Terça, 24 de Junho de 2025
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Sexta, 21 Fevereiro 2025 11:45

A exclusão de Zelensky das negociações entre Rússia e Estados Unidos na Arábia Saudita

A exclusão do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky das negociações ocorridas recentemente entre e o chefe da diplomacia Russa (Sergey Lavrov) e Secretário de Estado dos Estados Unidos da América (Marco Rubio) na Arábia Saudita pode ser analisada sob diversas perspectivas das Relações Internacionais, destacando tanto a lógica realista quanto as dinâmicas do jogo diplomático contemporâneo.

Na perspectiva do realismo clássico, baseado principalmente naquilo que constam as ideias de autores como Hans Morgenthau, enfatiza-se que as relações internacionais são guiadas pelo poder e pelos interesses nacionais dos Estados. Dito isto, a ausência de Zelensky nesta negociação reflete o facto de que, no xadrez global, as grandes potências (Rússia e EUA) priorizam os seus próprios interesses estratégicos acima das considerações e aspirações dos actores menores.

Assim sendo, a Ucrânia, apesar de ser o epicentro do conflito, não possui o mesmo peso geopolítico e militar que os EUA e a Rússia. Este facto leva-nos a considerar que decisão de negociar sem a presença de Zelensky pode indicar que Washington e Moscou veem a guerra como apenas um problema que pode ser resolvido dentro da lógica da política das grandes potências, independentemente das aspirações de Kiev.

Outro sim, é que a escolha da Arábia Saudita como o local para a realização das negociações é também reveladora e curiosa. Isto porque a Arábia Saudita tem buscado se posicionar como um mediador global, explorando sua crescente autonomia estratégica e relações com os dois lados do conflito. Essa postura se encaixa na teoria do neorrealismo defendida por Kenneth Waltz, onde este ilustra a ideia de que os Estados médios tentam equilibrar relações entre grandes potências para aumentar a sua influência na geopolítica global.

Portanto, o desfecho dessas negociações pode acabar tendo reflexos não muito positivos na política internacional. Isto porque a exclusão de Zelensky reforça a visão de que a ordem internacional ainda é amplamente dominada pelas grandes potências, desafiando as narrativas de um mundo multipolar mais equilibrado emergente.

Para a Rússia, isso pode ser visto como uma vitória diplomática, pois o presidente Putin tem sido bastante enfático ao afirmar que a guerra não será e não pode ser resolvida exclusivamente nos termos da Ucrânia.

Por outro lado, a decisão de negociar sem Kiev também pode gerar resistência dentro da própria Ucrânia e entre os aliados mais duros contra Moscou, como os países bálticos e a Polônia, que podem interpretar essa movimentação como um indício de um apaziguamento ocidental em relação à Rússia.

Essa escolha sugere que Washington e Moscou podem estar explorando caminhos para um eventual acordo sem a interferência direta da Ucrânia, o que pode alterar significativamente a dinâmica da guerra. A grande questão que permanece é se esse movimento levará a um cessar-fogo negociado ou se aprofundará mais ainda as divisões dentro da aliança ocidental, aumentando o isolamento diplomático da Ucrânia. Juvenal Pelo Quicassa

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