Em Moçambique, onde antigos guerrilheiros, a saber, Chissano e Guebuza chegaram a desempenhar a função honrosa de chefes de Estado e estão vivos, ao lado de outras figuras muito respeitadas desses tempos de luta anti-colonial, parece ter-se avançado um pouco na ideia de que deve ser admitida e fazer morada a possibilidade de alternância, pelo menos, dentro das próprias hostes frelimistas. Já em Angola persiste, no seio do MPLA, a ideia de que ao líder tudo é permitido, incluindo “deixá-lo trabalhar”, até a extenuação das suas forças, para lá dos mandatos estabelecidos constitucionalmente, independentemente, até, dos resultados da sua governação e outros tipos de comportamento. Por isso não temos qualquer antigo presidente sobrevivo.
Mas, ainda assim, temos toda uma plêiade de experimentados estadistas angolanos, que nos vieram dos tempos da guerrilha e da luta clandestina nas cidades, em nome do ideário da independência, a perfazer 50 anos, no próximo ano. Pois, não poderíamos, então, cá e lá, ver esses, alguns um pouco mais velhos do que eu, participarem no salto que deve ser dado para a continuidade da sua luta, nestes outros tempos?
Em Moçambique, que comecei por elogiar, por alguns passos dados na FRELIMO, a que juntarei a instituição das autarquias locais, ontem houve um assassinato de nos arrepiar até às medulas, porque se insiste em processos eleitorais opacos. Tudo, aparentemente, para inviabilizar qualquer tipo de alternância, fora da FRELIMO. Bom em Angola, por estes dias, estamos à (des)espera que o Presidente João Lourenço e seus assessores (alguns já foram assessores de JES!) consigam o prodígio de manifestarem mais uma vez uma verdadeira falta de pudor, dentro do MPLA, ao retirar um dispositivo nos Estatutos, que os mesmos impuseram ao seu antecessor, só que agora contra a Constituição e os próprios Estatutos.
Se isso não desse qualquer tipo de mordidelas a ninguém, não haveria problemas. Mas este tipo de situação, em que antigos movimentos de libertação nacional, apagam todas as esperanças dos povos que “libertaram”, e inspiram suspiros de nostalgia pelos tempos coloniais, devia ser corrigida, pacificamente, antes da nossa partida.
Se o mundo actual não nos dá bons exemplos, é verdade, depois de tanto sofrimento causado aos nossos povos, é tempo para seguirmos alguns bons exemplos como (aqui na África Austral) o da África do Sul e Namíbia, em que é o movimento de libertação nacional que se submete às regras da sociedade libertada e não aquele que impõe regras unilaterais usadas em outros tempos. E, como disse uma vez: “Começar com uma justiça transicional”, alicerçada no reconhecimento do erro, no perdão e na reconciliação interna (dos partidos) e nacional.
Precisamos de correr para o Futuro.
Marcolino Moco