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Terça, 18 Outubro 2022 09:39

Por que não tivemos ainda um Presidente Intelectual

Por que a Angola, o país com um dos piores sistemas de educação pública e a menor concentração de doutores do mundo, não elege um Intelectual ou um académico Presidente da República?

Por Lazarino Poulson

Ao longo da história como País independente, Angola teve três Presidentes da República: Agostinho Neto (1975-79), José Eduardo dos Santos (1979-2017) e João Lourenço (2017…). Embora os três Chefes de Estados mencionados tenham formação superior nos seus currículos (Neto formou-se em Medicina, José Eduardo dos Santos em Engenharia e João Lourenço em História),nenhum deles vestiu a pele de um intelectual ou, no mínimo, de um razoável académico.

Nem mesmo Neto, com a sua “mediana” veia poética pode ser considerado um intelectual.

Curiosamente, também a nível da liderança do maior partido da oposição não encontramos intelectuais ou académicos na história da sua liderança: Jonas Savimbi (1966-2002), Isaías Samakuva (2003-2019 e depois 2021- 2022) e Adalberto Costa Júnior (2019-21 e depois 2022…). Apesar de serem “quadros superiores” e excelentes oradores, nenhum destes notáveis angolanos, é intelectual ou teve carreira académica.

O termo “intelectual” é empregue aqui no sentido de ser um indivíduo com elevados conhecimentos numa ou várias áreas do saber e que os tenha estruturado e publicado (divulgado).

O “termo académico” vai tomado no sentido da docência universitária, incluindo a produção científica ou académica.

Todos políticos acima referidos estão fora desta espectro.

Sem desprimor das qualidades dos visados, mas é pública e notória a falta que uma das vertentes indicadas (intelectual ou académica) faz às lideranças destes tanto no partido no poder (e, consequentemente no Estado) como na oposição.

Vale a pena destacar que deixamos de fora desta abordagem os intelectuais ou académicos que lideraram outras formações políticas ao longo da história de Angola, porque nunca tiveram hipóteses reais de chegar à Presidência da República.

Mas, por que alguns angolanos instruídos (intelectuais e académicos) deixaram -se liderar por não intelectuais (e não académicos) que levaram o país ao abismo?

Em primeiro lugar, os angolanos tinham perdido a fé no sistema político colonial. A luta de libertação nacional e o processo de descolonização não correram bem, com resultados que muitos não esperavam. Houve muitas disputas internas entre os intelectuais nos movimentos de libertação nacional. Muitos intelectuais foram eliminados e ou afastados (alguns foram presos e mortos) antes e depois da independência nacional, com destaque para os acontecimentos como a “Revolta Activa” e o “ Fraccionismo”.
Se a elite intelectual do MPLA “guerreava-se” entre si, a da UNITA não ficava atrás. Sobretudo no período pós independência há relatos de “purgas internas a nível dos intelectuais” do antigo movimento de libertação nacional feito guerrilha e hoje transformado em maior partido da oposição.

Em segundo lugar, Jose Eduardo dos Santos, com a herança do terror provocado pelo 27 de Maio, teve a vida facilitada para frear o ímpeto de qualquer intelectual que ousasse desafiar a sua liderança. A guerra fratricida e o modelo “socialista/comunista” (que não permitia as liberdades e a democracia) formaram a “tempestade perfeita” que impediu à ascensão de um intelectual na liderança do partido no poder e no Estado.

Em terceiro lugar, “domesticados”, os intelectuais e académicos no espectro do regime do MPLA só poderiam almejar cargos abaixo da liderança do Partido e do Estado.
Mais do que um tabu, os intelectuais submeteram -se a auto-censura, e tal como em qualquer regime autoritário passaram apenas a servir o líder.

Em quarto lugar, apesar da conquista da paz, em 2002, permitir uma certa abertura política, não vimos nenhum intelectual ou académico “irromper das trevas” para desafiar a liderança do “Chefe”. O pesado fardo histórico de perseguição aos intelectuais, o regime assistencialista que deu azo a corrupção e a falta de coragem dos intelectuais que não deixaram -se macular pela podridão do regime, não habilitou o surgimento de um candidato com este perfil.

Como se vê, as únicas forças políticas com vocação de poder até ao momento em Angola — o MPLA e a UNITA nunca tiveram nas suas lideranças nem nunca apresentaram um intelectual ou um académico como candidato à Presidência da República.

Aqui trazidos, coloca-se a questão de saber se é importante que Angola tenha um intelectual ou um académico na Presidência da República?

A resposta é afirmativa. É muito importante que o próximo Presidente da República seja um intelectual ou um académico. Dizemos mesmo, sem pestanejar, que a necessidade que Angola tem de ter um intelectual na sua liderança é a mesma que “o pão para boca”.

E as razões que leva -nos a defender esta tese são as seguintes:

i. O Intelectual (ou o académico) é um indivíduo com e comprometido com o conhecimento

ii. O Intelectual, em rigor, prima pelo diálogo e pelas soluções científicas e técnicas (tecnológicas)

iii. O Intelectual tem a mente treinada que permite-lhe absorver melhor os conselhos de outras áreas do saber que não a sua

iv. O intelectual se não tem visão adopta a do visionário

v. O intelectual ou académico de gema é humilde quando não sabe e mais ainda quando sabe.

vi. O Intelectual ou académico está habituado às críticas e delas se serve para a busca de soluções

vii. Em regra, o intelectual ou académico está próximo do perfil de um líder

Angola precisa oferecer-se a si mesma uma liderança intelectual ou académica para sair da mendigância actual e franquear as portas do conhecimento e da prosperidade.

Até ao surgimento do nosso candidato presidencial intelectual ou académico, alea jact est…

• Na Veste Política

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