Sexta, 29 de Março de 2024
Follow Us

Sábado, 30 Setembro 2017 14:08

Escolha de um general em Cabinda indica uma solução truculenta e belicosa

A escolha do tenente-general Eugénio Laborinho para governador de Cabinda dá indicações de que o novo PR se inclina para uma solução truculenta e belicosa para lidar com a difícil e sensível problemática do enclave

Divulgadas na passada quinta-feira, 28, as nomeações para o novo elenco governativo de Angola, resultante das últimas eleições gerais ocorridas em Agosto no país, estão a ser vistas como espelhando algum atabalhoamento e um fio condutor pouco congruente. Todos eles, aspectos que decorrerão, por um lado, de desinteligências e falta de sintonia entre José Eduardo dos Santos e João Lourenço nessa e noutras matérias, e também dos humores e caprichos pessoais de ambos.

Para começo de conversa, uma dessas incongruências é a que se verifica na escolha do novo governador para Cabinda, pois o facto, de acordo com competentes “análises de conteúdo”, não pressagia nada de bom para a pretendida pacificação do enclave. A opção pelo tenente-general Eugénio César Laborinho para exercer o cargo em substituição da anterior governadora, Aldina da Lomba Catembo, pode na verdade significar um inquinar dos esforços já alcançados no desígnio da pacificação do território mais setentrional de Angola.

Os avanços já não eram lá muito significativos, mas o espectro de uma marcha-a-ré coloca-se agora com maior acuidade face à aparição na cena de Eugénio Laborinho. De facto, as autoridades em Luanda parecem agora sinalizar para a direita, no que diz respeito ao discurso e as intenções de paz, mas na prática estarem a virar para a esquerda, com uma actuação que é a negação da premissa de aproximação e negociação com os sectores que reivindicam e se batem pela autodeterminação do território.

O perfil de Eugénio Laborinho é em tudo contrário à lógica da negociação, denotando características mais propensas à política do cassetete. Ele, que até à sua nomeação para o Governo de Cabinda exerceu o cargo de secretário de Estado do Interior para a Protecção Civil e Bombeiros, é considerado uma figura de modos truculentos. Por conseguinte, mais propício a encarreirar por políticas de coerção e repressão do que a conciliar interesses colectivos de uma sociedade, que é o que no actual contexto se exige de quem seja incumbido de dirigir o enclave de Cabinda.

Aproximação e negociação às distintas facções cabindenses era a fórmula que ultimamente estava a ser aconselhado que as autoridades angolanas perfilhassem no tratamento e na busca da resolução definitiva para a problemática de Cabinda. O que se terá passado para a inversão de percurso que a nomeação do tenente-general Eugénio Laborinho tendencialmente mostra?

Tudo indica, de acordo com as “análises de conteúdo” que são expendidas sobre o assunto, que o retrocesso pode ter muito a ver com a forma pessoal como João Lourenço passou a olhar para a questão de Cabinda, depois da viagem que o levou ao enclave, no quadro da sua pré-campanha como candidato do MPLA à Presidência da República, ter corrido terrivelmente mal.

Além da já conhecida estória do ataque de um toiro que quase ia colhendo João Lourenço, recorde-se que a sua comitiva confrontou-se em Cabinda com forte animosidade da sua população. O candidato do MPLA ficou de tal maneira ressabiado e indignado com o sucedido que passou a ter a questão do enclave como um problema pessoal. Por conseguinte, seria por conta de tais reminiscências e para vingar-se dos agravos sofridos em Cabinda, que agora, já na condição de Presidente da República, João Lourenço estaria virado para a condução de uma política mais truculenta e, eventualmente, de regresso à anterior visão belicosa que o regime propugnava no tratamento a dar às facções cabindenses.

No quadro dessa regressão, o tenente-general é, pois, uma personagem que reúne o perfil ideal, por ser, ele também, bastante propenso a soluções belicosas. Não por acaso, note-se que Eugénio Laborinho esteve entre os responsáveis castrenses do regime que, em 2015, nos acontecimentos do Monte Sumi, na província do Huambo, tiveram um envolvimento activo numa brutal repressão repressão aos seguidores do pastor Julino Kalupeteca, da seita “A Luz do Mundo”.

Dir-se-ia, assim, que João Lourenço dispensa as pinças para tratar a problemática de Cabinda, preferindo actuar, desabridamente, com um “Caterpillar” chamado Eugénio Laborinho. Esta posição baralha completamente a filosofia que estava a ser seguida para a resolução do problema de Cabinda, a qual se traduziria em operações de reaproximação às facções independentistas, esperando com isso reduzir a tensão e as animosidades locais. (Correio Angolense)

Rate this item
(0 votes)