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Quinta, 03 Abril 2014 21:38

Linhas soltas sobre uma frente moribunda

Há dias um dos meus companheiros das lides jornalísticas gritou comigo quando lhe disse que deveria escrever algo mais sobre a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), depois de ter tido acesso ao último acórdão do Tribunal Constitucional sobre este partido.

É que algumas vezes desabafei que não me aprazia voltar a tocar neste ninho de marimbondos que um dia foi uma das mais influentes formações políticas, sobretudo antes da independência do país, por ser um poço insanável de problemas.

Tudo por culpa da sua conturbada situação interna, algumas vezes alimentadas pelas (in)decisões dos tribunais, que colocam os seus responsáveis e principais aspirantes aos lugares cimeiros numa espécie de jogo do gato e o rato.

Em 2008, o mesmo Tribunal Constitucional decidiu que Ngola Kabangu, o apontado delfim de Holden Roberto, se apresentasse no pleito eleitoral como líder desta formação. Mas, quatro anos depois, foi a vez de Lucas Ngonda fazer o mesmo papel, que o catapultou ao posto de deputado à Assembleia Nacional.

É o mesmo líder que à saída de uma audiência que lhe foi concedida há poucos dias pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, defendeu à comunicação social o afastamento dos seis membros do Comité Central e do Bureau Político do seu partido, apesar dos atropelos que tinha efectuado aos estatutos da mesma formação.

Agora, o seu porta-voz, Ndonda Nzinga, veio a terreiro anunciar a readmissão dos então afastados, admitindo implicitamente o erro do seu presidente.

Seis anos depois da morte de Holden Roberto e uns poucos como presidente da formação que este dirigiu durante algumas décadas, tudo indica que os desígnios reformistas então defendidos pelo sociólogo Lucas Ngonda não vingaram a ponto de dar à FNLA uma outra postura, longe daquela com que muitos cidadãos angolanos, e não só, a identificam, a de um partido envelhecido e prestes a sucumbir.

É que se anteriormente os seus adversários pareciam ser unicamente as teses conservadoras e os seus defensores Holden Roberto, Ngola Kabangu e outros, o tempo tem vindo a mostrar o contrário. Foi já sob o seu consulado que jovens como o então porta-voz Laiz Eduardo decidiram sacudir o capote, rumar para outras paragens políticas, e outros, como os seus confrades reformistas Miguel Pinto e Paulo Jacinto estavam prestes a ser afastados, compulsivamente, não fosse a ‘benevolência’ do Tribunal Constitucional para travar os intentos do homem a quem um dia terão jurado fidelidade.

Sempre tive a convicção de que os problemas na FNLA tinham sido mal resolvidos, apesar da concertação que houve entre as duas partes (conservadores e reformistas) no dito Congresso da Reconciliação, realizado na Filda, em Luanda, que acabou por afastar ainda mais os desavindos.

E um dos males terá sido o afastamento coercivo de Holden Roberto, através dos acordos da Pensão Invicta, que num dos pontos obrigava que o velho largasse a presidência 10 meses depois e a entregasse ao então vice-presidente Lucas Ngonda.

Tratou-se de uma fórmula supostamente consensual que coarctava a possibilidade de um dos subscritores, no caso o octogenário Holden Roberto, que ainda dizia ter forças para o efeito, poder concorrer num pleito esperado como democrático com um adversário mais novo, no caso Lucas Ngonda, que acabou indicado 1o vice-presidente, seguido por Ngola Kabangu, 2º vice-presidente.

Quase 10 anos depois do Congresso da Reconciliação, que ocorreu em Outubro de 2004, mantenho intactas as minhas convicções. Se a partir deste conclave fosse possível eleger nas urnas um líder, que fosse reconhecido por todos os delegados presentes, o destino da FNLA seria outro e não este cheio de atoardas que nos chegam todos os dias através da comunicação social. Algumas até patrocinadas pelo próprio líder, como a decisão que foi contrariada pelo Constitucional.

O PAIS

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