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Sexta, 12 Abril 2019 15:32

Abel Chivukuvuku: O meu instinto diz-me que até ao dia 15 de Abril terei partido político

Abel Chivukuvuku é o entrevistado desta semana, da edição impressa, do Vanguarda, a poucos dias de o seu futuro político se afirmar através de uma outra estrutura partidária. Depois do falhanço do projecto da coligação eleitoral CASA-CE, Chivukuvuku tenta de novo. PODEMOS-Já? É uma forte possibilidade.

E podemos falar do PODEMOS-Já?

Eu não sou membro da comissão instaladora do PODEMOS, não faço parte do PODEMOS, simpatizo e solidarizo-me, mas não sou parte. E qual será a sua nova plataforma, o seu novo instrumento para a acção política? Terá de surgir. Poderá ser o PODEMOS ou não. Já avisei que quando o apito tocar, vou dizer qual é o caminho.

Imagina-se nos próximos seis meses sem partido político?

O meu instinto diz-me que até ao dia 15 de Abril terei partido político. É o que me diz o meu instinto. É por isso que avisei os cidadãos angolanos para estarem preparados para a nova caminhada. Entretanto, pode servir-se o país produzindo pensamento, ideias, sugestões….

… não o estamos a ver como líder de um movimento cívico, até porque o seu património político é mais do que isso. Estamos enganados?

As eleições autárquicas são uma questão de cidadania. Neste momento, tenho quase duas dezenas de pessoas que querem concorrer pelo país adentro e me vêm pedir apoio, e decidi que vou apoiar, e para 2020, para as autárquicas, não é preciso ter partido.

A proposta do Governo e o projecto da UNITA vão começar a ser discutidos, na Assembleia Nacional, a partir do dia 18 de Abril, qual é a influência que tem, neste momento, nos oito deputados independentes que estão no parlamento e que vão participar nesse debate?

Porquê oito? A Assembleia tem 220…

E como é que chega lá?

É estabelecendo pensamento, expondo ideias, e qualquer cidadão, que é deputado, pode avaliar, se forem úteis para o país, pode abraçar essas ideias, e não são só oito, são os 220.

Para além do PODEMOS-Já, amiúde fala-se do Bloco Democrático (BD)?

Não tenho nenhum acordo com o BD. Provavelmente, haverá convergência de visão, de valores, de princípios. Provavelmente, não com todos dirigentes do BD. Já ouvi que alguns dizem que sou de direita, onde é que foram buscar essa ideia?

Então como é que se assume ideologicamente?

Há ideologias, hoje? Ou há valores, princípios…

… mas se repudia aqueles que o consideram de direita?

Porque não sou de direita, nem sei o que é isso. Do meu ponto de vista, a questão mais importante da vida humana é a liberdade, e isso é de direita ou de esquerda? O conceito que abarca a liberdade é a democracia, é o pluralismo, e isso é de direita ou de esquerda? A realização humana também é material, o que pressupõe que os países têm de lutar para desenvolver as suas economias, a única filosofia que cria riqueza é a liberdade e a economia de mercado.

A economia de mercado pode seguir por vários caminhos…

… deixem-me acabar. Liberdade, economia de mercado, democracia. Para um país pobre como o nosso tem de haver vocação social, temos de encontrar um enquadramento em que as pessoas possam fazer as suas opções, mas a máquina colectiva do Estado tem de ajudar os mais desprotegidos, puxar por eles. O Estado só é válido se for um Estado social, ou isso assusta-o, acha que é muito de esquerda? Não, a minha filosofia passa por ajudar as pessoas a ajudarem-se a si mesmas. É preciso dar oportunidades: escola, saúde, ao mesmo tempo que se cria um quadro para as pessoas lutarem por elas próprias, mas na vida há sempre as que ficam para atrás e o Estado tem de ir buscá-las.

Mas este país vive na ausência de um Estado Social, e falamos de um país onde a seca arrasta à fome e à morte os mais vulneráveis?

A maioria da população deste país é pobre, mais de 50% da população é pobre, se o Estado não entender isso não conseguirá ter a vocação para trabalhar para esses pobres. A minha percepção é que temos uma máquina governamental insensível, que não está preocupada com a realidade do país, e que não é de ontem, é ao longo de décadas. Por vezes pergunto-me se há um projecto de sociedade para este país. Se os movimentos de libertação lutaram, com mérito, o fizeram porque tinham um projecto de sociedade ou porque queriam correr com o colono e tomar o poder?

Devolvemos-lhe a pergunta…

… se tinham um projecto de sociedade, esse projecto deveria ter suplantado o projecto de poder, e não teria havido guerra civil, porque o objectivo era construir um país, mas como o projecto era poder, não se conseguiram entender.

E acha que os dois partidos tradicionais, MPLA e UNITA, já passaram para esse patamar, ou a necessidade que tem de intervir politicamente é porque acha que ainda não temos um partido político com um projecto de sociedade?

Se tivermos um projecto de sociedade, é fácil encontramos entendimentos, se tivermos somente um projecto de poder, é difícil o entendimento.

Tem noção que acabou de nos dar a razão pela qual saiu da CASA-CE?

Todas as motivações são legítimas, não podemos criticar aqueles que querem fazer política para terem um bocadinho de dinheiro, aqueles que fazem política para terem títulos, mas há uma outra dimensão, a que me anima, que é realizar o país, e está muito ligada ao facto de ter conhecido o país, município a município, ver, ouvir e partilhar, viver com as pessoas. Se não vê o sofrimento não se sente, passei por municípios onde cheguei à conclusão de que os cidadãos que vivem nesses municípios são heróis nacionais, porque se eu estivesse na condição deles, não aceitava ficar lá. Vi pessoas que, tecnicamente, desistiram da vida, não acreditavam em mais nada. Desistiram, não encontravam motivação para lutar pela vida. As instituições existem, mas não estão lá para acudir essas pessoas.

Essa força partidária em que irá congregar a sua missão, vai disputar o eleitorado da CASA-CE, o que é que o seu projecto político vai acrescentar?

Pensar Angola e Viver Angola

Esse slogan já foi da CASA-CE?

Será de todas as forças políticas que pensam e vivem angola, não nos que pensam nos cargos ou pensam nos trocos. Viver Angola é estar num gabinete na Assembleia ou é estar junto dos cidadãos?

Temos um Presidente diferente, como disse o José Eduardo Agualusa, o medo está deslocalizado, deixou a sociedade civil e passou para o interior do MPLA. O seu projecto era válido em 2012, o que é que vai acrescentar em 2019?

Como cidadão sinto-me feliz por termos um Presidente mais aberto, menos formal, mas como cidadão também me pergunto: os angolanos deixaram de ser pobres? As crianças têm escolas? Nos hospitais temos remédios? Temos saúde pública adequada? Temos saneamento básico? As pessoas, nos bairros têm água? Angola qualitativamente, mudou?  VANGUARDA

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