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Quarta, 02 Junho 2021 19:51

Oposição diz que João Lourenço falhou na limpeza das Forças Armadas

A "limpeza" efectuada pelo Presidente angolano da Casa de Segurança que culminou com a exoneração do general Pedro Sebastião, substituído por outro general Francisco Pereira Furtado, e o pedido de João Lourenço ao novo Chefe da Casa de Segurança para "varrer" todos os fantasmas das Forças de Defesa e Segurança estão a ser recebidos com muito cepticismo pelos partidos na oposição.

O MPLA saudou a “coragem” de Lourenço.

A UNITA, o maior partido na oposição, diz que tanto João Lourenço como Francisco Pereira Furtado ocuparam altos cargos no sector da Defesa, sem contudo terem conseguido limpar a casa.

A deputada Mihaela Webba entende que o Chefe de Estado está a pedir algo que, de antemão, sabe ser uma tarefa impossível.

"O Presidente João Lourenço tornou-se Chefe de Estado e comandante em chefe das FAA em 2017, desde aquela data o que ele andou a fazer que não conseguiu acabar com os fantasmas das Forças Armadas? Isto só mostra que ele não está a combater corrupção nenhuma e este escândalo Lussaty vem demonstrar que o Presidente está a fazer combate selectivo à corrupção e impunidade porque se não o próprio governador do BNA devia já ter sido exonerado”, afirma Webba, sublinhando que “a corda arrebenta sempre pelo lado mais fraco".

O deputado independente pela CASA-CE, Makuta Nkondo, por seu lado, questiona a nacionalidade de Furtado.

"Ele já foi chefe de Estado-maior das FAA como cabo-verdiano e agora é o Chefe da Segurança do Presidente sendo cabo-verdiano, penso que é uma situação muito grave".

Nkondo também aponta o dedo ao Presidente, ao lembrar que ele foi “ministro da Defesa e que não conseguiu sanear as Forças Armadas, como comandante em chefe”.

Por isso diz estar “muito céptico que se consiga isso quando da sua própria casa saem malas e malas de dinheiros só de um simples major”, e pergunta “imaginem quantas malas não teria um general ou ele próprio o Presidente?”

“O Governo e o próprio João Lourenço caíram no descrédito", conclui.

O PRS, através do seu secretário-geral, Rui Malopa, também diz não acreditar que seja possível tal limpeza com o MPLA.

"Isto de sanear toda a Casa de Segurança do PR não vai resultar em nada porque o problema é um vírus que infectou todos eles, o próprio general Furtado já tinha sido indiciado há alguns anos, a questão é de sangue dos que dirigem o país desde 1975", afirma.

Entretanto, o MPLA, partido no poder, enalteceu hoje a "coragem e convicção demonstradas" pelo Presidente angolano na gestão do que considera "tão sensível processo" que envolve responsáveis da Casa de Segurança do Chefe de Estado.

Em comunicado, o secretariado do bureau político do Comité Central "encoraja" igualmente João Lourenço a "permanecer firme na liderança do combate sem tréguas à corrupção, à impunidade e ao nepotismo".

Limpeza na Casa de Segurança, analistas duvidam

Analistas angolanos manifestam-se cépticos em relação à aplicação prática da ordem de limpeza do pessoal fantasma no sector castrense, dada na terça-feira, 1, pelo Presidente da República.

João Lourenço exigiu do general Francisco Furtado, novo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, "mudanças radicais" no cadastro dos efectivos de todos os órgãos de Defesa e Segurança Nacional.

Segundo o Chefe de Estado, uma das tarefas do novo ministro será "limpar todo o efectivo fantasma" que existe nos órgãos de Defesa e Segurança.

Lourenço disse que os últimos acontecimentos ocorridos em Luanda demonstram a saída de dinheiros públicos dos bancos, de forma fraudulenta, que estão a engordar o "caranguejo", numa referência à operação de investigação que possibilitou a apreensão de milhões de dólares e kwanzas, assim como milhares de euros, imóveis, viaturas e outros bens, em posse o major Paulo Lussaty, funcionário da Casa de Segurança.

Entretanto, tanto o jornalista Ilídio Manuel como o jurista Pedro Capracata consideram que é mais uma medida que não vai trazer os resultados esperados enquanto o combate à impunidade e à corrupção continuar a ser selectivo.

Capracata minimiza o alcance da limpeza ao sector anunciada por João Lourenço, afirmando que a troca de quadros operada pelo Presidente da República resulta de velhas intrigas internas no seio da Casa de Segurança.

Aquele jurista considera, entretanto, que a ordem dada por João Lourenço ao general Francisco Furtado e seus imediatos, “tem um alcance fora do comum porque visa fazer com que a população pense que alguma coisaestava mal e agora vai mudar”.

Para o jornalista Ilídio Manuel, a ordem do Presidente devia ser acompanhada de uma profunda sindicância à Casa de Segurança para determinar as causas e a dimensão do escândalo financeiro que envolve o major Pedro Lussaty.

Ilídio Manuel diz que o escândalo financeiro “desvenda as fragilidades do próprio sistema” e põe em causa a confiança que a sociedade deposita na Presidência da República “que constitui o nervo do poder”. VOA

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