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Sexta, 28 Agosto 2020 16:38

"Vamos fazer parte da agenda política nacional em 2022" - Abel Chivukuvuku

O coordenador do PRA-JA, Abel Chivukuvuku, diz à DW que ainda tem fé que o Tribunal Constitucional legalize o seu projeto político. Já quanto às autárquicas, não acredita que se realizem nem neste, nem no próximo ano.

Em entrevista exclusiva à DW África, Abel Chivukuvuku começa por dizer que o PRA-JA fez uma coisa "inédita" ao levar ao Tribunal Constitucional mais de 30 mil assinaturas em detrimento das 7.500 exigidas por lei. Ainda assim, diz ele, a Justiça "recusou legalizar" o seu projeto político. O tribunal alegou problemas nas assinaturas. Mas Chivukuvuku tem esperança.

"Primeiro, tenho fé. Segundo, temos o dever de lutar no nosso país para a implementação de princípios democráticos, mesmo que isso não seja para o nosso proveito", afirma. "Nós temos que ter também um papel didático, para ajudar os dirigentes do MPLA a libertarem-se do passado deles de não democraticidade."

Abel Chivukuvuku não fala ainda sobre um plano B, caso o Tribunal Constitucional volte a chumbar o projeto político. Mas de uma coisa tem a certeza: "Em 2022, com PRA-JA ou sem PRA-JA, vamos fazer parte da agenda política nacional."

Candidato à Presidência? "Quem não sonha, morreu"

Sobre as eleições autárquicas, Abel Chivukuvuku não acredita que venham a acontecer nos próximos anos. O político acha que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) "tem medo das autarquias locais".

Entretanto, não comenta se será candidato a Presidente da República em 2022. Diz apenas que todos do seu projeto serão candidatos: "Preciso de desmistificar a ideia de que, em tudo que eu faço, tenho de ser o número 1. Em tudo que eu faço, eu quero contribuir, sendo número 1, 2, 3, 4 ou 5, isso é irrelevante."

Mas continua com o sonho de querer ser Presidente angolano?

"Quem não sonha, morreu. Quem não sonha, não tem vida. É um direito. No entanto, não é um imperativo. O que significa que as circunstâncias de 2022 vão determinar", diz Chivukuvuku à DW África.

Coligação da oposição?

Uma destas circunstâncias poderá ser a criação de uma coligação dos partidos da oposição para fazer frente ao MPLA, um debate que ele mesmo encorajou este mês no seio da política angolana.

"Talvez em Angola fosse desejável encontrarmos um modelo em que todas as forças da oposição ou as forças relevantes e patrióticas se juntassem para fazer uma espécie de união dos povos de Angola contra o MPLA, e aí é irrelevante quem fica número 1. Posso ser número três ou número cinco, é irrelevante."

Chivukuvuku sugere à oposição angolana que se una contra o MPLA nas próximas eleições gerais

Esta semana, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) saudou a ideia de uma coligação, mas o maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), disse que ainda é cedo para pensar nisso.

Quem financia o PRA-JA?

Em 2012, a poucos meses das eleições gerais, Chivukuvuku fundou a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), depois de deixar a UNITA. Mas viria a ser destituído, em 2019, por alegada "quebra de confiança", e criou a seguir o novo projeto político, o PRA-JA.

Será que Abel Chivukuvuku voltaria a ser militante da UNITA caso o projeto político não seja legalizado? Em resposta à DW África, o político foi perentório.

"Se essa fosse a opção, não teria saído."

Muito se questiona sobre as fontes de financiamento para a criação da CASA-CE e do PRA-JA. Já se especulou que Chivukuvuku tenha recebido apoio financeiro da empresária Isabel dos Santos. Mas o político nega.

"Se ela me desse apoio, até gostaria. É cidadã angolana, qual é o problema?"

Também rejeita ter recebido apoio financeiro da comunidade internacional, porque a lei dos partidos políticos proíbe financiamentos do género, explica. "E nós cumprimos a lei. Agora, não proíbe o apoio diplomático, humano, etc. Ontem mesmo almocei com a embaixadora americana."

Afinal, de onde vem o dinheiro?

"Ao longo da vida fomos trabalhando e há credibilidade, os cidadãos acreditam e ajudam."

Alto desemprego jovem

A 26 de setembro, o Presidente angolano, João Lourenço, completa três anos no poder. Chivukuvuku diz estar preocupado com a Angola de hoje: "Aumentou o desemprego, particularmente na classe jovem e, sobretudo, na classe jovem que estudou, o que é ainda mais grave. E a expetativa de melhorias não é visível. Estamos mal."

Em relação à famosa "cruzada contra a corrupção" do Presidente da República, Chivukuvuku diz que não é possível resumir a problemática em poucas palavras. Mas entende que em Angola não há "muita corrupção - nós temos é muito roubo".

O antigo responsável da CASA-CE diz que tem contactos regulares com o Presidente João Lourenço. E aproveita para felicitar o ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, por mais um aniversário, esta sexta-feira (28.08).

Por fim, como é que Abel Chivukuvuku gostaria de ser lembrado? "Como alguém que contribuiu, alguém que foi útil, alguém que se colocou à disposição do país."  DW África

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