Em entrevista ao Novo Jornal, o presidente da associação, Sivi Pedro, refere que os motivos alegados são a insegurança, os salários "pouco atractivos" ou a falta de oportunidades de emprego, defendendo que "é importante o Governo tomar medidas no sentido de obrigá-los a retornar, pois muitos têm um compromisso com o Estado que paga as respectivas bolsas de estudo".
Sivi Pedro denunciou que muitos dos estudantes que não querem regressar ao país são bolseiros inseridos no acordo entre Portugal e Angola, considerando que o Governo quase não tem controlo desses bolseiros, razão pela qual muitos acabam por ficar nos países para onde são enviados para estudar.
O estudante considera que, para além da importância de se passar a mensagem sobre a necessidade de regressar, o Governo angolano deve criar políticas de integração desses estudantes que saem do exterior. Sivi Pedro refere que a associação que dirige mantém, desde 2010, o projecto "Regresso Seguro", em parceria com várias empresas portuguesas que actuam em Angola, permitindo até agora que mais de 3.000 estudantes retornassem com contratos de trabalho. Uma iniciativa interrompida nos últimos três anos por força da pandemia, mas que deverá ser retomada no próximo ano, segundo o líder associativo.
"Tivemos muitos bons resultados com este projecto, embora haja sempre estudantes que mesmo diante dessas oportunidades não querem regressar, alegando por vezes que o salário não é atractivo ou outros motivos", refere.
Em Portugal encontram-se actualmente a estudar 4.690 angolanos, segundo dados do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação citados pelo presidente da Associação de Estudantes Angolanos, que considera haver mais, sendo que alguns não estão inscritos ou têm dupla nacionalidade. Sivi Pedro considera que os apoios recebidos são poucos, por falta de uma política específica do Governo angolano.
"Não falo apenas de apoios financeiros. Como tenho dito, Angola não tem acordos com Portugal a nível do ensino superior que permitam a redução das propinas e de outros custos que os estudantes universitários têm. O apoio que temos recebido é muito limitado, e, para quem não é bolseiro, a vida de estudante torna-se num inferno. Muitas vezes o estudante tem de deixar de estudar para trabalhar e só depois paga a faculdade".
Estudante de engenharia de Telecomunicações e Informática, Sivi Pedro reconhece, no entanto, os esforços da Embaixada e do Consulado de Angola, e refere ainda que a associação tem estado a concertar ideias com estas duas instituições para que haja mais apoio aos estudantes angolanos com maiores dificuldades.
"Temos jovens estudantes angolanos, alguns dos quais já terminaram a sua formação, que são empreendedores aqui em Portugal. Uns têm empresas, outros actuam no âmbito do empreendedorismo corporativo dentro de algumas organizações", disse Sivi Pedro, citando, a título de exemplo, as empresas BBMA Consultoria Lda., Relíquias de Angola e ABC Digital. NJ