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Quinta, 17 Novembro 2022 11:01

Angola poderá “perpetuar” dependência ao setor petrolífero se não progredir nas reformas – Standard Bank

O economista chefe do Standard Bank Angola (SBA) e Moçambique, Faúsio Mussá, disse hoje que Angola poderá “perpetuar” a sua dependência ao setor petrolífero se não houver progresso nas reformas, admitindo pressão para o aumento de despesas sociais.

“Sem dúvida que do ponto de vista de dependência, temos que entender que 95% das exportações de Angola são oriundas no setor petrolífero esta é uma variável que não vai mudar nos próximos cinco anos, vai levar muito tempo para que a transformação aconteça, mas se não haver progresso nas reformas esta dependência se vai perpetuar”, afirmou o economista.

Segundo Faúsio Mussá, durante muitos, apesar da volatilidade do preço do petróleo, o câmbio em Angola se manteve estável e, “felizmente”, frisou, a partir de um certo momento as autoridades entenderam “que não era sustentável”.

“E implementou-se uma correção do cambio que num certo momento originou inflação. Do ponto de vista de economia esta dependência mantém-se não só em relação à receita de exportação, mas em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)”, apontou.

A agricultura “é um setor extremamente importante para Angola, sobretudo porque grande parte da população vive deste setor, mas ainda tem uma contribuição muito reduzida para o PIB”.

“É um setor que tradicionalmente floresce se haver infraestruturas, se haver investimento, espera-se que o progresso nas reformas estruturais que o Governo está a implementar estimulem o aumento da produção agrícola”, salientou.

Falando no final na tarde desta quarta-feira, em Luanda, durante a terceira edição do “Briefing Económico 2022”, organizado pelo SBA, o economista moçambicano enalteceu também a “coragem” do Governo angolano em manter as reformas até na fase das eleições de agosto passado.

“De uma forma muito corajosa Angola manteve reformas até a beira das eleições, o cambio transacionava-se a 650 kwanzas por dólar muito perto as eleições, ou seja, houve um compromisso muito forte para se manter reformas estruturais nesta economia que ajudaram a trazer alguma flexibilidade à redução da inflação que estamos a observar agora”, referiu.

Mas, para Faúsio Mussá, “sem dúvidas que se espera que nos próximos tempos haja uma pressão para aumento de despesas sociais, por um lado para ajudar a reduzir a pressão que a inflação traz sobre as famílias sobre o custo de vida nesta economia”.

“Mas, por outro lado, enquanto é necessário atender as famílias e criar alguma estabilidade, a justiça, que se considera como um prato na mesa, é provável que haja um esforço para se olhar nestas questões sociais”, salientou.

Defendeu também o aumento da despesa de investimento, sobretudo para o setor privado angolano: “Porque só com investimento em infraestruturas é que se pode ver uma produção agrícola que chega ao mercado”.

“Que permite baixar preços de forma consistente e reduzir essa dependência que Angola tem em relação às importações”, apontou.

Estabilidade vs Transformação Económica em Angola foi o tema do encontro, ocasião em que o economista chefe do Standard Bank considerou que só o investimento e compromisso da manutenção das reformas podem afastar Angola da volatilidade do preço do petróleo.

Uma dinâmica importante dos últimos anos em Angola, adiantou, “tem sido sem dúvidas o aumento do PIB do ponto de vista nominal, este PIB sem dúvidas que foi inflacionado, inflação aumenta o valor nominal do PIB, mas também beneficiou de um câmbio que se apreciou”.

“Então, nós temos um PIB que saiu de 60 bilhões de dólares em 2020 e este ano vai fechar, provavelmente, em torno dos 120 bilhões de dólares”, estimou.

Salientou igualmente que a variação do PIB, “combinada com a prudência fiscal que Angola tem demonstrado nos últimos anos”, permitiu uma redução substancial do rácio da dívida pública em relação ao PIB.

“De 120% em 2020, este rácio está abaixo de 70% este ano, o que nos pode fazer pensar que Angola tem um espaço adicional para contrair nova dívida”, realçou.

Segundo ainda Faúsio Mussá, o kwanza depreciou em cerca de 10% em outubro e em 11% até metade de novembro de 2022, admitindo que fatores internos estejam na origem da desvalorização da moeda angolana.

A conta corrente da Balança de Pagamentos, explicou, “mostra ainda um nível de robustez extremamente elevado 9 bilhões de dólares foi o saldo da conta corrente da Balança de Pagamentos no primeiro trimestre de 2022, que é um valor excecional para esta economia”.

“O tesouro é um grande operador do mercado cambial, cerca de u terço das divisas que são fornecidas no mercado cambial são disponibilizadas pele tesouro, provavelmente houve alguns fatores internos que ditaram alguma redução na oferta de moeda e por essa razão temos uma depreciação do câmbio”, argumentou.

“Felizmente, o câmbio reage à esta situação, sempre que há um desequilíbrio entre a oferta e a procura o kwanza reage e isso é saudável, porque se isso não acontecesse o mercado poderia estar a operar numa situação em que o câmbio se mantém estável”, assinalou.

Uma “forte disciplina” do ponto de vista da gestão macroeconómica em Angola é o que defendeu ainda Faúsio Mussá: “Ou seja, se não houver fundamentos que permitam uma estabilidade da moeda, a moeda tem que refletir esse equilíbrio entre a procura e a oferta”, rematou.

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