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Segunda, 23 Agosto 2021 15:50

Conselheiro do PR aponta retrocessos em quatro anos, mas também “há coisas que melhoraram”

O coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA) assinalou hoje retrocessos nos quatro anos de mandato do Presidente angolano, João Lourenço, mas considerou injusto que se diga que a atual governação está pior que a anterior.

Sérgio Calundungo fazia, em declarações à agência Lusa, o balanço dos quatro anos de eleição do chefe de Estado angolano, que hoje se assinala.

“Acho que nestes quatro anos, se dividirmos em várias etapas, João Lourenço tão logo subiu ao poder trouxe consigo uma grande réstia de esperança”, referiu, sublinhando que João Lourenço começou por reconhecer “que havia graves casos de corrupção, de nepotismo, de abuso de poder”.

De acordo com o coordenador da OPSA, além de ter reconhecido essas situações, foi importante o compromisso com toda a sociedade para combater estas questões.

“Isso levantou a esperança, porque era um dos males que o país enfrentava no passado e enfrenta agora, mas naquela altura, antes de João Lourenço subir ao poder, as pessoas ligadas ao MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, partido no poder] e ao ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos não reconheciam publicamente que isto estava a ocorrer no país. O desespero era maior, porque ninguém faz correção de algo que não reconhece”, disse.

A demonstração de uma certa abertura para o diálogo, com empresários, sociedade civil, inclusive com os setores mais críticos, com as forças políticas que estão na oposição e a promoção de uma certa abertura aos órgãos de comunicação social foram também conquistas iniciais de João Lourenço apontadas por Sérgio Calundungo, mas em que considera agora haver um retrocesso.

Do ponto de vista económico e social, o coordenador da OPSA lembrou que o país estava numa situação de crescimento negativo, com uma crise económica muito forte, agravada por todo o problema da covid-19.

“Se, do ponto de vista dos direitos civis e políticos, no início o Presidente faz umas aberturas e o país vai no sentido positivo, aumenta a esperança, do ponto de vista económico e social, o país só foi regredindo. Muitos dos problemas são derivados dos pesados legados que ele herdou do anterior Presidente, de circunstâncias como o preço do barril de petróleo ou a crise da covid. Mas há outros resultados do fracasso das decisões políticas que foi tomando”, disse.

Para Sérgio Calundungo, que é membro do Conselho Económico e Social do Presidente angolano, João Lourenço “até hoje não soube lidar bem com alguns desafios”, como a definição de prioridades de investimento, considerando que, “em plena crise económica há gastos públicos que não se justificam”, como o metro de superfície ou o Bairro dos Ministérios, e que também “em medidas de natureza social o Presidente falhou”.

“Eu acho que ele não tem as melhores opções, nem as melhores equipas, nem tem tomado as melhores decisões para debelar ou enfrentar o difícil momento económico e social que o país atravessa”, acrescentou o economista.

“A situação económica e social não melhorou e aquilo que tinha melhorado, do combate a corrupção, ao nepotismo e à bajulação há sinais preocupantes de estagnação”, frisou.

Instado a comentar a razão de ser deste retrocesso da parte de João Lourenço, Sérgio Calundungo considerou que alguma pressão a nível do partido possa estar na base.

“Quando subiu ao poder fez uma coisa inovadora e inusitada, apanhando não só de surpresa os seus oponentes políticos e a sociedade, mas os seus pares. E a sensação que temos é que dentro do partido um grupo mais retrógrado, menos progressista, que tinha ficado minoritário, fruto da ação que o Presidente tinha implementado, começa a ganhar peso. Só assim é que eu posso entender esses sinais preocupantes de retrocesso”, disse.

O economista afastou a possibilidade de ser “apenas fruto de uma decisão pessoal”.

“Noto que o partido, que demonstrava ter mais abertura, começa a dar sinais preocupantes de retrocesso. Figuras que eram muito ligadas ao ex-Presidente, a um radicalismo na forma de estar e de fazer política, começam a emergir novamente, então, entendo que provavelmente há vozes internas que dizem que a abertura e o progresso que ele estava a promover, iria eventualmente ser prejudicial ao MPLA nas próximas eleições”, referiu.

Para Sérgio Calundungo, “é injusto” dizer que a atual governação “está pior” que a anterior, porque “há coisas que melhoraram e há coisas que pioraram”.

“No tempo do Presidente João Lourenço nunca o país teve tantas manifestações públicas contra, inclusive as autoridades. E isto não é comparável ao tempo do Presidente José Eduardo dos Santos, em que os últimos tempos reagia muito mal a isso”, referiu, indicando ainda que em quatro anos várias figuras mediáticas ou muito próximas do poder foram responsabilizadas civil e criminalmente e outras politicamente, com exonerações, por más práticas.

“Obviamente que o que fica mal na fita são os retrocessos face aos direitos civis, (…) a pressão que está a ser feita sobre o seu mais direto oponente político, Adalberto da Costa Júnior [líder da União Nacional para a Independência Total de Angola] não era expectável para um Presidente que assinalou abertura”, concluiu.

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