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Sexta, 19 Agosto 2016 09:01

Hélder Amaral: "Há sinais de mudança no MPLA que é preciso proteger"

Entrevista ao vice-presidente do grupo parlamentar do CDS, representante do partido no Congresso do MPLA

Esperava que as suas declarações sobre a maior proximidade do CDS ao MPLA causassem tanta polémica no partido?

De facto fiquei surpreendido. Talvez devesse ter sublinhado que se tratava de uma opinião pessoal, de alguém que acompanha há muitos anos a evolução do país, não vinculando o CDS. De qualquer forma devo dizer que lamento o desconhecimento, por algumas pessoas do partido, em relação a todo o percurso de contactos do CDS, grande parte da minha responsabilidade, com vários partidos da oposição angolana, como é o caso da UNITA e do CASA-CE. Essas relações têm sido regulares, com encontros anuais com dirigentes da UNITA e este ano foi a primeira vez que aconteceu a aproximação ao MPLA...

Mas quando disse que "há mais pontos em comum" entre o CDS e o MPLA, sendo partidos nas antípodas ideológicas, compreende as reações, certo?

Só se essas reações tiverem uma base superficial. Antes de mais devo dizer que as minhas palavras foram em resposta a uma pergunta sobre o que pensava do discurso de José Eduardo dos Santos. E neste discurso de facto constatei sinais de mudança que entendo que deve ser protegidos. Nesses sinais há alguns pontos em comum com as ideias do CDS. Falo, por exemplo, da valorização da iniciativa privada, com críticas explícitas aos negócios ilícitos e da defesa de um Estado mais eficiente. Se passarem das palavras aos atos é uma evolução a que devemos estar atentos. Se for assim é claro que estou mais próximo do governo angolano.

Mas as suas declarações deixaram a direção do partido debaixo de pressão de muitos militantes e obrigou a um esclarecimento que deixa implícito uma demarcação em relação ao que disse...

Costumo dizer que o meu dever é sempre superior a minha vontade no CDS. O CDS nunca se demarca de mim, está sempre comigo. Não senti qualquer demarcação, mas simplesmente uma crítica à interpretação errada que estava a ser feita. Não tenho qualquer negócio em Angola. O meu único interesse é a minha família que cá está, a minha mãe que venho ver quase todos os anos. É preciso salientar a extrema importância para Portugal em manter um bom relacionamento com o governo angolano. A presença neste congresso de representantes dos maiores partidos portugueses (PS e PSD) é disso evidência. Angola teve um papel fundamental na recuperação da nossa economia, temos uma forte comunidade portuguesa neste país e uma não menos forte presença angolana em Portugal. Não podemos esquecer que Angola nos ajudou em momentos tão difíceis.

O facto de ser angolano pode ter influenciado a emoção das suas palavras?

Não sou emotivo. Já afirmei que não retiro o que disse. Agora o facto de ser angolano - tenho dupla nacionalidade - e a circunstância de visitar regularmente o país para visitar a minha família dão-me o privilégio de acompanhar muito de perto a evolução do país e a poder ter uma opinião mais fundamentada sobre as mudanças registadas. A minha perceção é que o país tem sinais de recuperação e desenvolvimento a muitos níveis.

Saiu de Angola com que idade?

Foi logo a seguir à independência, com seis anos. Eu e o meu pai só tínhamos as calças e a camisa que trazíamos vestidos. Fomos espoliados, ficámos sem nada. A minha mãe ficou em Angola e estive quase 15 anos a pensar que estava morta. Quando soubemos que estava viva passei a vir quase todos os anos. Estou sempre disponível para vir a Angola dar um beijinho à minha mãe.

Já pensou em voltar para Angola?

Não, de todo. A minha vida é em Portugal, em Viseu. E como costumo dizer gosto mais de cozido à portuguesa do que de muamba. Sou um beirão de gema.

Diário de Notícias

 

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