Por Ismael Mateus
Outra imagem que também parecia uma campanha eleitoral foi do general Pakas Mendes de Carvalho a dar, durante um comício da UNITA, o seu apoio político ao partido liderado por Adalberto Costa Júnior e a Frente Patriótica. Como se já estivéssemos em tempo de eleições a contar "espingardas”, (ainda que o general Pakas não possa ser visto como dirigente do MPLA ou que as suas críticas sejam novidades), círculos da UNITA reclamam com toda a justiça que esse apoio deveria ser apresentado como uma transferência de peso do MPLA para a UNITA.
Aparentemente, só os estrategas do MPLA é que ainda não repararam que a UNITA está, com todo o mérito, em grande movimento ascendente, a tomar iniciativa política e gerar gradualmente uma agenda mediática alternativa ao excesso de governamentalização dos media tradicionais.
A máquina propagandística da UNITA parece oleada e disponível para promover as suas próprias iniciativas como os casos acima citados, e reagir rapidamente contra quem ouse criticar as suas estratégias. Prova disso foi a reacção destemperada de algumas vozes da UNITA ao nosso artigo sobre o branqueamento da imagem de Savimbi, saído na edição de segunda-feira da semana passada.
A minha geração habituou-se a admirar os estrategas do MPLA que personificam uma espécie de sábios da política com rasgos em antecipação, iniciativas de acção política ou pela sua rápida capacidade de reacção à adversidade. Houve sempre que, mesmo tardando, às vezes, teriam a capacidade de dar a volta por cima.
No estado actual, exceptuando as acções junto dos militantes (logo, zonas de conforto) os estrategas do MPLA estão longe de demonstrar iniciativa da acção política e muito menos capacidade de reacção em caso de jogada inteligente e impactante do adversário. Sucedem-se iniciativas do seu principal adversário, sem que o MPLA seja capaz de reagir.
Esta a instalar-se uma preocupação com essa apatia e já não há tanta segurança de que tudo faça parte de uma estratégia.
Hoje, aconteça o que acontecer, seja um artigo de jornal com impacto na sociedade, um estudo de opinião ou mesmo uma "mudança de camisola” de alguém das suas hostes, o MPLA mantém-se calado e mudo, como se o assunto não lhe dissesse nenhum respeito. Mesmo quando se está perante erros do seu Governo, verifica-se o mesmo silêncio.
Podemos admitir que intencionalmente o MPLA tenha decidido abdicar do combate político diário, mas, a ser assim, trata-se de uma decisão que dificilmente deixa de antever bons resultados. Com o desgaste da governação, a popularidade em baixa e a economia a não crescer como deveria, o silêncio não é, nestes casos, boa conselheira. Não saber isso é mais um sinal de que os estrategas já não são os mesmos.
O silêncio impede que o MPLA assuma o ónus da governação, não só para assumir os erros e dar sentido às medidas que são tomadas, mas também para rentabilizar ao máximo as coisas boas que se fazem. Assumir o ónus político da governação é representar o cidadão que deu o seu voto ao programa de Governo do MPLA e assim merece que, mais do que apoiar as medidas do Governo, o partido no poder seja o primeiro a exigir o cumprimento dos compromissos eleitorais e a defender a necessidade de melhores serviços aos cidadãos.
O silêncio do MPLA em quase todos os assuntos, salvo nos comunicados de morte e efemérides, tem provocado inúmeros receios sobre a eventualidade de uma estratégia concreta para o momento actual. Será que existe uma estratégia?
Outro factor preocupante é a apatia e o silêncio em relação à democracia interna. Perante o legítimo direito de alguns militantes de concorrerem à liderança do seu partido, o MPLA remete-se ao silêncio, abrindo a porta a rumores, incertezas e um mar de especulações.
Certamente, há uma estratégia, mas parece evidente que as pré-campanhas estão já em curso. Mesmo que não sejam bastantes para chegar à liderança podem criar estados de opinião e apoios internos surpreendentes.
Os tempos são outros. As novas tecnologias de comunicação estão a operar uma transformação do modo de fazer política tanto na disputa entre partidos como na democracia interna. Tanto a UNITA como os pré-candidatos da disputa interna têm dado mostras de um bom uso das redes sociais com emoções, crenças e argumentos para a criação de uma opinião pública favorável aos seus propósitos.
É preciso não querer ver as mudanças de comportamento a nível individual e colectivo que se baseiam na informação das redes sociais, mesmo que sejam falsas notícias. E não ver isso, é por si só, muito preocupante.