"Aumentos salariais estão fora de hipótese. Não há margem para isso no Orçamento Geral do Estado 2021. Se fossem concedidos esses aumentos depois corríamos o risco de pagar salários com atrasos e não queremos isso", adiantou.
A fonte considerou irrazoáveis nesta altura aumentos salariais conforme o defendido na semana passada pelo presidente do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Guilherme Silva, que avançou no mês passado, citado pelo Jornal de Angola, que o salário mínimo da classe deve ser de 1.500 USD, que à taxa de câmbio actual ronda os 970 mil Kz.
Recentemente, a administração da empresa de Transportes Colectivos Urbanos de Luanda (TCUL) negociou com os trabalhadores uma proposta de aumento salarial, através de um ajuste de 60% no quadro do qualificador ocupacional da empresa, em que os motoristas que ganham 73 mil Kz passam a receber 117 mil Kz e os que auferem 80 mil Kz passam a receber 128 mil. Este aumento "gerou mal-estar" no Governo e no Ministério das Finanças já que "abre a porta" a que outras empresas públicas avancem com este tipo de soluções, aumentando a pressão dos sindicatos da função pública para que os trabalhadores do Estado também recebam ajustamentos salariais. "Pretende-se que as empresas públicas de facto tenham autonomia a esse ponto. Mas primeiro têm de se tornar viáveis financeiramente, garantirem que pagam os seus custos de operação e só depois fazerem esses aumentos. Não faz sentido uma empresa que depende dos subsídios operacionais avançar com aumentos salariais nesta fase, porque isso vai aumentar a despesa pública numa altura em que estamos limitados. No Orçamento Geral do Estado para 2021 não estão contemplados recursos para isso", sublinha a fonte do Executivo.
Custo de vida disparou
O Kwanza já depreciou 74,2% face ao dólar desde 2018, com a alteração à política cambial. Desde essa altura, o menor dos salários mínimos angolano caiu para a cauda dos salários mínimos da SADC e Angola juntou-se ao grupo de países em que esta remuneração mantém os trabalhadores em pobreza extrema.
Inflação 'descontrolada', poder de compra dos angolanos devastado
O custo de vida em Luanda aumentou 2,3% em Abril face a Março, elevando para 9,3% a taxa acumulada dos primeiros quatro meses deste ano e a inflação homóloga para 27,7%, apontam os dados do Índice de Preços no Consumidor Nacional (IPCN) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Depois de ter iniciado o ano nos 1,9%, a inflação mensal acelerou em Abril, um indicador encarado pelos especialista como consequência da escassez e aumento da procura dos bens e da instabilidade cambial.
Contas feitas, em termos acumulados a capital regista a maior alta de preços dos últimos três anos, e a nível da homóloga, a taxa mais elevada dos últimos 42 meses. Ou seja, é preciso recuar a Novembro de 2017, para encontrar uma taxa tão alta, quando os preços aumentaram 28,9%.
A classe "Alimentação e Bebidas não Alcoólicas" foi a que registou o maior aumento de preços com 2,8%, enquanto em sentido contrário, destacam-se também os aumentos dos preços verificados nas classes "Saúde" com 2,7% "Transportes" com 2,4% e "Lazer, Recreação e Cultura" com 2,1%. Tendo em conta essas variações, a análise do INE aponta que os angolanos continuam a gastar mais com a alimentação e analises clínicas.
A taxa de inflação homóloga em Luanda está a acelerar desde Novembro de 2019, "pressionada pela crise financeira e da desvalorização do Kwanza, apesar das medidas do Governo de tentar manter o custo de vida em níveis baixos", explica o economista José Lopes, adiantando ainda que a situação continua a agravar-se e o poder de compra dos angolanos está devastado e a miséria aumenta todos os dias.
José Lopes diz que a política macroeconómica do Governo falhou e como consequência é o agravamento do custo de vida em Angola. "A falta de fiscalização e medidas mais precisas sobre os preços também estão a contribuir negativamente na formação dos preços em Luanda", disse o economista. Expansão