A estrada de “Zenu” no CC ocorreria no âmbito de ajustamentos de carácter “pontual” a efectuar na composição daquele órgão, na perspectiva do congresso do MPLA marcado para Dez.2014. O congresso, extraordinário, não é electivo, mas a direcção tem a faculdade de propor o preenchimento de vagas abertas no CC por casos de falecimentos, incompatibilidade, etc.
A contestação provinda de uma ala do CC não compromete liminarmente a entrada da “Zenu” no CC se a proposta for mantida para apresentação ao congresso. Em 2011 (AM741), foi o próprio congresso a rejeitar a inclusão de “Zenu” numa lista de candidatos ao CC que o Presidente tem a prerrogativa de apresentar, mas não há indicações de que se possa verificar de novo.
2. Dino Matross foi a figura que mais se evidenciou na oposição à entrada de “Zenu”, o que fez na sua qualidade de SG do partido e invocando argumentos de extracção estritamente estatutária, entre os quais o da sua nula ou incipiente militância partidária, inclusive nas chamadas organizações de massas.
As ligações de Dino Matross a quadros e dirigentes do partido considerados “não afectos” a JES, a que acresce o protagonismo que tem assumindo na contestação de propostas ou intenções apresentadas pelo presidente do partido a órgãos de direcção, alimentam conjecturas segundo as quais também se move por razões políticas.
O protagonismo de Dino Matross é em larga escala devido aos apoios internos de que dispõe, às suas especiais ligações a Fernando da Piedade Dias dos Santos e respectiva família, mas também a aparentamentos com famílias influentes da sociedade; é familiar de Ana Dias Lourenço, esposa de João Lourenço, ministro da Defesa.
3. A reunião do CC esteve marcada para 31.Out, mas só teve lugar em 07.Nov. O adiamento, que apanhou de surpresa membros do CC convocados com base na data inicial, terá sido ditado por conveniências de José Eduardo dos Santos (JES), regressado de Barcelona a 28.Out, de se avistar com membros “recalcitrantes” do CC.
José Eduardo dos Santos recorre usualmente a acções de “persuasão individual”, levadas a cabo por si próprio ou por emissários, tendo em vista garantir internamente apoios e/ou consensos internos para as suas decisões. A hipótese de “Zenu” ainda vir a ser admitido no CC depende especialmente deste factor.
As obstruções à promoção de Joana Lina (AM881) a 1º vice-presidente da Assembleia Nacional, têm vindo a diluir-se, tanto na BP, como na bancada parlamentar do MPLA, por suposto efeito de contactos de JES e de figuras do seu círculo com contestatários da medida.
A oposição interna à ascensão política de “Zenu” é fomentada/impedida por recorrentes rumores que o apresentam como “preferido” de JES para o vir a substituir futuramente na presidência. Um tal cenário é considerado absurdo em meios do regime (e da sociedade), que por essa razão o rejeitam.
Entre observadores atentos ao tema da chamada “sucessão presidencial” (AM886) uma eventual promoção política de “Zenu”, por via da sua entrada no CC, teria para JES a vantagem de adensar a indefinição em relação ao assunto. JES vê nessa indefinição um instrumento de pressão capaz de lhe permitir influenciar e controlar o processo.
4. Na oposição interna a JES avultam os veteranos do partido (vulgo, históricos), muitos deles seus contemporâneos. A ala mais influente dos contestatários, a de Dino Matross, é a dos “caluandas”. As suas afinidades com famílias tradicionais e/ou laços com figuras referencias da sociedade de Luanda acrescentam-lhe influências sociais.
A oposição interna a JES, justificada por argumentos como o “favoritismo indevido” com que trata a sua família, a corrupção que se diz ter fomentado como forma de captar lealdades, mas também o seu alegado apego ao poder, é comumente considerada como uma brecha na coesão do regime, capaz de comprometer o seu futuro.
O único membro da família de JES que goza de aceitação no partido é Welvitshia dos Santos “Tchizé”. É considerada uma militante dedicada. Todos os outros são, em geral, malquistos e sobre cada um dos mesmos, em especial sobre a sua irmã, Marta dos Santos, correm rumores depreciativos.
JES não é especialmente afectuoso nas relações com os filhos, mas revela em relação a todos instintos tipicamente protectores. Os mais privilegiados, conforme apreciações internas, são Isabel, empresária, e “Zenu”, este devendo a sua notoriedade à presidência do fundo soberano (AM751) e à imaginária condição de “sucessor”.
Tal como o progenitor e/ou a conselho do mesmo, “Zenu” também promove cuidadosamente a sua imagem, para o que conta com o concurso de agências especializadas. E aplica-se em promover-se em círculos de alta finança e da política internacional, aproveitando a sua qualidade de PCA do Fundo Soberano.
“Zenu”apresenta muitas parecenças fisionómicas com JES, do qual também herdou o porte físico e o modo pausado de falar. Não lhe são reconhecidas, porém, capacidades intelectuais ou politicas, assim como não dispõe no regime e na sociedade de apoios que lhe permitam acalentar aspirações.
5. O modo como JES lida com a oposição interna combina esforços de natureza diversa tendo em vista reaproximações a figuras consideradas “flexíveis” ou o afastamento de outras, dadas como obstinadas. Uma alteração a seu favor da actual relação interna de forças é considerada vital para o processo da “sucessão”.
Não é considerado favorável a JES o “balanço” das suas disputas com a oposição interna nos órgãos principais do partido. Além das obstruções à entrada de “Zenu” no CC, o vice-Presidente, Manuel Vicente, continua a não gozar de suficiente aceitação interna e Luzia Inglês (AM854) mantém-se na presidência da OMA."
África Monitor