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Terça, 22 Outubro 2013 22:26

Joaquim Oliveira critica "preconceito" contra Angola

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O presidente da Controlinveste afirmou hoje compreender "todas as preocupações do Presidente angolano" em relação a Portugal.

"Reconheço todas as preocupações do presidente angolano relativamente a isto. Nós, portugueses, não podemos ter o preconceito que sempre tivemos, mas vamos continuar a ter enquanto não houver alguém que ponha cobro a isto", afirmou Joaquim Oliveira à margem da conferência "Empresas na Caixa", organizada no Porto pela Caixa Geral de Depósitos em parceria com o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Dinheiro Vivo e TSF, do grupo Controlinveste.

O presidente do grupo de media português comentava a actual tensão diplomática entre Portugal e Angola, que levou o Presidente angolano a anunciar, na semana passada, a suspensão da parceria estratégica que pretendia criar com Lisboa.

Na base desta tensão estão notícias relativas a investigações do Ministério Público português a altos dirigentes angolanos, com base em indícios de fraude fiscal e branqueamento, que recentemente levaram o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, a pedir desculpa a Luanda pelas investigações do Ministério Público, declarações que provocaram polémica em Lisboa e levaram a oposição a pedir a sua demissão.

Defendendo que "não é bom para a economia portuguesa continuar todos os dias a duvidar da credibilidade dos angolanos", o empresário - que é apontando como estando a negociar com interesses angolanos a venda da Controlinveste - considerou não estar em causa qualquer "quezília" entre Portugal e Angola.

"Não acho que haja quezília nenhuma com o presidente José Eduardo dos Santos. Acho que Angola tomou uma posição relativamente às fugas de informação em Portugal, em que todos os dias se torra nos jornaiso nome honrado das pessoas", sustentou.

A este propósito, o presidente da Controlinveste disse "não perceber a teoria dos portugueses relativamente ao dinheiro de Angola, porque não deve ser diferente [do] dos russos, dos chineses ou dos árabes".

"Lá por ser primo do príncipe ou de um 'sheik' qualquer pode vir-se para Portugal e comprar tudo. Por ser russo ou chinês chega-se aqui e, por 500 mil euros, compra-se quase a nacionalidade portuguesa, e os angolanos vêm para Portugal ...", disse, interrompendo a frase para considerar "um escândalo o procurador-geral de Angola ser sujeito a estar a ser arguido (como se consta) por causa de 70 mil euros".

Questionado pela agência Lusa sobre as negociações alegadamente em curso com vista a uma nova estrutura accionista da Controlinveste - e que, segundo tem vindo a ser noticiado, prevêem a entrada no capital do empresário angolano António Mosquito e da banca - Joaquim Oliveira disse não ter "rigorosamente nada para dizer".

"Não tenho rigorosamente nada para dizer sobre negociações. Há meses consecutivos que ando a ouvir contar nos jornais e meios de comunicação social negócios com angolanos que nunca se concretizaram. Eu nunca falei, nunca disse nada. Nunca vi nenhum angolano dizer que estava interessado em comprar ou em vender", disse, acrescentando: "Tenho os negócios normais com os angolanos, sempre tive e vou continuar a ter".

"Portugueses gostavam de ver Vale e Azevedo estraçalhado em Angola?"

Exemplo é dado por Nuno Morais Sarmento, que compreende o descontentamento angolano em relação à violação do segredo de justiça em Portugal.

O social-democrata Nuno Morais Sarmento pergunta se os portugueses também gostavam de ver um cidadão nacional ser condenado na praça pública em Angola e dá o exemplo de Vale e Azevedo.

“Vamos pegar em alguém que foi condenado, aparentemente, em trânsito em julgado nalguns processos, o doutor Vale e Azevedo. Eu, se visse o doutor Vale e Azevedo a ser estraçalhado na praça pública em Angola, nos jornais, nas televisões, no que se dissesse que ele tinha feito ou não tinha feito, eu chegava a uma altura e acho que reagia, como qualquer português, e diria: calma, o homem é português, deixem lá nós tratarmos disso, tratem da vossa vida em Angola, deixem-nos lá tratar disto”, afirma o antigo ministro da Presidência, no programa “Falar Claro” da Renascença.

“Percebo, e acho estranho que não percebamos todos, que os angolanos também não devem gostar de ver um cidadão seu – e não é o doutor Vale e Azevedo, é o procurador-geral da República, é o vice-primeiro ministro – a ser objecto numa situação de processo em segredo de justiça, sem que haja qualquer fundamento ainda, ele seja condenado na praça pública”, sublinha.

Nuno Morais Sarmento elogia a nova procuradora-geral da República em matéria de defesa do segredo de justiça e considera que, com excepção do executivo de António Guterres, este é o Governo “mais insensível em relação aos temas africanos dos últimos 20 anos”. Soma-se insensibilidade a falta de estratégia do Governo para a África, frisa.

O social-democrata adverte que “há pessoas e países que querem aproveitar este desencontro entre Portugal e Angola para diminuírem esta relação entre os dois países e, porventura, assumirem maior protagonismo”. “Penso que nos cabe a todos agora contribuir para que isto seja ultrapassado e para que as relações se normalizem”, defende.

O socialista Vera Jardim destaca o facto de os dois países estarem unidos por um “interesse mútuo”.

“Do lado angolano, há que compreender que a justiça tem e faz o seu papel, segundo as regras do Estado de Direito, também pode haver processos contra portugueses em Angola e nós teremos que aceitar que existam processos, se houver razões para isso. Lamentável lá é que, mas isso é lamentável de um modo geral, que saiam notícias de processos sem haver arguidos ou pelo menos acusações”, afirma o antigo ministro da Justiça.

Orçamento e fiscalização

A proposta de Orçamento do Estado para 2014 foi outro dos temas em análise no programa “Falar Claro” desta segunda-feira.

Nuno Morais Sarmento espera que o Presidente da República, Cavaco Silva, tenha “particular cuidado” e “seja ainda mais restritivo” na fiscalização do Orçamento, sob pena de a “troika” ficar mais tempo em Portugal.

Numa leitura das últimas declarações do Presidente, Vera Jardim conclui que Cavaco Silva só vai pedir a fiscalização sucessiva do Orçamento para 2014.

Em relação às medidas de austeridade mais polémicas, a convergência dos sistemas de pensões e os cortes nos salários da função pública, o social-democrata Nuno Morais Sarmento diz que faziam parte do memorando inicial assinado pelo Governo socialista de José Sócrates.

Para o social-democrata, o PS está à espera que “a rua se incendeie”, mas o consenso social tem sido uma grande lição que os portugueses estão a dar à “troika”, ao Governo e ao Partido Socialista.

Na resposta, Vera Jardim diz que “não quer incendiar rua nenhuma” e o líder do PS, António José Seguro, “também não quer”. Mas a UGT, por exemplo, tem uma posição diferente hoje face há seis meses, salienta.

RR

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Last modified on Terça, 22 Outubro 2013 20:45