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Sábado, 30 Março 2024 21:15

Movicel afundada em graves problemas financeiros e nas infra-estruturas, não consegue pagar salários

Situação financeira causou clima de tensão na empresa, agravado pelos atrasos salariais que já contabilizam pelo menos três meses. Trabalhadores alegam existir um plano para deixar cair a Movicel que, nos últimos cinco anos, contabiliza perdas de 56,7% dos clientes.

A empresa de telefonia móvel Movicel está a desmoronar como um castelo de areia, em consequência da significativa quebra do número de clientes, atribuída à baixa qualidade do seu serviço oferecido.

Embora apresente planos comerciais de internet e chamadas considerados “económicos”, fontes próximas da empresa contam que há três anos, a Movicel deixou de fazer investimentos nas infra-estruturas fundamentais para assegurar a qualidade do sinal e dos serviços. A situação terá comprometido o relacionamento com os prestadores de serviços, como por exemplo as empresas de segurança que guardavam os sites (antenas de telecomunicação) e a entidade responsável pelos geradores que garantem o funcionamento dos sites, o que tem levado à vandalização recorrente das infra-estruturas.

Sem qualquer agente de segurança, os marginais roubam os cabos de electricidade e outros de telecomunicação. Em alguns casos, a empresa tem feito a reposição dos materiais, mas, pelo facto de não existir segurança, os sites voltam a ser vandalizados e ficam fora de serviço.

Um engenheiro da operadora explica que os sites espalhados pelo país que, nesta altura, têm segurança são apenas aqueles que partilham com a concorrente Africell.

A situação financeira degradada da operadora não se alterou mesmo com a entrada, no ano passado, do Instituto Nacional de Segurança Social na estrutura accionista com 51%. A empresa já se viu até forçada a mudar a sede de um dos centros empresariais mais caros do país, o Belas Business Park, no Talatona, para o condomínio Rosalinda, no Futungo. E tem estado de mãos ata- das na continuidade de pagamento de salário, quando já estão contabilizados três meses que os funcionários não recebem os ordenados.

O clima de insatisfação e tensão é notável nas lojas, incluindo na sede da empresa. Funcionários queixam-se de dificuldades para sustentarem as famílias, havendo casos de alguns que foram despejados por não pagarem as rendas de casa e tiveram os filhos expulsos das escolas por falta de paga- mento das propinas. Sem qualquer informação prestada pela administração sobre o atraso salarial, os funcionários afirmam estar meio impossibilitados de paralisar pelo facto de o sindicato ter sido desfeito, após a greve de 2018, o que poderá causar represálias para os que eventualmente pensarem agir neste sentido. "A empresa já não tem um sindicato que possa marcar greve, o que podemos fazer é uma paralisação conjunta, mas existe o receio de represálias, visto que, nestas situações, há sempre os colegas com receios de perder o emprego", explica um trabalhador da operadora.

Funcionários alegam também que razões políticas terão motivado "um plano para a queda econsequente falência da Movicel, por não entenderem o facto de a empresa não efectuar investimentos nas infra-estruturas existentes que podiam alavancá-la através da melhoria da qualidade dos serviços, influenciando o retorno e conquista de clientes.

EMPRESA PERDEU MAIS DE METADE DE CLIENTES

Desde 2018 até ao terceiro trimestre de 2023, a Movicel perdeu 1,383 milhões de clientes, ou seja cerca de 56,7% dos utentes deixaram de usar a rede de telefonia. Dos 2,437 milhões de clientes anteriores, a empresa agora tem apenas 1,054 milhões, conforme indicam cálculos do Valor Económico, baseados nos dados do Instituto Angolano das Comunicações (Inacom).

A empresa deixou de ser a segunda maior, em termos de clientes, ficando na terceira posi- ção, com uma quota de mercado de somente 4,1%. Acabou superada pela Africell, mesmo sem grandes infra-estruturas e com quase dois anos de operação, que já detém 24,1% da quota de mercado com 6,231 milhões de clientes. Com 18,564 milhões de clientes, que representam uma quota de 71,8%, a Unitel mantém-se líder à distância.

A administração da Movicel não aceitou responder ao Valor Económico a propósito da situação em que a empresa se encontra.

FORÇADA A PARTILHAR ANTENAS

Fonte da Movicel revela que a empresa foi forçada a partilhar as suas infra-estruturas com a Africell, apesar de não o ter desejado. A primeira empresa de telefonia móvel do país, oriunda da pública Angola Telecom, foi a única que fez a partilha, uma vez que a Unitel exigiu um preço que a Africell se recursou a pagar.

A expansão da operadora norte-americana tem sido assim apoiada nas infra-estruturas da Movicel, que conta com cobertura nacional. Curiosamente, no primeiro ano de operação, a Africell ultrapassou a Movicel na quantidade de clientes, assumindo a segunda mais quota do mercado.

Valor Económico

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