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Terça, 04 Agosto 2020 11:06

Eduardo dos Santos e o desmoronamento moral do seu núcleo familiar

A semana passada, dois factos noticiados pela imprensa e pelas redes sociais expuseram o acentuado declínio da família de José Eduardo dos Santos.

Com o patrono da família recolhido a um exílio voluntário em Espanha (a propósito, quando é que alguém se dignará dizer aos angolanos quanto lhes custa aos bolsos o exílio dourado do ex-presidente?), Isabel e Tchizé dos Santos voltaram a ocupar espaços de destaque na comunicação social e nas redes sociais, e não por boas razões.

Presença quase permanente nas páginas da imprensa portuguesa, a primogénita de José Eduardo dos Santos voltou a chamar atenção por causa do seu mau feitio de manipular os factos, torturar a verdade e de não pagar dívidas.

Já Tchizé (meia-irmã), é assim que Isabel se refere à outra, porventura a filha de JES que mais encarna o estado de negação da realidade, voltou a ser notícia nas redes sociais pelas mesmas razões de sempre: o vazio que lhe povoa a cabeça e a futilidade das iniciativas em que se envolve.

No plano das ideias, área em que transita com notórias dificuldades, a ex-deputada sugeriu, de modo estapafúrdio, uma reconciliação entre o seu pai e o presidente João Lourenço. O que ela não disse é onde, quando, onde e porquê JES e JL se reconciliariam. Também não deixou claro se ambos falariam através de videoconferência ou se o pai dela virá ao país para o face to face o Presidente da República.

Fora do campo das ideias, a ex-membro do Comité Central do MPLA insinua-se agora como manequim de roupas de praia…

No dia 27 de Julho, a primogénita de José Eduardo dos Santos antecipou-se à assembleia-geral da Unitel, marcada para aquela mesma data, para reclamar o pagamento de uma dívida de 322 milhões de dólares.

Em comunicado, Isabel dos Santos disse que no exercício económico de 2014, a Vidatel, empresa com a qual participa no capital da Unitel, teria emprestado 322 milhões à operadora telefónica.

“Nas contas referentes a 2016 consta que o valor registado no accionista Vidatel, além dos dividendos em dívidas que transitam de 2015, incluem o valor de 322 milhões que resultam do término em 2016, que é ainda referente ao acordo de suprimento efectuado entre a empresa e o accionista em 2014”, diz o comunicado. No mesmo documento, Isabel acrescenta que a “existência dessas dívidas se deve a razões unicamente imputáveis à Unitel”, visto que ela “indevidamente não procedeu ao pagamento” da dívida, que, segundo ela, estaria “registada nas contas auditadas e reconhecidas pela assembleia geral dos accionistas durante vários anos”.

No mesmo dia 27, a assembleia-geral da Unitel emitiu um comunicado em que negou de maneira veemente qualquer dívida à accionista Vidatel, de Isabel dos Santos. “Inexiste qualquer contrato de suprimentos da acionista Vidatel com a Unitel“, refere o comunicado.

A Unitel reconhece, no entanto, ter dividendos a pagar ao accionista Vidatel no valor equivalente a 136 milhões de euros, mas refere que os motivos para a não transferências desses montantes lhe são alheios, e sublinha “as restrições do Despacho de Sentença n.º 519/19, pelo qual a Unitel está impedida de fazer transferências para a Vidatel”.

O comunicado esclarece que quem tem dinheiro a receber de dívidas é a própria Unitel, a quem a accionista Vidatel deve mais de 400 milhões de dólares.

“A Unitel informa ainda que tem registado em suas contas, com data-base de 31 de Dezembro de 2019,o valor a receber equivalente a USD 405 milhões da empresa Unitel International Holdings BV, sociedade sem a participação da Unitel e detida p[ela Eng. Isabel dos Santos, referente a empréstimos concedidos pela Unitel nos anos 2012 e 2013. Tais valores ainda não foram quitados”.

No mesmo dia, Isabel dos Santos reagiu com um comunicado em que se congratula “com a confirmação por parte da Unitel da divida que tem para com a Vidatel e que a existência desse crédito a favor da Vidatel se encontra registada no Relatório de Gestão e às Contas relativas ao exercício económico de 2019, que foram auditadas e aprovadas em Assembleia Geral realizada no passado dia 27 de julho de 2020”

No comunicado, Isabel dos Santos não faz qualquer menção à dívida de mais de 400 milhões que a Unitel reclama da Vidatel nem ao instrumento judicial que inibe a operadora de fazer qualquer transferência de dinheiro a seu favor.

A reação de Isabel dos Santos ao comunicado da assembleia-geral da Unitel foi quase ignorada pela grande imprensa.

De tanto distorcer e manipular os factos, Isabel dos Santos tornou-se numa pessoa sem credibilidade. Por isso, mesmo quando eventualmente diz verdade, o que vai se tornando cada vez menos frequente, ninguém a toma a sério.

Por defeito de formação ou por outra razão qualquer, os factos teimam em mostrar que quando se trata de dinheiro, Isabel dos Santos não é e nunca foi parceira confiável. Sempre escolheu o lado menos honesto. Foi assim com os brasileiros da OI, a quem nunca quis pagar os dividendos que lhes eram devidos da parceria na Unitel. Foi assim com a Sonangol, a quem passou a perna na dupla que fizeram para a entrada no capital social da portuguesa Galp Energia. Além de ter horror a pagar dívidas, Isabel dos Santos é desleal. Ao português Belmiro Azevedo apunhalou pelas costas após ambos terem tudo acertado para explorarem em Angola a cadeia de supermercados O Continente. A passagem de Isabel pela Sonangol foi meteórica, mas o suficiente para enfiar as manápulas nos cofres da empresa, mesmo depois do “cronómetro” assinalar já a passagem da 25.ª hora.

A antiga primeira primogénita, que aceitava muito bem o pseudónimo Princesa, não tem, nunca teve hábito de pagar a quem deve; não cultiva a boa prática de devolver o que toma de empréstimo. Muito marcada pelos maus hábitos que transporta do passado, Isabel dos Santos continua convencida que tudo em que toca é seu; tudo em que pensa deve lhe ser atribuído; tudo em que acredita deve ser realizado. Isabel e o marido sonharam com a joalharia suíça De Grisogono. O pai e sogro ordenou que a Sodiam lhes fizesse a vontade; o casal quis controlar a indústria cimenteira do país. O pai e sogro ordenou que o Estado abrisse mão da sua posição acionista na Cimangola a favor de Isabel e marido. Isabel quis ser dona do BFA. O pai arranjou jeito de obrigar Sonangol a comprar acções no BPI e doou-as à filha. A filhinha querida sonhou com uma empresa telefónica. O extremoso pai obrigou a Sonangol a montar e a equipar a Unitel e deu uma boa porção da empresa à filha. A filha querida sonhou com um porto de grande dimensão. O afectuoso pai não se fez rogado: doou-lhe o espaço onde se projecta a construção do porto do Dande.

Mas no que é que deu tanto “esforço” paternal?

A dedicação e o zelo de José Eduardo dos Santos produziram uma mulher que distorce factos, manipuladora, desleal e pouco amiga da verdade.

É nisso que cada vez mais se reduz a mulher em quem muitos cegos por conveniência já enxergaram exemplo de empreendedorismo.

Enquanto Isabel dos Santos é consumida pelos seus “defeitos de fabrico”, a irmã menor vai se esforçando para ser guru em tudo. Cozinha, Jornalismo, Comunicação, Ciência Política e, pasme-se, Etiqueta.

Em Luanda, de onde não foi a tempo de se escapulir, Zenu dos Santos é a prova de que era um playboy transformado artificialmente em banqueiro, empresário e gestor.

Agora que ficou sem a dobra do pai-presidente, José Filomeno dos Santos prova que nunca teve arte e nem engenho para comandar fosse o que fosse na esfera pública e empresarial. Todas as iniciativas a que emprestou as suas impressões digitais caíram como castelos de areia. O Banco Kwanza Invest, que ele e o amigo dele Jean-Claude Bastos de Morais inventaram com dinheiro do Fundo Soberano de Angola, tem os dias bem contadinhos. Por determinação do BNA, já nem depósitos pode mais aceitar. Tal como a irmã mais velha, como empresário Zenu dos Santos foi uma ficção. Ambos só foram “empreendedores bem-sucedidos” enquanto tiveram acesso ilimitado aos sacos azuis que o pai lhes punha ao dispor.

E lá em Barcelona, onde se esconde há mais de 2 anos para não ver com os próprios olhos os resultados do seu desastre governativo de 38 anos, José Eduardo dos Santos assiste, caladinho, ao desmoronamento moral do seu núcleo familiar.

Dir-se-ia mesmo que aparentemente já abdicou das suas obrigações paternais de acompanhamento e aconselhamento da prole.

Por Graça Campos / Correio Angolense

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