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Terça, 29 Setembro 2020 15:42

Angola em manobras de guerra sem armas

O clima de suspeições e acusações adensou-se em Angola. O caso AAA foi agora a bola de neve que desencadeou um conjunto de acontecimentos que agigantam as teorias da conspiração e envolvem até a TVI. Onde é que isto vai parar?

A guerra em que as armas são as suspeitas, os mujimbos (boatos em kimbundo) e as acusações está ao rubro em Angola. Tal como aconteceu noutras circunstâncias, esta guerra disputa-se no próprio país e também em Portugal. Depois da acusação a Carlos São Vicente, ex-presidente da AAA Seguros, envolvido no alegado desvio de 900 milhões de dólares, dinheiro que foi retido pelas autoridades suíças, o foco foi desviado para outro caso denunciado a partir de Portugal.

Na segunda-feira, 21 de setembro, a TVI emitiu uma reportagem sobre o chefe de gabinete de João Lourenço, Edeltrudes Costa, o qual terá sido favorecido através de contratos públicos com a empresa EMFC para a prestação de diversos serviços ao Estado. Acontece que esta peça jornalística encontrava-se congelada há mais de quatro meses e foi para o ar coincidindo com o tufão AAA. Pelo caminho, um site angolano afiança que Isabel dos Santos está envolvida na compra da televisão de Queluz e um outro garante que os interesses angolanos estão identificados com Manuel Vicente.

Entretanto a SIC e a SIC Notícias vão deixar de estar disponíveis em Angola na plataforma cabo da DStv. Antes disso, a 20 de setembro, o Expresso avança que dois relatórios dos 2.100 investigados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) envolvem transferências bancárias suspeitas associadas a Isabel dos Santos e Sindica Dokolo.

Em causa estariam atividades suspeitas, praticadas em 2013 nos Estados Unidos, através dos bancos JP Morgan e Standard Chartered, por causa de transferências ligadas à Unitel e ao negócio dos diamantes, em que Sindika Dokolo foi sócio do Estado angolano. As alegações foram desmentidas por Isabel dos Santos.

Zonas cinzentas

Na semana passada, Mário Leite da Silva, gestor de confiança da empresária, queixou-se junto de reguladores internacionais sobre um “contrato falso” relativo à aquisição de uma participação indireta na Galp que terá lesado a Sonangol em 193 milhões de euros em 2005 e apontou o dedo acusador ao antigo presidente da petrolífera e ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente. Em resposta, este acusou Mário Leite da Silva de protagonizar uma “indecorosa manobra de diversão”, acrescentando que “a imputação nitidamente falsa” é “ilustrativa da má-fé e/ou dos interesses inconfessos dos seus autores”. A Sonangol também refutou as acusações feitas pelo gestor português.

Todos estes factos concorrem para sustentar a tese de que existem várias movimentações em Angola, todas elas tendentes a fragilizar putativos inimigos e sustentados na premissa estratégica de Sun Tzu, segundo a qual “a manobra contribui para a liberdade de ação e reduz as próprias vulnerabilidades”. Zonas cinzentas como saber quem são os outros envolvidos no caso AAA ou se existe, ou não, capital angolano na TVI vão continuar a alimentar cenários especulativos e teorias da conspiração.

O ambiente em Angola está denso e imprevisível. João Lourenço tomou conta do país e do partido, mas condicionado pela crise não conseguiu ainda protagonizar um relançamento económico capaz de abrir uma janela de esperança para o futuro. NEGOCIOS

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