A DNIC fez o desmentido durante uma conferência de imprensa realizada no cine-clube da cidade do Soyo, província do Zaire. A polícia de investigação criminal disse que o indivíduo que se fez passar por defunto, é cidadão da República Democrática do Congo (RDC), identificado por Makubama Beka, também conhecido por Tsadó, de 28 anos, pertencente a uma seita religiosa daquele país conhecida por “Bundo dia Kongo”.
O director Provincial da DNIC no Zaire, superintendente-chefe Oliveira da Silva, explicou que o suposto reaparecimento físico ou ressurreição do falecido Samuel João Inês, morto por acidente de viação, “não corresponde à verdade", mas tratou-se de “uma mentira planeada" pelo padrasto e a mãe do malogrado, com o objectivo de criarem uma seita religiosa e ganharem dinheiro.
“O suposto reaparecimento físico do falecido Samuel João Inês, que morreu há cerca de dois anos por colisão de duas motorizadas, não corresponde à verdade. Era uma astúcia planeada pelo padrasto, Fernando Alfredo Isabel, e pela sua esposa Inês João Maria, para obterem lucros fáceis. Para isso, propuseram a Makubama Beka ser pastor e abrir uma igreja", disse.
O cidadão da RDC já está a contas com a Justiça, depois de deparar com os seus irmãos biológicos na posse de uma fotografia sua, e dos seus pais Beka Fingu e Tsamba Bakal, ambos da RDC e residentes na localidade do Boma. Makubama Beka, também conhecido por Tsadó, tido como ressuscitado, ao ver os irmãos, disse à DNIC ter sido ludibriado pelo padrasto de Samuel João Inês, no sentido de fazer-se passar pelo enteado falecido e assim abrirem uma seita religiosa, onde supostamente “iam curar milagrosamente diversas doenças".
O superintendente-chefe Oliveira da Silva pediu para se evitarem “práticas vergonhosas" que não levam a sociedade angolana a lado nenhum. “Vamos reflectir com os nossos mais velhos para em conjunto analisarmos este fenómeno e falarmos com os nossos líderes religiosos para evitarmos a prática desses actos que não levam a lado nenhum, pelo contrário, só prejudicam as pessoas e a sociedade".
O oficial superior da Polícia Nacional no Zaire disse que este tipo de comportamento fez o cidadão congolês democrático incorrer nos crimes de imigração ilegal e falsa identidade, tipificados no Código Penal e punidos com pena que vai de dois a oito anos de prisão maior.
As autoridades ainda aguardam os resultados dos exames de ADN em curso no Laboratório Central da Criminalística em Luanda, que podem ser divulgados a qualquer altura.
Conhecidos do infractor
O amigo e colega de trabalho do cidadão que se fez passar por ressuscitado, Cristopher Nsimba, 28 anos, confirmou terem-se conhecido no Soyo, na localidade do Nfinda-Nkunku, onde faziam a produção de carvão com mais duas pessoas. “Conhecemo-nos na mata do Nfinda-Nkunku, éramos quatro pessoas, incluindo o chefe do grupo. Deixei de o ver quando ficámos sem mantimentos lá na mata e cada um seguiu o seu caminho, no sentido de conseguirmos alguma coisa para a nossa alimentação e depois regressarmos no local de serviço, mas ele nunca mais voltou até que começámos a ouvir esta história e dias depois percebi que se tratava do meu amigo”, explicou.
Irmão desiludido
Já o irmão mais velho do suposto ressuscitado, Mavila Beka Michel, confirmou ser o irmão biológico de Makubama Beka, que se fez passar por morto ressuscitado no Soyo. “Sou o irmão mais velho dele, vivíamos em Boma, na RDC, como sabem a vida lá é difícil, fui o primeiro a ir para o Soyo. Eu faço trabalho de recauchutagem na rua da Cuca. Ele, quando veio para Angola, encontrou-me e passámos a viver juntos. Num dia, disse-me que também precisava de fazer algo, mas, ia produzir carvão, eu concordei e disse-lhe que era boa ideia ao invés de ficar sempre parado, e lá foi com seus amigos”, explicou. De acordo com Mavila Beka Michel, ao ouvir rumores de uma suposta pessoa que tinha ressuscitado dois anos após a sua morte, não acreditou e muito menos lhe passou pela cabeça que seria o seu próprio irmão que estivesse por detrás da referida história.
“Ganhei coragem depois de pessoas que o reconheceram me contarem a história, fui constatar, surpreendi-me ao ver que era o meu irmão menor que se passava por um defunto ressuscitado. Fiquei surpreso porque ele sempre foi uma pessoa religiosa".
Após a confirmação da identidade verdadeira do suposto criminoso pelos irmãos biológicos e da sua nacionalidade, os parentes maternos do falecido Samuel João Inês, nomeadamente a mãe, tios, irmãos e os avôs, continuam a acreditar ser o verdadeiro ente querido sepultado há dois anos, até que os resultados do ADN confirmem ou refutem os laços sanguíneos.
Jornal de Angola