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Sábado, 13 Dezembro 2014 12:35

Eleições contra a democracia

Os países ocidentais são capazes de destruir totalmente um país para garantir a realizações de eleições.

As campanhas eleitorais, as assembleias de voto, as urnas, os gabinetes onde cada eleitor se recolhe para colocar uma cruzinha no boletim são tão importantes, que justificam agressões graves e barbaridades que só têm par quando o Homem vivia em estado selvagem.

A democracia é o único sistema reconhecido pelas super potências, ainda que nesses países haja graves atropelos aos princípios democráticos. Os aviões e as bombas da OTAN arrasam países inteiros para garantir aos seus povos um regime democrático. Quando está tudo em escombros, somados os mortos, feridos e refugiados, arranjam-se uns quantos partidos e avançam as eleições.

Os vencedores não têm povo para governar, não têm instituições a funcionar, as economias estão destroçadas e as infra-estruturas destruídas. Os impositores da democracia emprestam milhões, arranjam contratos para as suas empresas e trabalho para os seus desempregados e fica montado o circo. As guerras de imposição da democracia são muito proveitosas porque os beneficiários têm também que pagar as bombas, as armas, o aluguer dos soldados, dos aviões, dos navios de guerra e toda a panóplia de armamento necessário para destruir os velhos regimes. 

O problema volta à primeira forma quando as eleições entram na rotina. À primeira vez, fica tudo bem. Mas logo que há uma folga, os vencedores são postos em  causa e a guerra regressa, numa versão mais caseira que depois é baptizada de “guerra civil”. Em Angola nem sequer houve uma “primeira vez” de sucesso.  Nas primeiras eleições, logo os resultados foram postos em causa. E desde então, repetem-se as atitudes anti-democráticas dos perdedores.

É preciso que fique bem claro isto: quem concorre a eleições e conhecidos os resultados recusa a derrota, alegando a existência de fraudes, está a pôr em causa um dos mais importantes pilares da democracia. Basta recusar, uma vez, o resultado do escrutínio, para que as eleições nesse país fiquem manchadas para sempre com a suspeita da fraude. Porque se os perdedores de hoje ganharem amanhã, vão ser pagos com a “moeda” da fraude e assim o regime democrático perde credibilidade.O que está a acontecer em Moçambique é mais do mesmo. O candidato à Presidência da República derrotado ameaça com a guerra e exige um “governo de gestão” para poupar os moçambicanos aos horrores de um conflito armado. Quer transformar uma derrota esmagadora numa vitória. Depois de sucessivos desaires eleitorais, Dlhakama ainda não compreendeu que os moçambicanos não querem dar-lhe uma maioria parlamentar e muito menos elegê-lo para a Presidência da República. O embaixador dos EUA em Maputo já condenou a sua conduta política.

Mas há países europeus que estão em silêncio. Por alguma razão, a comunicação social portuguesa, quando os homens armados da RENAMO, antes das eleições, começaram a matar civis indefesos, fizeram uma festa. A RTP, canal oficial, até mobilizou um “enviado especial” que embandeirava em arco com os crimes das tropas de Dlhakama.

Este é o momento de encarar a sério esta questão. As potências ocidentais disseram às legítimas autoridades angolanas que deviam abandonar o socialismo e aderir à economia de mercado. O nossos sistema político tinha que adoptar os princípios da democracia representativa. As recomendações foram aceites.

Quem venceu as grandes batalhas pela Independência Nacional na planície do Ntó em Cabinda, em Kifangondo às portas de Luanda, no Ebo, Cuanza Sul, no Leste, Moxico e Lunda, no Triângulo do Tumpo, à vista do Cuito Cuanavale, não teme nada porque tem a confiança de todo um povo. Os derrotados que não respeitam os resultados eleitorais têm de ser penalizados por isso. E a pena mais leve é a interdição de continuarem a disputar eleições ou dirigirem partidos políticos. Basta de abusos e de chantagens. Quem defende a realização de eleições sabe que o primeiro dever dos concorrentes é reconhecerem a derrota quando perdem. Os vencedores têm de ser felicitados.

Em Angola temos partidos políticos que nem com o voto de protesto conseguem sair da insignificância. Esses não podem continuar a justificar os seus fracassos com fraudes que não existem. Os eleitores votam em consciência e dão a vitória em quem confiam. Alegar fraude é faltar ao respeito a todos os que votaram, mesmo quem votou nos perdedores. Os legisladores têm a obrigação de tomar medidas para acabar com estes ataques à democracia representativa. Caso contrário, um dia as eleições livres e democráticas vão ser pretexto para destruir a democracia. Olhemos para as ameaças em Moçambique.

Editorial do Jornal de Angola

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