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Terça, 01 Junho 2021 15:01

Oposição angolana condena "escândalo" na Presidência, MPLA defende combate à corrupção

Partidos políticos da oposição angolana condenaram hoje o “escândalo financeiro” que envolve oficiais ligados à Presidência da República, pedindo “responsabilização exemplar” dos implicados, enquanto o MPLA garante que “o combate à corrupção vai continuar, doa a quem doer”.

“Estamos perante uma situação bastante grave, uma situação que vai afetar a reputação de Angola no ponto de vista económico e financeiro, porque não é admissível que avultadas somas financeiras fiquem fora do sistema financeiro”, afirmou hoje o presidente da CASA-CE, Manuel Fernandes, em declarações à Lusa.

Para o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), na oposição, as avultadas somas monetárias encontradas em posse do major Pedro Lussati revelam “uma certa máfia económica”.

“E descredibiliza (o país), de certa maneira, face a potenciais investidores, conferindo assim o estatuto de Angola de um país que não é sério, é grave”, sublinhou.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana anunciou na última semana a detenção do major Pedro Lussaty, ligado à Casa de Segurança do Presidente da República angolana, encontrado na posse de milhões de dólares, kwanzas e euros.

Foram igualmente apreendidos vários bens móveis e imóveis do oficial militar indiciado pelos crimes de peculato, retenção de dinheiro e associação criminosa.

Mais de 10 oficiais generais, incluindo o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, foram exonerados por João Lourenço na sequência deste caso cujo processo continua sob investigação na PGR.

Manuel Fernandes aplaude as exonerações, mas pede responsabilização dos implicados, que classifica como “autênticos antipatriotas”, considerando estar-se diante de uma situação “periclitante, com agravante de ser um agente que está ligado ao epicentro do poder”.

Do ponto de vista da imagem de Angola, da mobilização de investimentos, realçou, “esta situação vem manchar o bom nome de Angola e concorre para inibir potenciais investimentos para Angola”.

“Não sei se as exonerações bastam como tal, as pessoas devem ser responsabilizadas, porque tudo indica que é uma rede e todos aqueles que estimulam esse tipo de exercício devem ser responsabilizados porque são autênticos antipatriotas”, defendeu.

O também deputado da CASA-CE lamentou ainda a atual “degradação social das famílias, o elevado nível de pobreza no país e a debilidade do sistema de saúde”, enquanto “há pessoas a brincarem com avultadas somas monetárias que dizem respeito a todos os angolanos”.

Já o presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Lucas Ngonda, enaltece que esses factos sejam tornados públicos nesta fase, contrariamente ao consulado do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, considerando que João Lourenço “é um homem de muita coragem”.

“Porque tudo está a acontecer na sua própria casa, agora, na Presidência da República é onde se está a descobrir que um major que não tem um salário famoso aparece com milhões. Isso até é uma pouca-vergonha”, frisou, em declarações à Lusa.

Para o também deputado da FNLA, na oposição, essas práticas traduzem-se em “crimes que devem ser sancionados de uma forma exemplar”, atirou.

“Sim, algumas pessoas foram exoneradas, mas o exonerar não é suficiente, é preciso que a justiça funcione de uma forma exemplar para que isto marque o período que estamos a viver e que as coisas não tornem a acontecer”, rematou.

O combate à corrupção, à impunidade e ao nepotismo constituem os principais eixos de governação do Presidente angolano, João Lourenço, há quase quatro anos no poder.

Em nota enviada hoje à Lusa, em resposta a um pedido para comentar sobre as incidências deste caso e as consequentes exonerações, o secretário para a Informação do bureau político do MPLA, Rui Falcão, referiu que o “combate à corrupção continua a todos os níveis”.

Segundo o político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde 1975), “só é possível trazer a público estes e outros factos, porque o combate à corrupção é efetivo e sério”.

“Não fosse isso, jamais esses casos seriam conhecidos”, escreveu Rui Falcão, observando que “corrigir o que está mal não é uma vereda de facilidades”.

O deputado do MPLA referiu igualmente que, ao tomar as decisões que foram tomadas, o seu partido “sabia das consequências daí advenientes”, afirmando que “entre manter o ‘status quo’ ou agir” o seu partido “vai continuar a agir até baixarem os índices de corrupção no país”.

“O que lhes posso garantir é que continuaremos firmes na construção de uma Angola melhor, doa a quem doer”, concluiu Rui Falcão, na nota enviada à Lusa.

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