"O caso do BESA também levanta sérias questões sobre a integridade do sistema bancário angolano. Como perguntam os mais ingénuos: porque é que um país de desempregados, sub-empregados e de trabalhadores mal pagos que não fazem poupanças tem tantos bancos? O que atrai os bancos para Angola?", questionou Isaías Samakuva.
As dúvidas do líder do maior partido da oposição em Angola - numa alusão aos 25 bancos que operam no país - foram lançadas na intervenção de abertura da IV reunião, de dois dias, da comissão política da UNITA, que termina esta quarta-feira em Luanda.
"São as oportunidades de ganhar dinheiro fácil através da delapidação do Tesouro Nacional? Será que os que governam o país precisam dos bancos internacionais, que são respeitados internacionalmente, para virem cá e receber o produto do roubo na forma de depósitos?" - interrogou-se ainda Samakuva, acusando o sistema bancário de não perguntar pela origem do dinheiro.
"Pegam numa parte desse dinheiro e distribuem a certas pessoas do regime. E outra parte entra em aviões para destinos desconhecidos. À distribuição que fazem chamam empréstimos, só que depois nunca mais pagam tais empréstimos", enfatizou.
Sobre o Banco Espírito Santo Angola (BESA), detido maioritariamente pelo Banco Espírito Santo português (55%) e agora sob intervenção do Banco Nacional de Angola, o líder da UNITA afirma que o "caso" constitui "um exemplo de como pessoas nas vestes de agentes do Estado [em Angola] utilizam os fundos públicos e a autoridade pública para atos ilícitos".
Aludindo ao crédito malparado naquele banco, que segundo a UNITA poderá atingir os cinco mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros), Isaías Samakuva recordou que esses empréstimos, alegadamente sem garantias suficientes, serviram o interesse privado.
"Estes privados ficaram com o dinheiro, ficaram com as casas, ficaram com as empresas e não querem pagar", acusa, reclamando a constituição de uma comissão de parlamentar de inquérito, nomeadamente sobre a emissão de uma garantia soberana do Estado - cuja revogação foi entretanto anunciada pelo BNA - sobre estas dívidas.
"Quem fala do BESA, fala também dos buracos que existirão nos outros bancos e das lavagens de dinheiro aí praticadas. Todo o sistema bancário está minado", afirma o líder da UNITA.
Retomando as críticas à liderança de José Eduardo dos Santos, Presidente da República eleito pelo MPLA, Samakuva afirma que "um grupo de predadores que se confunde com o Estado" e utiliza o sistema financeiro nacional "para executar operações ilícitas de branqueamento de capitais, enriquecimento ilícito e corrupção, dentro e fora de Angola".
"E a Justiça angolana mostra-se incapaz de investigar e julgar tais crimes", remata.
Lusa