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Sábado, 19 Abril 2014 11:42

Angola ajudou países africanos em dificuldade com mais de 260 milhões

Lista inclui República Centro Africana, Cabo Verde, Guiné Bissau, S. Tomé e Príncipe, Guiné Conacri e Zimbabué.

Angola desembolsou, nos últimos três anos, mais de 35 mil milhões de Kz (360 milhões de dólares e 260,2 milhões de euros) no apoio a algumas nações africanas em dificuldade. O dinheiro tem sido outorgado em forma de doação ou abertura de linhas de crédito.

Para além da República Centro-Africana (RCA), a quem Angola doou recentemente 10 milhões de dólares (7,2 milhões de euros e mil milhões de Kz), Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Guiné-Conacri e Zimbabué beneficiaram igualmente de dinheiro angolano.

É o resultado do facto de nos últimos anos Angola se ter tornado numa plataforma giratória da política africana, da qual alguns países em conflito ou em dificuldades têm procurado os "bons ofícios" para a resolução dos seus problemas internos. O facto tem demonstrado a importância do País na região centro-austral de África, onde pretende firmar-se como líder. Angola é a segunda maior economia da SADC - Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral - logo a seguir à África do Sul, o gigante económico do continente.

No entanto, a afirmação e a liderança que Angola persegue têm custado "caro" aos seus bolsos, pois o prestígio e o poder não se exerce sem capital. A influência que o País pretende a nível do continente é uma das razões das ajudas e empréstimos aos países em dificuldade, defenderam alguns analistas. Ou seja, o poder não se projecta apenas com diplomacia e políticas, conforme assinalou ao "Expansão" o especialista em relações internacionais e docente universitário António Luvualu de Carvalho.

Voltando aos números, em Março a RCA beneficiou de uma doação de 10 milhões de dólares a título de apoio ao funcionamento das suas instituições para atenuar a crise humanitária.

Em Fevereiro, Angola e Cabo Verde assinaram, em Luanda, um acordo de financiamento de 10 milhões de dólares para apoiar projectos de infra-estruturação em curso naquele arquipélago. O documento foi rubricado pelo ministro das Finanças de Angola, Armando Manuel, e pela sua homóloga de Cabo Verde, Cristina Duarte, numa visita a Angola.

Na ocasião, a ministra das Finanças destacou que o protocolo visava apoiar a execução do programa de infra-estruturação, que inclui a expansão e modernização de seis aeroportos, redes rodoviária e de telecomunicações. Cabo Verde quer atrair, para além do investimento privado europeu, o africano, em particular o de Angola. O investimento angolano pode aumentar caso os empresários mostrem interesse na privatização da transportadora aérea cabo-verdiana (TACV), segundo Cristina Duarte.

Prosseguindo em português, em Dezembro de 2013 o Executivo concedeu uma linha de crédito a São Tomé e Príncipe de 180 milhões de dólares (130 milhões de euros.) A primeira tranche de 60 milhões seria para financiar projectos de investimento público local.

GUINÉ-CONACRI RECEBE 104 MILHÕES Mais distante no tempo, em finais de 2011, Angola comprometeu-se a emprestar 150 milhões de dólares (104,4 milhões de euros à Guiné-Conacri para financiar alguns projectos públicos.

Ainda em 2011 e durante mais de ano, Angola esteve na Guiné-Bissau ao abrigo de uma Missão Angola (MISSANG), que visou restruturar as forças armadas locais. Os números oficiais desta cooperação nunca foram conhecidos. Sabe-se apenas que a manutenção de perto de três centenas de militares e polícias naquele país, no âmbito da MISSANG, orçou em dez milhões de dólares. Desconhecido é também o valor do apoio que Angola terá prestado ao Zimbabué para as eleições gerais de 2013.

Luvualu de Carvalho salientou que se tratou efectivamente de um apoio solicitado à cúpula de chefes de Estado da SADC. "Sendo membro da organização, parece-me normal que Angola tenha apoiado aquele país que vivia um período conturbado fruto das sanções que haviam sido impostas pela Inglaterra e pela própria União Europeia", afirmou. Trata-se de um exercício diplomático e faz parte das relações internacionais, uma vez que o poder e a liderança que Angola persegue na região centro-sul de África envolvem também dinheiro.

Ainda no quadro das relações com estados africanos, Angola perdoou parte da dívida de Moçambique de mais de 70 milhões de dólares contraída nos anos 80, fruto da compra de petróleo, assim como a dívida de São Tomé e Príncipe.

Na opinião de António Luvualu de Carvalho, há duas questões importantes que se deve separar quando se aborda os apoios de Angola a outros países. Uma questão é directamente o Governo de Angola, como foi o caso da RCA, fazer uma doação, e outra é, por exemplo, a utilização de outros veículos económicos e financeiros para se fazer chegar o dinheiro a quem o acordou.

ONDE PÁRA A FISCALIZAÇÃO? O docente universitário salientou também que os fundos nacionais, que são dos seus contribuintes, merecem ser fiscalizados e os angolanos devem saber para onde vai e como vai ser gasto o dinheiro. O problema é que essa fiscalização não estará a ser feita, uma vez que nem todos os projectos passam pelo crivo da Assembleia Nacional, se é que algum passou. António Luvualu acredita que, com a chegada da Bolsa de Dívida e Valores de Angola, muitos projectos merecerão melhor atenção.

Iol.sapo.pt

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Last modified on Sábado, 19 Abril 2014 12:03