Com a inumação das ossadas de Savimbi, na aldeia de Lopitanga, a família e o partido UNITA cumprem um desejo do malogrado. O político havia manifestado, ainda em vida, que, quando morresse, fosse enterrado no cemitério da aldeia de Lopitanga, junto à tumba dos progenitores. Antes da urna descer à sepultura foram lidas várias mensagens, com destaque para a dos filhos e do partido.
A maioria das mensagens destacava a dimensão histórica, política e cultural de Jonas Savimbi, enquanto nacionalista angolano, pai e defensor do pan-africanismo.
As cerimónias deste sábado não contaram com a participação de nenhum membro do Governo angolano, disse Sakala. Depois da independência angolana, Savimbi liderou a UNITA, com apoio sul-africano e norte-americano, na guerra civil contra o MPLA, apoiado pela União Soviética. Recusou reconhecer a derrota nas primeiras eleições, em 1992, e voltou a pegar nas armas. Em 2002, numa altura em que a guerrilha estava já enfraquecida, enquanto o MPLA estava consolidado no poder, Savimbi foi morto e o conflito terminou.
As cerimónias começaram por volta das 11h00 e duraram quatro horas, disse Sakala. A Lopitanga, aldeia perto do Andulo, na província do Bié, acorreram milhares de pessoas, mais do que era esperado, segundo o dirigente da UNITA. “Tudo correu como previsto, num ambiente de muita solenidade e muita comoção”, descreveu Sakala, acrescentando que não houve qualquer problema de segurança. A cerimónia “esteve à altura da dimensão histórica” de Savimbi.
O líder histórico do movimento anticolonial angolano foi morto em 2002, durante uma operação militar, mas o seu cadáver nunca foi entregue à família ou ao partido do “galo negro”. Na altura, Savimbi acabou por ser enterrado no cemitério municipal de Luena, no leste de Angola, sem direito a exéquias. Na véspera do enterro, um dos filhos de Savimbi, Durão Sakaíta, disse que a família “ficará finalmente em paz”.
Num discurso em que cada frase quer de Durão quer de Helena começava com a palavra "pai", e sempre na primeira pessoa, ambos destacaram o "político que se entregou à causa nobre de servir o país, antes e depois da independência", mas "sem nunca deixar de ser um progenitor "presente" quer "perto quer longe".
"Pai, foste rigoroso connosco, foste pai. Sempre atento à nossa educação, sempre atento à necessidade de valorizar o trabalho, o respeito e os valores. Ensinaste-nos a respeitar os mais velhos. Brincaste connosco, contavas-nos histórias. Foste pai de todos os homens que abraçaram a causa", sublinharam ambos na declaração familiar.
"Pai, foste um homem que amou profundamente Angola. Os que morrem acabam por viver sempre se a causa por que lutaram foi boa. Ficamos finalmente em paz", terminaram Durão e Helena. Nascido na localidade de Munhango, província do Bié, a 3 de Agosto de 1934, Jonas Savimbi.
Passo para a reconciliação
O processo de transferência dos restos mortais de Savimbi do cemitério municipal do Luena, no leste de Angola, para a aldeia do Lopitanga, ficou marcado por alguma polémica. A liderança da UNITA esperava receber as ossadas do seu líder histórico no Cuíto, mas o Governo decidiu entregá-las directamente à família, depois de alguns dias de impasse. Foi a intervenção de João Lourenço, na semana passada, que permitiu a conclusão dos procedimentos, evitando transformar a exumação do corpo de Savimbi numa luta política.
Nas cerimónias estiveram presentes vários representantes estrangeiros, incluindo o ex-ministro português João Soares, que era amigo pessoal de Savimbi e um apoiante da UNITA. Na véspera, Soares destacou o “lugar incontornável na história de Angola e de África” ocupado por Savimbi. “Se alguém tinha dúvidas sobre a dimensão de Savimbi, 17 anos depois de morto, seria possível com qualquer outro haver estas reacções?”, questionou, em declarações ao Novo Jornal.
O enterro de Savimbi “representa a necessidade de se reflectir o processo de reconstrução nacional”, diz Sakala. Para o dirigente da UNITA, o ex-líder guerrilheiro “tem um valor histórico acrescido pela luta pela democracia, numa altura em que Angola estava sob o cunho dos países de Leste para impor o marxismo e o sistema de partido único”.
O analista da Chatham House, Alex Vines, encara a trasladação do corpo de Savimbi como “mais um passo rumo à reconciliação”. “Apesar de todos os seus defeitos, Jonas Savimbi era apoiado por uma parte significativa da população angolana e o seu partido continua a ser uma força política importante hoje em Angola”, afirmou, citado pela AFP.
Família de Savimbi destaca decisão reconciliadora do PR
A sensibilidade e a decisão do Presidente da República, João Lourenço, em autorizar a entrega dos restos mortais do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, foi destacada este sábado pela família do malogrado.
O reconhecimento foi feito pelo filho primogénito de Jonas Savimbi, Durão Sakaita Savimbi, durante a leitura da mensagem de homenagem, na cerimónia de inumação que decorreu no cemitério de Lopitanga, município do Andulo, a 130 quilómetros do Cuito, Bié.
A família agradeceu "sincera e profundamente a sensibilidade e espírito reconciliador" do Presidente João Lourenço, em entregar as ossadas de Savimbi, 17 anos depois da morte em combate, na comuna do Lucusse, município do Moxico.
O Presidente João Lourenço havia criado uma comissão multissectorial, para o processo de exumação, transladação e inumação dos Restos Mortais de Jonas Savimbi, dirigida pelo ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião.
Integram a comissão multissectorial, além de membros do Governo, representantes da família de Jonas Savimbi e do partido.
A inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi surge depois da confirmação laboratorial de que as amostras recolhidas no cemitério do Luena pertenciam ao antigo líder da UNITA.