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Quarta, 01 Outubro 2014 18:10

Kissinger quis atacar Cuba por causa da guerra civil angolana

Henry Kissinger, antigo secretário de Estado dos EUA, planeou atacar Cuba, após o apoio de Fidel Castro ao MPLA, na guerra civil angolana em 1975. De acordo com o livro ‘Back Channel To Cuba’, o político de 91 anos tentou estreitar relações com o dirigente cubano mas a participação em Angola mudou a estratégia do norte-americano.

Em 1975, após a declaração de independência por parte de Portugal, começou a guerra civil angolana que incluiu forças políticas como MPLA, UNITA E FNLA na frente de combate. Moscovo (União Soviética) apoiava um dos lados da barricada, sendo que os Estados Unidos e a África do Sul lutavam no lado contrário.

Fidel Castro decidiu então enviar tropas para apoiar o MPLA a ficar no poder em Angola e Henry Kissinger não viu esse apoio com bons olhos.

“Ninguém podia prever que após tentar normalizar a relação entre Washington e Havana, Kissinger, um brilhante jogador do xadrez internacional, iria ficar enfurecido por um pequeno país intrometer-se nos planos que tinha para África. Após esse acontecimento, Henry quis dispor de todo o poder imperial americano para dizimar Cuba e o regime de Fidel Castro”, disse Peter Kornbluh, autor de ‘Back Channel To Cuba’ e diretor do Arquivo Projeto Cuba Documentada, citado pelo diário norte-americano New York Times.

De acordo com relatórios e documentos oficiais da Biblioteca Presidencial Gerald A. Ford, Kissinger conseguiu convencer um grupo secreto de oficiais americanos a preconizar medidas de retaliação contra Cuba, caso o regime de Fidel Castro decidisse enviar mais tropas para qualquer outra nação africana.

Os oficiais pertencentes ao grupo secreto engendraram ataques aéreos a portos marítimos e instalações militares, tal como previam enviar Marines e Navy Seals para a fortaleza de Guantánamo para pressionar os cubanos. O livro revela também que para Kissinger se tratava uma prova de força: caso os EUA não se impusessem a Cuba, o país seria visto e catalogado de fraco pela cena internacional.

Henry Kissinger chegou mesmo a avisar Gerald Ford na Sala Oval: “Mais cedo ou mais tarde teremos de atacar os cubanos”.Kornbluh, um dos autores que agora revela os planos do antigo secretário de Estado, escreveu também sobre as recomendações que Kissinger fez ao presidente Ford para o ataque ao país latino-americano. Diz-se que a sua linguagem era a de um homem cheio de ira e que explicava de forma veemente que um ataque a Cuba era essencial para os EUA.

Os ataques ficaram documentados. Tinham um custo de 120 milhões de dólares e implicariam a abertura de um novo porto marítimo em Porto Rico e a possibilidade de se perder a baía de Guantánamo, pela sua vulnerabilidade caso fosse atacada por cubanos. Para além disso, os americanos pensaram aplicar um bloqueio ao país de Fidel Castro que poderia ter despoletado uma grande guerra com a União Soviética.

Numa reunião com vários oficiais, Kissinger pediu que os ataques não tivessem meias medidas e fossem efetivos. “Se queremos utilizar poder militar, temos de ter sucesso. Não vamos receber um prémio por usarmos força militar de forma moderada. Se nos decidirmos por um bloqueio, temos de ser rápidos, eficientes e implacáveis”.

No entanto, os planos de Henry Kissinger nunca saíram do papel. O antigo secretário de estado quis recomendar um ataque ao regime de Fidel Castro em 1976, mas a eleição de Jimmy Carter nesse mesmo ano, fez com que os republicanos saíssem da Casa Branca.

“Para Kissinger estes não eram planos para ficarem guardados numa prateleira”, disse William LeoGrande, também autor do livro ‘Back Channel to Cuba’.Frank O. Mora, um antigo oficial e alta patente do Pentágono até ao ano passado, mostrou-se perplexo pela situação. “Estes planos de Kissinger deixam-me confuso. Quem o ouvisse falar, pensava que Cuba tinha invadido todo o continente americano”, concluiu.

LUSA

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