Sim, mudanças são necessárias e, na minha opinião, estão «condenadas» a ocorrer entre nós, não porque os habituais adversários externos de Angola não desistem de trazer a instabilidade para dentro das nossas fronteiras, aproveitando-se muitas vezes dos nossos erros e debilidades, mas por corresponderem a necessidades internas efetivas, que as elites dominantes, se quiserem continuar a sê-lo, não podem olimpicamente ignorar e desprezar. Mas tais mudanças devem ser positivas, promovendo a resolução dos problemas que a sociedade ainda enfrenta, e não o inverso, ou seja, acarretando «desforras históricas», que impliquem novas exclusões e perseguições.
Resistir e sobreviver a uma das maiores conspirações internacionais da recente história contemporânea, contribuir para a libertação da parte sul do continente africano, iniciar um processo de pacificação interna inédito em África e dar os primeiros passos rumo ao crescimento e ao desenvolvimento foram as grandes realizações e conquistas do ciclo que agora se aproxima do fim. Como não há processos históricos isentos de erros, isso foi feito entre avanços e recuos, luzes e sombras, momentos de invulgar inspiração e generosidade e atos e opções criticáveis e até condenáveis. Mas o balanço global é comprovadamente favorável, o que explica a razão por que Angola é, neste momento, uma referência incontornável em África e não só.
Por João Melo
Revista África21