Para Marcos Souto, Angola tem que “preservar a prudência fiscal” porque apesar do rácio da dívida pelo PIB (Produto Interno Bruto) ter reduzido drasticamente, o nível de endividamento de Angola “ainda é elevado e ainda consome recursos muito grandes do Orçamento Geral do Estado [OGE]”.
Os recursos consumidos pelo serviço da dívida angolana, sublinhou, “poderiam ser utilizados para o investimento, na educação, saúde e em outros setores do país”.
“Então, é importante que se continue com essa prudência fiscal e que não se renda no incentivo de gastar mais do que se pode ou se endividar mais do que se deve”, exortou o responsável do FMI.
Marcos Souto, que falava num painel sobre “Iniciativa para a Transformação Económica em Angola”, enquadrado na terceira edição do “Briefing Económico 2022”, realizado pelo Standard Bank Angola (SBA), enalteceu também as reformas em curso em Angola.
“É muito importante percebermos que Angola durante o programa apoiado pelo FMI implementou uma série de reformas muito importantes, muito difíceis e o fez durante um período que foi particularmente desafiador”, apontou.
Uma das grandes reformas “foi no sentido de atingir uma estabilidade macroeconómica, isso é muito importante porque sem essa estabilidade macroeconómica não se consegue avançar de uma forma sustentável e inclusiva”.
Com uma “transformação económica, uma diversificação económica, um crescimento económico e para se chegar a isso” houve “muitas iniciativas no sentido de controlar os gastos públicos, no sentido de liberar o câmbio e reforma também na alçada estrutural”, realçou.
O programa de intervenção do FMI em Angola, recordou Marcos Souto, encerrou em dezembro de 2021: “Posso dizer que para a minha instituição foi um caso bem-sucedido, agora a questão é nós olharmos para frente”, frisou.
Em relação à atual política monetária angolana, o representante do FMI referiu que embora nos últimos meses tenha havido uma “redução significativa” da inflação, “ajudada” pela apreciação do kwanza e a depreciação do dólar, “ela ainda é razoavelmente alta”.
“Os últimos números apontam para 16,8% essa não é uma inflação baixa, mas mais importante do que isso nós ainda temos muitas incertezas dos cenários da economia global”, salientou.
Apontando a invasão russa na Ucrânia e a queda de um míssil na Polónia como “cenários de incertezas” para as economias globais, defendeu, no entanto, que Angola tem de ter a certeza de que a sua inflação esteja num percurso descendente.
“Então, as incertezas ainda existem e elas são grandes e nós achamos que seria importante realmente ter a certeza de que essa inflação está num caminho de redução”, defendeu.
O que observa, argumentou, é que apesar dessa política restritiva do Banco Nacional de Angola “existe um crescimento do PIB do setor não petrolífero”.
“Quer dizer que não nos parece que há aqui uma restrição em termos de política monetária sobre a atividade económica no setor não petrolífero”, observou Marcos Souto.
Insistiu também na necessidade da “contínua aposta” nas reformas estruturais, no Programa de Privatizações (Propriv), considerando que o Governo angolano “tem trabalhado proativamente nessas reformas”.
“É importante nisso continuar a reestruturação dos bancos para salvaguardar a estabilidade financeira, e aqui também embora tem havido uma diminuição do crédito malparado pensamos que é um tema que precisa de ser visto com cautela”, avisou.
Para o representante do FMI em Angola, os bancos também devem tomar “iniciativas no sentido de tentar reduzir essa relação de crédito malparado”.
“Estabilidade vs Transformação Económica em Angola” foi o tema central deste terceiro “Briefing Económico 2022” do SBA, realizado em Luanda.