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Quarta, 15 Janeiro 2014 17:45

Cérebro do 11 de Setembro aponta o caminho da felicidade aos juízes de Guantánamo

Khalid Sheikh Mohammed argumenta que os atentados terroristas foram uma resposta à "cruzada" dos EUA e não o resultado de "uma luta contra a democracia e a liberdade".

O homem que diz ser o principal responsável pelos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos escreveu uma carta aos responsáveis pelo seu julgamento a convidá-los a converterem-se ao islão e a rejeitar o recurso à violência como forma de propagação da sua religião.

Chama-se "Convite à felicidade" e é a primeira de três partes de um documento escrito pelo antigo operacional da rede terrorista Al-Qaeda Khalid Sheikh Mohammed, divulgado em conjunto pelo site The Huffington Post e pela estação britânica Channel 4.

Sete anos depois de ter confessado a autoria dos atentados contra o World Trade Center e o Pentágono e de dezenas de outros ataques um pouco por todo o mundo, incluindo a decapitação do jornalista norte-americano Daniel Pearl, Khalid Sheikh Mohammed afirma que "a verdade só pode ser alcançada através da sabedoria".

Capturado há 14 anos no Paquistão e detido há sete no campo de Guantánamo, Mohammed não mudou de opinião sobre os Estados Unidos, nem sobre aquilo que descreve como "a cruzada do Ocidente" – as 36 páginas do documento são mesmo endereçadas "aos cruzados das comissões militares de Guantánamo".

Em defesa do seu passado de violência, Khalid Sheikh Mohammed abre o documento com citações dos antigos Presidentes norte-americanos George W. Bush e Richard Nixon e do Papa Bento XVI, com a palavra "cruzada" e referências às ligações entre os EUA e Israel em grande destaque.

"O Governo americano gosta de tocar a música da democracia – direitos humanos, direitos das mulheres e liberdade – e o povo americano gosta de dançar ao som desta música para que a realidade continue escondida, enquanto o dinheiro público e os impostos continuam a ser retirados dos seus bolsos tão facilmente quanto possível. Tudo para permitir que o Governo financie as suas guerras, apoie os seus ditadores e gaste dinheiro nas suas bases espalhadas por todo o mundo; e que continue com a sua cruzada no mundo muçulmano", escreve Khalid Sheikh Mohammed.

Este "convite à felicidade" dirige-se "a todos os que foram designados para levarem a cabo esta farsa de julgamento em Guantánano": juiz, acusação, advogados e "todos os que trabalham com eles".

A segunda parte – ainda por publicar – será dedicada a defender os motivos dos atentados de 11 de Setembro de 2001, que fizeram 2996 mortos e mais de 6000 feridos. Em particular, Mohammed irá argumentar que os ataques contra o World Trade Center e o Pentágono não foram uma operação terrorista, mas sim "um acto de autodefesa legitimado por todas as Constituições e leis internacionais como um direito de quem vê as suas terras ocupadas e os seus povos atacados".

Por fim, o homem que, segundo as transcrições dos interrogatórios, disse ser o responsável pelo 11 de Setembro "de A a Z", irá publicar um documento a questionar "a chamada 'guerra contra o terrorismo'" e sobre "quem beneficia dela".

Para já, a primeira parte da argumentação de Khalid Sheikh Mohammed é totalmente dedicada a explicar que os atentados contra cidadãos e interesses norte-americanos não têm como objectivo converter o mundo ao islão.

"Não acreditem naqueles que dizem que os mujahedin combatem os infiéis para convertê-los ao islão ou que os combatemos porque vivem em democracia, em liberdade ou porque alegam defender os direitos humanos", escreve Mohammed. "A verdade", defende, é escondida pelos serviços secretos e pelos media: "Eles escondem os motivos que levaram os mujahedin a levarem a cabo o 11 de Setembro e a verdade sobre a Guerra contra o Terrorismo."

Khalid Sheikh Mohammed foi capturado em 2003 no Paquistão. Nos três anos seguintes, terá sido levado para prisões secretas da CIA na Polónia e na Roménia, onde foi submetido a waterboarding – uma forma de extrair informação que as organizações de defesa dos direitos humanos classificam como tortura e a que os EUA se referem como "técnica de interrogatório musculada". Em 2006 foi transferido para Guantánamo, onde aguarda a conclusão do seu julgamento num tribunal militar, marcado por constantes adiamentos.

Para além do 11 de Setembro, Mohammed assumiu também a responsabilidade ou a participação em dezenas de outros ataques, como o atentado à bomba contra o World Trade Center em 1993; em planos para assassinar os antigos Presidentes norte-americanos Jimmy Carter e Bill Clinton, o actual Presidente paquistanês, Pervez Musharraf, e o Papa João Paulo II; e a decapitação do jornalista do Wall Street Journal Daniel Pearl, em 2002.

Publico.pt

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