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Quarta, 24 Setembro 2014 11:00

Luanda, a «trituradora» de políticos.

Luanda tem sido considerada como o «cemitério dos políticos» e um local perigoso para quem ambicione voos mais altos na sua carreira. «É um lugar de mácula», dizem os críticos. Bento Bento foi o 18º governador que passou pelo palácio da Mutamba para dirigir os destinos da província onde se localiza a capital do país, em cerca de 39 anos de independência, o que perfaz uma média de dois anos de mandato para cada um .

O até então governador da província de Luanda, Bento Francisco Bento, foi exonerado das suas funções na última segunda-feira pelo Chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, que nomeou em seguida Graciano Francisco Domingos para o substituir.

De acordo com um comunicado proveniente da Casa Civil do Presidente da República, que não faz qualquer referência sobre as razões da exoneração de quase toda equipa da governação da província de Luanda, o titular do Poder Executivo nomeou também Jovelina Alfredo António Imperial para o cargo de vice-governadora da província de Luanda para o Sector Político e Social.

O Semanário Angolenase (SA) soube de fontes geralmente bem informadas que o Presidente da República começou por proceder a reajustes a nível da gestão da província, o que viria a culminar com a substituição do governador Bento Francisco Bento por um outro quadro «mais técnico que político», bem como com a nomeação de novos vice-governadores.

De um tempo a esta parte que o Chefe de Estado andava insatisfeito com os rumos da governação de Luanda, tendo emitido publicamente sinais neste sentido. Numa reunião do Comitê Central do MPLA, o Presidente admitiu que há um conflito de interesses entre quadros do partido e da administração pública, não excluindo a possibilidade de sanções.

Intrigas e quejandos

Bento Sebastião Francisco Bento, nomeado numa altura em que a situação administrativa da província ia de mal a pior, durante o seu mandato, para além de imensas promessas, pouco fez para equilibrar as coisas, não obstante ter implementado um sistema de governação aberto que, supunha-se, visava uma participação mais abrangente não só dos funcionários administrativos, mas também da população em geral.

Para alguns analistas, dois ou três anos não é tempo suficiente para se realizar o que quer que seja a nível de Luanda, mas tem sido bastante para mostrar a capacidade «trituradora» da capital em «desfazer» quem a governa. Já houve quem governou Luanda e nunca mais conseguiu reerguer-se.

Quando Bento Bento foi nomeado, entre diversas especulações, para dirigir os destinos da cosmopolita e controversa província em que se situa a capital do país, terá herdado, nas circunstâncias conhecidas, mais que uma dura empreitada, uma «batata quente», muito difícil de manejar.

Na sua qualidade de número um do partido no poder em Luanda, Bento Bento teve dissonâncias com alguns anteriores governadores e habituou a população, com destaque para os militantes do MPLA, a verem-no como uma espécie de advogado do povo perante as falhas do governo provincial e até perante as insuficiências do Executivo angolano.

Contudo, enquanto governador, a população depositou nele todas as esperanças defraudadas pelos anteriores detentores do cargo. Até hoje, a população sente saudades e afirma que o melhor governador de todos os tempos foi Aníbal Rocha.

Mas Luanda é Luanda; é a sede do Executivo, um lugar de intrigas políticas e de interesses que envolvem ministros, dirigentes partidários e até oficiais militares que, geralmente, valendo-se da posição, não respeitam nada nem ninguém, chegando ao ponto de vilipendiar o povo.

Outra dinâmica

Entretanto, especialistas defendem que a solução dos problemas de Luanda não passa pela mudança constante dos seus governadores, mas sim por uma outra dinâmica e pela mudança do estilo de governação da grande metrópole. Vem isto a propósito de o facto da exoneração de Bento Bento coincidir com a criação da Comissão de Restruração do Governo da província de Luanda, que integra figuras de confiança do Presidente José Eduardo dos Santos.

Este novo órgão terá como missão a desconcentração administrativa e a adopção de um modelo de administração local diferenciado das restantes províncias do país. Contudo, apesar da medida ora tomada pelo Presidente da República visar uma melhor gestão da provÍncia de Luanda, os anaslistas duvidam que essas mudanças venham a ter efeitos positivos.

Segundo eles, o problema é apenas um e não está nas pessoas, mas sim no modelo de governação. O Presidente da República tem pretendido um modelo ideal de governação de Luanda, mas as pessoas em quem confia acabam por defraudar.

A busca de exemplos governativos de outros países pode ser uma solução para Luanda: «Hoje no mundo já não há nada que inventar, é fazer estudos comparados, ir a Nova Iorque, África do Sul, Portugal, Rio de Janeiro para ver como se governam cidades grandes como Luanda», defendem os especialistas.

A continuar assim, apesar da boa vontade do Presidente da República, em termos práticos não se pode esperar quase nada das mudanças ora efectuadas, até porque não há evidências de que tenham sido de-tectados actos de grande incompetência ou de grande incompatibilidade.

Para alguns analistas, a mudança de mais um governador na província de Luanda nada mais é do que a habitual «dança das cadeiras». «Trata-se apenas de uma da-quelas mudanças que ocorrem de tempos em tempos», sublinham.

Um dos aspectos também apontados são as constantes interferências por parte do Governo central na gestão da governação da província de Luanda. Para eles, qualquer que seja a pessoa nomeada para governar Luanda vai ter grande dificuldades, porque não é o mesmo que governar qualquer outra província do país, porque o Governo está em Luanda e há grande inter-ferência governativa central.

Semanário Angolenase

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