A posição em que os membros do Bloco Democrático (BD) foram colocados na lista de candidatos a deputados, apresentada pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), gerou descontentamento interno.
Trata-se da primeira vez que esta família política admite divergências, publicamente, sobre assuntos internos.
O sindicalista Manuel de Victória Pereira, o ex-vice-presidente do partido Luís Nascimento e o ex-candidato a secretário-geral Adão Ramos são algumas das individualidades que, em carta aberta, manifestaram descontentamento pela forma como as negociações decorreram na plataforma política conjunta, a Frente Patriótica Unida.
Victória Pereira diz mesmo que a Frente Patriótica se revelou um "embuste, ou manobra de diversão, para sujeitar o Bloco Democrático a integrar alguns elementos seus na lista de candidatos da UNITA a deputados à Assembleia Nacional".
Dirigentes do BD com poucas probabilidades de serem eleitos
O analista político Eduardo Chipilika considera que a principal razão para o descontentamento no BD foi a colocação de alguns dirigentes em lugares sem garantias de serem eleitos.
"É verdade que são 220 deputados e nos parece que o objetivo primordial era estar melhor posicionado. Ora, quem faz política devia compreender os critérios objetivos e subjetivos que as lideranças determinam. Então, a pergunta que se coloca é: se estivessem em posições mais elegíveis, haveriam de se manifestar em carta aberta?"
Angola I Frente Patriótica Unida
Entre as primeiras 20 pessoas na lista da UNITA, entregue ao Tribunal Constitucional, consta apenas um nome de um militante do Bloco Democrático: o de Justino Pinto de Andrade, que aparece em quarto lugar.
O diretor do Observatório Eleitoral Angolano, Luís Jimbo, entende, no entanto, que a ambição política de alguns dirigentes do Bloco Democrático estará a ofuscar o êxito dos acordos celebrados no âmbito da criação da "Frente Patriótica Unida".
Militantes questionam se BD fez bem em integrar a Frente Patriótica
Luís Jimbo diz que "o que aconteceu foi Luís Nascimento e Victória Pereira mostrarem uma posição de que esta Frente não deveria aglutinar-se a um partido como a UNITA. Adão Ramos não exclui a Frente, mas rejeita uma posição não elegível. Isso, para mim, só pode ter razões pessoais, só pode ser uma ambição política, o que é normal."
Os resultados do pleito de 24 de agosto deverão ditar uma nova era no chamado partido dos intelectuais, diz o analista Eduardo Chipilika.
"Ali veremos a maturidade dos militantes do Bloco Democrático. Se olham, efetivamente, para os seus egos, ou para o partido. Porque devem perceber que, para ir para uma corrida, há derrotas e vitórias", afirma o analista em declarações à DW África.
A estratégia do Bloco Democrático em optar por sair da coligação CASA-CE e aliar-se à UNITA, incorporando a sua lista de candidatos a deputados, pode ser uma faca de dois gumes. A aliança poderá ter um custo político no futuro, caso o Bloco Democrático não concorra às eleições de 2027, correndo o risco de ser extinto.
Mas Luís Jimbo diz que essa não é ainda uma ameaça real, porque, nas suas palavras, "estamos ainda perante as eleições de 2022; só depois disso é que vamos para 2027 e, no meio disso, ainda temos as eleições autárquicas". DW Africa