Primeiro subiu o preço do combustível, depois o dos transportes públicos e privados. O que mais vai subir em Angola?
O economista angolano Nataniel Fernandes antevê que o preço de outros bens e serviços essenciais também possa subir nos próximos dias, porque o gasóleo, que aumentou de 300 para 400 kwanzas (0,37 euros), é um derivado transversal na economia. É usado "na agricultura, na indústria, nas fábricas, nas famílias e nas empresas, que usam geradores", aponta.
"Sendo transversal, praticamente em quase todas as atividades da economia, inclusive no transporte de pessoas e bens, é natural que, num efeito dominó, haja um efeito de contágio a vários outros preços na nossa economia."
Nataniel Fernandes antevê dias difíceis para muitas famílias angolanas: "Muitos já enfrentam dificuldades com os rendimentos escassos que têm, e agora vão sentir ainda mais os efeitos dessa inflação."
"Não é o momento"
No fim de semana, um grupo de organizações da sociedade civil angolana alertou que a subida do preço do gasóleo poderá agravar as desigualdades sociais.
"Tal decisão, num país com acentuadas fragilidades estruturais e sociais, sem medidas compensatórias eficazes, agrava significativamente o custo de vida da maioria dos cidadãos, sobretudo os que dependem da economia informal e dos transportes públicos", escreveram as organizações Associação Upangue, OMUNGA, Friends of Angola, FORDU e ALDA, em comunicado.
Todos os dias, muitos cidadãos já fazem contas pelos dedos.
"Não é o momento de aumentar os preços num país que produz petróleo", diz João António, um cidadão angolano residente em Luanda.
O Governo deve garantir a dignidade das pessoas, reforça.
Desde que o Executivo angolano começou a retirar os subsídios aos combustíveis, em 2023, o preço do gasóleo já aumentou 200%, segundo estimativas citadas pela agência de notícias Lusa.
O Executivo espera encaixar, com a retirada dos subsídios, cerca de 400 mil milhões de kwanzas por ano (cerca de 372 milhões de euros), que redirecionaria para setores como a saúde, educação e infraestruturas.
Protesto a 12 de julho
A sociedade civil aponta, no entanto, para as consequências da medida na vida diária dos cidadãos.
"A subida do preço dos combustíveis e a consequente subida dos preços dos táxis não é o que a população quer, não é o que o povo quer", refere Adilson Manuel, um dos organizadores de um protesto convocado pela sociedade civil para 12 de julho, na capital angolana, Luanda.
O que o povo quer
O que o povo quer é que "haja medidas justas para a redução gradual dessas subidas, que já foram anunciadas anteriormente pelo Executivo", salienta.
A manifestação de 12 de julho foi convocada com o lema "o teu silêncio mata mais do que a malária".
Nos últimos dias, além de aumentar o preço do gasóleo, o Governo angolano também determinou a subida da corrida do táxi de 200 para 300 kwanzas (0,28 euros). Os transportes públicos, como por exemplo autocarros, cobram agora 200 kwanzas (0,19 euros). DW Africa