Desde a última semana de Agosto de 2017, altura em que João Lourenço, ainda nas vestes de candidato à Presidência da República, manifestou o desejo de ser lembrado como o homem do “milagre económico”, a situação económica do país registou mais retrocessos do que avanços.
"O Presidente Agostinho Neto lutou e conseguiu a Independência para o nosso país, o Presidente José Eduardo dos Santos trabalhou para a paz e a reconciliação entre os angolanos, entre outras coisas de bem que fez, e a minha missão será melhorar a economia do nosso país. Se me permitem a expressão, sem querer ser muito sonhador, eu gostaria de passar para a história como o homem do milagre económico de Angola”, disse, na ocasião, prometendo “perseguir esse objectivo".
Estava-se no terceiro trimestre de 2017 e os números oficiais indicam que o PIB, naquele período, foi de 31.281,6 milhões de dólares, com os números totais do ano a fecharem nos 122,122 mil milhões de dólares. Seis anos depois, em 2023, o PIB terminou a valer 91.775,6 milhões de dólares, um decrescimento de 24,8%. Se comparamos o PIB do trimestre em que João Lourenço manifestou o desejo do “milagre económico” e o do segundo trimestre deste ano (o último consolidado) regista-se uma redução de 24,1%, passando dos já citados 31.281,6 milhões de dólares para os 23.737,5 milhões de dólares.
PAÍS MAIS ENDIVIDADO...
O país está, por outro lado, mais endividado do que estava em 2017. O stock da dívida externa pública, incluindo atrasados, por altura das palavras do então candidato João Lourenço, estava fixado em cerca de 44.180,8 milhões de dólares, tendo terminado o ano nos 43.390,6 milhões de dólares. Está agora (no segundo trimestre do ano) fixado em 47.916,6 milhões de dólares, depois de terminado 2023 em 49 mil 644,6 milhões de dólares.
No caso da dívida externa de curto prazo, os dados indicam um aumento de 50% do terceiro trimestre de 2017 ao segundo trimestre ano em curso. No tri- mestre em que João Lourenço projectou o "milagre" esta dívida estava avaliada em 3.670 milhões de dólares, estando agora fixada em 5.507,5 milhões de dólares.
Em termos percentuais sobre o PIB, o stock da dívida aumentou 15,1 pontos percentuais ao passar de 35,4% para 50,5% do PIB.
MENOS PROTEGIDO
Outro indicador que mostra que a missão João Lourenço fracassou até ao momento é o das reservas internacionais. As brutas estavam avaliadas em cerca de 19.710,4 milhões de dólares e a liquida em 16.039,9 milhões de dólares. Agora estão, respectivamente, fixadas em 14.450,7 milhões de dólares e em 8.943,2 milhões de dólares. Ou seja, as reservas liquidas recuaram 44,2%, apesar do preço do petróleo ser mais favorável à economia angolana agora. Em 2017, o petróleo estava a ser negociado abaixo dos 50 dólares, contra os actuais mais de 70 dólares, em termos médios. O volume das exportações tanto do petróleo como do dia- mante registou reduções. O petróleo passou de 146 milhões de barris, no trimestre do anúncio do "milagre" para os 96,8 milhões de barris no segundo trimestre deste ano, ao passo que o dia- mante, nos periodos em comparação, quedou dos 18,8 milhões para os 16,4 milhões de quilates. No que à taxa de câmbio diz respeito, o kwanza desvalorizou-se mais de 410%, face dólar. A moeda norte americana, na altura do 'sonho' de João Lourenço, estava a ser negociada por 165,9 kwanzas e no segundo trimestre do ano em curso terminou a custar cerca de 842,8kwanzas.
Já a taxa de desemprego aumentou de 24%, em 2017, para 32,4% em 2024.
O economista Heitor Carvalho entende que o Presidente João Lourenço não conseguirá o título de milagreiro económico, apesar de estimar que a economia ainda possa crescer nos últimos anos da sua presidência (ver entrevista). Valor Económico
