O presidente da república de Angola estima que tenham sido desviados 23,79 mil milhões de dólares dos cofres públicos angolanos pelo anterior regime de José Eduardo dos Santos e respetivos associados. Um número revelado por João Lourenço na primeira parte de uma entrevista ao The Wall Street Journal.
Segundo o presidente, 13,52 mil milhões terão sido desviados por via de “contratos fraudulentos com a Sonangol”, 5,09 mil milhões de dólares por via das empresas públicas de diamantes Sodiam e Endiama e os restantes 5,19 mil milhões “de outros setores e empresas públicas”, elencou o chefe de Estado angolano.
Nem todo o dinheiro estará perdido e João Lourenço assegura que “o Estado recuperou definitivamente cerca de 4,9 mil milhões de dólares em dinheiro e bens até ao momento”. Concretamente, elencou, 2,71 mil milhões em cash e 2,19 mil milhões em imobiliário, fábricas, supermercados, hotéis, terminais portuários, estações de televisão, rádio, participações sociais em instituições financeiras e em diversas empresas rentáveis, além de material de electricidade e outros activos, em Angola, Portugal e Brasil”, indicou.
Além disso, segundo João Lourenço, a justiça angolana já solicitou que sejam confiscados ou congelados ativos e dinheiro no valor de 5,43 mil milhões de dólares, em localizações como Suíça, Holanda, Portugal, Luxemburgo, Chipre, Mónaco, Reino Unido e “a lista tende a alargar-se”, referiu o presidente.
Há cerca de um mês, a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, disse em entrevista que “irritou muita gente” ao anular contratos que lesavam a Sonangol. A empresária, que foi presidente do conselho de administração (PCA) da Sonangol durante cerca 18 meses e é arguida por alegada má gestão e desvio de fundos na petrolífera, falava na sexta-feira à rádio MFM numa entrevista centrada nos tempos em que liderou a empresa, entre junho de 2016 e novembro de 2017, período em que diz ter identificado e tentado resolver vários problemas.
A empresária realçou também que apresentou o diagnóstico ao executivo da altura, presidido por José Eduardo dos Santos, tendo também dado conhecimento ao então candidato à Presidência angolana João Lourenço, que a viria a exonerar, lamentando que depois da saída da sua equipa tenham regressado à Sonangol pessoas e firmas alegadamente envolvidas nos esquemas que lesavam a empresa.
Isabel dos Santos afirmou que aceitou o convite para ir “salvar a Sonangol” que se encontrava numa situação de pré-falência, sabendo que havia um “preço político” a pagar, mas com “espírito de missão”. Uma das tarefas que assumiu era a de “combater a corrupção” que existia na Sonangol, identificar para onde o dinheiro estava a ir e porque é que a petrolífera estava a perder tanto dinheiro, tendo-se apercebido que havia uma sobrefaturação em vários contratos.