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Quarta, 10 Junho 2020 21:16

Não se pode combater a corrupção fazendo corrupção

O MPLA vive hoje uma de suas piores fases desde que o qual terá aparecido na face da terra, tão pior que 1974 onde se desenvolvia a famosa revolta activa, tão pior ainda que 1977 onde a chacina do 27 de Maio soube levar milhares de vidas à casa dos que vão e jamais regressam.

O MPLA ficou completamente deitado no descrédito, fruto de uma política de cisões internas impostas por João Lourenço enquanto actor máximo da organização que dirige. Neste prisma, é imperativo despir – se das guerras que ladeiam o Partido e reconciliar o Partido antes que o qual tenha de desaparecer da face da terra.

Os camaradas questionam hoje as consequências da decadência do Partido oriundas da perseguição à certas figuras de proa da própria organização do MPLA, onde Eduardo dos Santos é o factor decisivo para o teor de tal conspiração partidária.

Começamos por identificar e reconhecer os impactos causados pelos erros da governação de João Lourenço e suas sequelas na actualidade, são interpeladas por um desejo de justiça completamente parcial, que se volta para o passado, esquecendo – se de tudo quanto tem vindo à ser praticado aos nossos dias.

O reconhecimento das discriminações e traumatismos contra figuras eduardistas surgem como uma necessidade de se ter em conta duas dimensões temporais: de um lado os traços do passado traumático e de outro, o peso presente deste passado não assumido, não reconhecido e não rememorado, afinal de contas, o peso histórico dos feitos de Eduardo dos Santos é muito maior que as circunstâncias inacabadas hoje vividas em Angola.

Aqui se encontram a necessidade obrigatória das temáticas do perdão e da memória. As políticas do perdão remetem a um conjunto de discursos e dispositivos políticos que visam não apenas o reconhecimento dos actores políticos que sofreram directa ou indirectamente a violência do Estado injusto contra as suas propriedades e o seu juízo, mas que apontam também para um dever de justiça plena, imparcial, uma reparação de certas personalidades traumatizadas pelas guerras grupais impostas sob cunho de uma única vontade política, uma restituição material e uma reconciliação verdadeira, não uma reconciliação parcial, não uma reconciliação verbal que pauta por perdoar alguns enquanto se continua a fazer de Isabel dos Santos o alvo de todas as acções, mas uma reconciliação global.

Em 2002 após morte em combate de Jonas Savimbi JES deu um exemplo de humanismo universal, fazendo recuar a hecatombe que estava prestes à instalar – se nas matas do Moxico, deu ordem ao General Armando da Cruz Neto para que se poupassem as vítimas dos conflitos armados incluindo – se soldados e se pudesse pôr em acção um vasto plano de reconciliação nacional que havia sido adiada desde que Angola surgiu enquanto nação.

Mas o inverso não tardaria se Eduardo dos Santos não fosse um homem dotado de um coração bondoso e sensato, um líder fino que primou sempre por actos menos agressivos que pautassem por uma via pacífica e não na força, se fosse um outro líder em frente dos destinos de Angola, nem sequer se falaria da penumbra emitida pelo corpo dos dirigentes da UNITA, nada deixariam de rasto na face da terra, o humanismo de Eduardo dos Santos tirou do perigo mortal milhares de populares que encontravam – se sob custódia da UNITA.

É neste aspecto em que mostra – se o forte impacto da reconciliação, um acto que poupa vidas em qualquer das circunstâncias. Não obstante, o que hoje se assiste no seio do regime do MPLA é um verdadeiro acto de barbárie política onde se transforma um Patriota que tudo deu à nação à um monstro, onde João Lourenço tem a coragem de prender o filho de quem o deixou o poder, e perseguir de todas as formas a filha de quem fez o tudo para que o poder não deixasse cair às mãos de outrem.

Jacques Derrida se debruçou sobre a “mundialização do perdão e da reconciliação política” para tentar entender como a linguagem do perdão e da reconciliação que tem sua origem na tradição hebraica e que é, primeiro, uma linguagem sagrada, tomou conta da cena política mundial e serviu de ponte de ligação entre inimigos ateus que desconhecem da existência de Deus de Abraão como é o caso dos japoneses.

Essa transposição de linguagem gerou uma certa confusão entre a ordem do perdão e a ordem da justiça. Todos os crimes seriam merecedores do perdão? Quem está apto a pedir perdão e a perdoar? Uma instituição do governo como o Executivo de João Lourenço, por exemplo, poderia perdoar os crimes cometidos durante a governação de Eduardo dos Santos em Angola? O representante do Estado pode julgar, mas teria ele o poder para perdoar ou pedir perdão em nome da nação?

Mesmo sendo o perdão um princípio supra-humano e transpolítico, o facto é que ele se tornou um princípio, uma regra e uma tomada de posição política no mundo inteiro. Sendo João Lourenço um homem que fez parte da governação de Eduardo dos Santos, tendo assumido inúmeros papéis decisivos no seu governo é ilógico que o mesmo se julgue inocente como um anjo vindo dos céus para governar, aliás, João Lourenço foi um dos principais responsáveis de todo acto de vandalismo que o estado viveu no passado, ninguém é tão bebê ao ponto de passar um apagador na memória do passado como se fosse uma pessoa vítima de uma amnésia anterógrada, é cedo demais para João Lourenço excluir – se de toda corrupção que tenha acontecido no País.

Desde logo, João Lourenço não tem moral para perseguir o clã dos Santos, deveria sim perdoar os erros dos seus colaboradores, aliás, ele é um dos tantos que fez parte do circuito de corrupção que tenha tomado conta do País no passado. A problemática do perdão envolve a da culpabilidade e da reconciliação com o passado. O perdão é difícil de dar, de receber, mas também de conceber.

A existência do perdão pressupõe um sentido, se constituindo num horizonte comum da história, da memória e do esquecimento. Quem esquece – se do seu próprio passado, nega a sua própria história, quem nega a sua história, nega a sua própria cultura, quem nega a sua cultura, nega a sua própria etnia, quem isso faz, nega – se a si próprio, talvez, seja um apátrida, e, desprovido de honra e de princípios cívicos que impõem uma convivência sã em sociedade.

João Lourenço não deve se esquecer de que tenha feito parte de toda ladroagem que decorreu no País que o grau de inocência inexistente em si, e que sempre pesou – lhe os outros não passa de um fumo certo para enganar os desatentos.

João Lourenço foi um dos pilares centrais da roubalheira que percorreu a nação no passado, razão pela qual, defende com dentes e unhas grandes corruptos do passado que encontraram às suas costas um lugar para se afugentar, não é verdade que João Lourenço queira de forma violenta atirar – se contra Isabel dos Santos que tem menos de 4 biliões enquanto protege Manuel Vicente com mais de 60 biliões e Álvaro Sobrinho “o homem que orquestrou a pior pilhagem da história da roubalheira em Angola que terá ocorrido no BESA.

O estado de coisas vivido hoje em Angola feito na massiva corrupção do Executivo de João Lourenço prova que João Lourenço não é um estudante de corrupção é um professor que aprendeu bem as lições do passado, não tendo moral para perseguir Isabel dos Santos enquanto se assistem variados desvios no seu próprio regime seria imperativo que viesse ao público pedir em nome do perdão uma amnistia aos crimes económicos cometidos desde 2012 à 2017 e pudesse dar ordem à marcha de uma Angola sadia, onde a corrupção não viesse encontrar espaço, nem sequer pudesse fazer eco.

Bem – haja!

Por João Henrique Hungulo

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