"A violência política não é rara em Angola e tem havido um aumento notório dos protestos contra o Governo e agitação desde 2020", escrevem os analistas num comentário aos confrontos de sábado em Sanza Pombo, no Uíje, entre apoiantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) e o principal partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
"Em Sanza Pombo, as forças de segurança parecem ter escolhido um lado e isto é provável que aconteça noutros locais, já que a linha entre o partido e o Estado muitas vezes confunde-se em Angola; o governo de João Lourenço vai provavelmente usar e abusar de recursos estatais para garantir a vitória, e os partidos da oposição vão ter dificuldades em fazer campanha", lê-se no comentário enviado aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
Na análise, a Oxford Economics Africa diz que "por várias vezes o descontentamento tem sido direcionado contra o MPLA, mais recentemente em Luanda, em 10 de janeiro, quando uma delegação do MPLA na capital foi vandalizada durante um protesto de taxistas", pelo que, com a aproximação das eleições de agosto e o aumento nas atividades de campanha, "aumenta a possibilidade de confrontos entre apoiantes rivais".
O Presidente João Lourenço deverá vencer as eleições presidenciais de agosto, de acordo com a previsão destes analistas, que estimam também que o MPLA mantenha a maioria na Assembleia Nacional, apesar de "a oposição dever capitalizar o descontentamento popular e com isso poderá ir erodindo o domínio do partido no poder".
A análise desta consultora surge no dia a seguir ao MPLA ter atribuído a responsabilidade dos confrontos à UNITA.
“Uma imagem vale mais do que mil palavras. Esse sempre foi o comportamento dos senhores da UNITA. Vejam o histórico e vejam de quem é esse comportamento. Os vídeos são mais do que evidentes”, respondeu o porta-voz do MPLA, Rui Falcão, à Lusa, instado a comentar a versão da UNITA, que culpa os militantes do partido no poder pelas agressões.
“O único comentário que nos merece é a nossa solidariedade para com as vítimas e o apelo às entidades policiais para que detenha os autores de tamanho crime e os encaminhe, tão rápido quanto possível, para as barras dos tribunais. Sejam quem forem, incluindo os autores morais”, acrescentou ainda o dirigente do MPLA, na terça-feira.
A UNITA tinha denunciado na terça-feira, em conferência de imprensa, em Luanda, a existência de "terrorismo de Estado e prisões arbitrárias" de 35 militantes do partido, na sequência dos conflitos.
As alegadas prisões arbitrárias de militantes do maior partido na oposição angolana, surgem no âmbito de confrontos, registados no sábado passado, supostamente com militantes do MPLA.
Segundo o secretário-geral da UNITA, Álvaro Chikwamanga Daniel, os incidentes registados no sábado, em Sanza Pombo, tiveram origem no seio de militantes do MPLA que "tentaram inviabilizar" um ato de celebração dos 56 anos do seu partido.
Nas redes sociais circularam imagens que retratam os incidentes de Sanza Pombo, que terão resultado também em feridos e na vandalização da emissora municipal da Rádio Nacional de Angola (RNA).
O secretário provincial da UNITA no Uíje, Félix Simão Lucas, apresentou, na ocasião, fotografias que retratam o confronto de sábado, com alguns feridos e danos materiais, referindo que o MPLA se sobrepôs ao ato da UNITA, previamente comunicado às autoridades.
Félix Simão Lucas deu conta que os ataques aos militantes da UNITA, supostamente protagonizados por membros do MPLA, começaram à entrada do município de Sanza Pombo, com barricadas nas estradas, e nas aldeias circunvizinhas onde os militantes do seu partido terão sido apedrejados.