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Quinta, 18 Fevereiro 2016 20:21

A Angola do “isto”, das 800 mil pessoas com fome e dos “bifes de atum”

"Desnutrição aguda grave", ou fome extrema: é a principal causa de morte das crianças até aos 5 anos no mundo, diz a UNICEF. Um alerta desta agência da ONU aponta esta semana Angola como um dos países que suscitam preocupação, com cerca de 1,4 milhões de pessoas afetadas pela seca e cerca de 800 mil a precisar de ajuda alimentar, a maioria no sul do país.

Por Leston Bandeira | AM

Quem não sofre seguramente de desnutrição é o deputado pela bancada do MPLA João Pinto, que diz que “isto” – presume-se que, além da seca, a falta de alimentos nas prateleiras em supermercados em todo o país e o encarecimento de bens essenciais para além do que a generalidade da população pode suportar – “vai passar".

“Se (antes) comíamos bifes caros, vamos comer bifes de atum, e é preciso que aqueles que comiam muitos pratos reduzam para um'', disse à rádio VOA. “Isto vai passar, apesar de haver um pouco de ansiedade, mas temos que transmitir confiança e mudar de habitados todos nós”.

Opinião diferente – muito diferente – tem a maioria dos analistas independentes. Um deles é Carlos Rosado de Carvalho, o economista e director do Jornal Expansão. Para ele, a economia angolana está condenada a uma longa agonia, uma vez que a diversificação económica não se faz de um dia para o outro e tudo quanto o governo anda a prometer nesse domínio é mentira.

“Agora anunciaram um segundo plano anti-crise. Já no ano passado tinham feito a mesma promessa. É mentira. Andam a enganar-nos”, disse em entrevista à rádio LAC. É impossível, afirma, criar uma economia com geradores, sem água e com comunicações caras e de má qualidade.

Para o economista, Angola tem uma indústria baseada na importação e dá como exemplo a indústria das bebidas, de resto, a única que cresceu nos últimos anos em Angola. Essa indústria é alimentada do exterior, já que os ingredientes são importados e depois são misturados em Angola. “Nós contribuímos apenas com a nossa água a com a nossa mão de obra…”

Não se diversifica uma economia em um ou dois anos, afirma. As promessas de aumento da produção, relaciona com as eleições em 2017.

Ao mesmo tempo, salienta a falta de gente em quantidade e com a qualidade necessária para se criar uma economia em que exista concorrência. E faltam empresários desde a estatização pós-independência. “Nessa altura a estrutura empresarial foi destruída e agora demora muito tempo a ser recomposta”.

E dá o seu próprio exemplo: “o restaurante onde costumo almoçar aumentou, na última semana, os preços mais de 1.000 Kwanzas. E há outro ao lado ou perto, melhor e que pratique outros preços? Claro que não há”.

Rosado de Carvalho escandaliza-se notoriamente quando constata que para as pessoas precisam de uma “carta de chamada” para irem para Angola e aí relaciona a política de migração com os delírios daqueles que dizem que o “o Turismo pode ser o nosso segundo petróleo”.

“Verdade que nós achamos que há, em Angola, muitos locais bonitos. Somos angolanos e gostamos da nossa terra. Mas quem vem a Angola com as dificuldades que aqui vêm encontrar? “Estão a brincar connosco”, diz, na entrevista, Rosado de Carvalho.

Pode parecer que não, mas falam todos do mesmo país: a Unicef, Rosado de Carvalho e o deputado que troca a carne pelo peixe.

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