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Terça, 31 Março 2015 08:00

Angola “rápida” na resposta a quebra de receitas petrolíferas

Angola foi lenta na diversificação da sua base económica, e foi apanhada pela atual crise plenamente dependente das receitas petrolíferas. Mas dispõe de “almofadas” financeiras e, ao contrário do que aconteceu em 2008, foi “rápida” a responder, avalia a agência Fitch. No futuro, as autoridades poderão ter de ver a quebra de receitas petrolíferas como uma espécie de nova normalidade.

Uma das 3 grandes agências de notação (“rating”), a Fitch classifica a dívida pública de Estados, com base na situação económica e financeira dos países, o que para Angola é agora de grande importância. Este ano, Luanda terá de recorrer ao mercado para se financiar. Espera-se que emita 1,5 mil milhões de dólares em obrigações do tipo “eurobond”.

No seu mais recente relatório sobre Angola, a Fitch prevê um abrandamento do crescimento económico para 3,3 por cento, devido à quebra do investimento público, falta de liquidez em dólares, a persistente incerteza em relação à recuperação dos preços petrolíferos, que caíram 45 por cento desde julho de 2014, e mesmo constrangimentos à atividade não-petrolífera.

A quebra das receitas petrolíferas “sublinhou a vulnerabilidade de Angola” em relação ao sector petrolífero deverá resultar numa quebra “acentuada” das reservas de moeda estrangeira, bem como aumento da dívida. Para a Fitch, as perspetivas para o “rating” de Angola passaram de estáveis a negativas.

Apesar disso “as autoridades angolanas responderam rapidamente aos preços petrolíferos acentuadamente mais baixos, cortando fortemente na despesa e permitindo que a taxa de câmbio (do kwanza) depreciasse”, afirma a Fitch. Adianta que a resposta “contrasta fortemente” com as “demoras” de 2008, a última grande quebra dos preços petrolíferos.

A dívida pública angolana está nos 33 por cento, refletindo um abrandamento da economia e u aumento da dívida em 7 mil milhões de dólares. Este ano, deverá atingir os 39 por cento, segundo a Fitch. Considerando os depósitos do Estado, a dívida pública está nos 17,9 por cento, muito abaixo da média.

As importações deverão registar uma quebra este ano, refletindo a falta de liquidez em dólares e redução de investimento público. As contas públicas vão entrar no vermelho, com um défice corrente de 7 por cento do PIB.

As reservas do Banco Nacional de Angola deverão cair em 8 mil milhões de dólares, para 19 mil milhões.

Apesar da grande exposição ao sector do imobiliário e construção, o nível de capital dos bancos angolanos é considerado adequado. A recuperação do Banco Espírito Santo Angola (BESA) é considerado um risco, mas o efeito de contágio ao resto da banca “parece ter sido bem contido”, afirma a Fitch.

A agência adianta também que o governo está a finalizar um acordo com o Banco Mundial para lidar com os problemas ao ambiente de negócios no país, que está entre os piores do mundo (181ª posição em 189 países).

Mesmo com uma recuperação dos preços petrolíferos, as perspetivas para este sector levantam dúvidas. É que, mesmo o desenvolvimento de nova produção na bacia do Kwanza e com as receitas do gás natural (LNG), “pode não ser suficiente para aumentar a produção devido a um elevado taxa de declínio de produção nos campos petrolíferos em fase de maturidade”.

AM