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Segunda, 19 Janeiro 2015 21:35

Portugueses, "chave" na economia e administração em Angola

Não fora o diminuto conhecimento (pior ainda, a falta de discernimento) com que em Portugal se olha hoje em dia para as realidades africanas, também manipuladas ou distorcidas nos redemoinhos dos jogos da política doméstica, não fora isso e seria difícil entender essa espécie de fixação que ciclicamente apresenta a comunidade portuguesa em Angola como estando sob uma ameaça qualquer.

As autoridades angolanas querem pôr uma pedra sobre a ideia de uma parceria estratégica com Portugal? É claro que isso há-de equivaler ao “recambiamento” de pelo menos parte da comunidade. A queda do preço do petróleo vai obrigar Angola a entrar num período de vacas magras? Aí, é a porta de saída que se abrirá a muitos portugueses, mandados de volta a casa.

As cartilhas em que se inspiram as lutas político-partidárias em Portugal, parece ensinarem que a emigração e o desemprego são fatalidades do melhor que há para “virar” contra o Governo e a direita que o apoia. Emigrar adquiriu a categoria de um castigo que se vai cumprir algures. O desemprego é uma espécie de vilania exercida sobre pessoas perante as quais o Estado e os patrões falharam, ao não garantir “direitos” como o pleno emprego.

Emigração e espectro do desemprego estão sempre presentes nas explorações, tantas vezes tendenciosas, que políticos, comentadores, jornalistas e oficiais de outros ofícios habitualmente fazem do assunto da comunidade portuguesa em Angola. O que simplesmente se nota nas suas tiradas não costuma aboná-los em termos de rigor e realismo.

A comunidade portuguesa em Angola, predominantemente constituída por quadros técnicos, médios e superiores, bem como por pessoal especializado em múltiplos ramos de actividade, adquiriu importância-chave no funcionamento da economia e da administração; o vácuo a que a sua partida ou a sua redução drástica dariam lugar seria, no actual quadro, trágico para Angola.

A queda do preço do petróleo já reduziu a quase 2/3 as receitas petrolíferas – em bom rigor a fonte quase única de recursos aplicados em domínios como o investimento interno ou a importação de bens e serviços. O investimento pode abrandar e a importação de bens há-de seguramente ser restringida. Mas a importação de serviços “jamais”, pelo menos a curto prazo.

A importância do serviço que a comunidade portuguesa presta a Angola (redobrada num ambiente de diversificação da economia), advém de factores como as suas próprias competências técnico-profissionais e/ou afinidades com o meio local, entre as quais a linguística. O factor das competências é especialmente realçado pelas agudas carências que Angola apresenta em termos de recursos humanos qualificados.

Os portugueses, cada vez mais espalhados pelo território, apresentam também a vantagem de serem os estrangeiros que gozam de melhor aceitação entre a população angolana, em geral. O fenómeno é também remetido para sua maneira de ser “mais sociável”, bem como para uma ideia generalizada de utilidade associada às actividades que desenvolvem.

É atribuído a um alto responsável angolano um desabafo segundo o qual, nos seus quase 40 anos de independência, Angola conheceu “levas” de estrangeiros que com múltiplas roupagens (internacionalistas, cooperantes, simples especialistas, etc.) vieram para ajudar. O balanço favorável aos portugueses – desabafo dixit – deve valer para alguma coisa, sobretudo num momento como o presente.

Por Xavier de Figueiredo

AM

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