvimento da região após o funeral do líder fundador da UNITA, o camponês de 41 anos, respondeu: “Quase não há desenvolvimento, não mudou nada”.

“Não sei se amanhã ou depois o Governo vai fazer alguma coisa, mas no momento está mesmo mal”, assinalou.

Sobre as eleições gerais em Angola, previstas para a segunda quinzena de agosto próximo, António Venâncio não é otimista: “Vamos ver se amanhã ou depois há mudança, mas se continuar isso está mesmo mal”.

O rio que atravessa a região é fonte de água para o consumo dos moradores locais, sendo que muitos se dedicam à pesca e à agricultura de subsistência.

A falta de escolas, hospitais, medicamentos e a ausência das autoridades na região foi também realçada pelo ancião Américo José, 60 anos, questionado a ausência de apoios para Lopitanga.

“Aqui nem medicamentos temos, mas noutros sítios estão a apoiar”, notou o também camponês.

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