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Sábado, 28 Fevereiro 2015 17:25

Dificuldades orçamentais são oportunidade para acelerar reformas em Angola

O analista da agência de notação financeira Standard & Poor`s que decidiu a descida do `rating` de Angola considerou hoje, em entrevista à Lusa, que "as dificuldades orçamentais são uma oportunidade para o Governo acelerar as reformas" no país.

"As dificuldades orçamentais podem oferecer uma oportunidade para implementar mudanças estruturais no lado da despesa; vemos o trabalho das autoridades com o Fundo Monetário Internacional na reforma dos subsídios como um exemplo disto", disse Benjamin Young, o principal autor do relatório de fevereiro que desceu o `rating` de Angola.

Em entrevista à Lusa a partir de Nova Iorque, o analista sénior de uma das três maiores agência de `rating` do mundo, disse que a S&P "acredita que o sucesso deste tipo de medida orçamental [a reforma dos subsídios aos combustíveis] vai delimitar a capacidade do Governo de apoiar os planos para a diversificação económica".

Isto porque, explicou, as verbas resultantes dos cortes nos subsídios aos combustíveis "podem facilitar a realocação estratégica de fundos para apoiar os setores da economia ainda em desenvolvimento e o emprego, dependendo das opções políticas do executivo".

Questionado sobre o impacto dos cortes orçamentais na despesa pública previstos no Orçamento retificativo, Benjamin Young respondeu que "as tensões subjacentes na população de Angola vão continuar a existir", uma vez que "há um descontentamento público sobre a natureza da governação em Angola e a perceção de que os benefícios do crescimento económico têm estado demasiado concentrados nas mãos da elite dirigente".

Por isso, sublinhou, "um corte significativo nos gastos públicos que pretendem corrigir essas assimetrias, como resultado da redução de receitas, pode aumentar essas tensões".

No entanto, a S&P sublinhou que "o Governo tem um leque de opções políticas ao seu dispor, principalmente a capacidade de realocar estrategicamente os fundos e a capacidade de usar almofadas orçamentais, com ambas a poderem ser instrumentos importantes na gestão das finanças públicas neste ambiente desafiante".

O equilíbrio das finanças públicas, de resto, tem sido uma das preocupações de Luanda, que definiu um défice orçamental de 7% do PIB face aos 7,6% inicialmente previstos, e reduziu a previsão de crescimento da riqueza de 9,7% para 6,6%, ainda assim mais otimista que qualquer das instituições económicas mundiais que seguem o país.

Para manter o défice controlado, o Governo de Angola tem apostado em empréstimos contraídos junto de várias entidades, num montante que já superou os 2 mil milhões de dólares nos últimos meses, que vão desde o Banco Mundial até ao sul-africano Standard Chartered, passando pelo Goldman Sachs e a Gemcorp.

Questionado sobre se seria mais prudente recorrer apenas às grandes instituições económicas mundiais, como o Banco Mundial, que praticam taxas de juro tradicionalmente inferiores às da banca comercial, Benjamin Young disse que a resposta depende de vários fatores e das contas que as Finanças de Angola terão feito.

"Os bancos comerciais tendencialmente são mais caros que os empréstimos contraídos junto do Banco Mundial, mas os custos dos juros teriam de ser medidos contra o retorno dos investimentos nos ativos do Fundo Soberano", explicou o analista, acrescentando que também a moeda em que é feito o empréstimo é importante.

"Se a entidade que empresta for estrangeira, isto trará reservas estrangeiras para o país, e melhorará as reservas, mas também aumenta a exposição ao resto do mundo", explicou Benjamin Young, concluindo, por isso, que "há muitas considerações a ser levadas em linha de conta", o que impossibilita uma resposta definitiva.

LUSA