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Quarta, 16 Abril 2014 13:31

Às vezes no silêncio da noite

A diplomacia, no mundo actual, tem muito por onde evoluir.

Já não encontramos países que dominem, claramente, começa a ser evidente que a hegemonia absoluta é um termo do passado e que as relações internacionais de antigamente devem ajustar-se ao mundo de hoje. Portugal e Angola são países irmãos, unidos pela pesada história, pela língua portuguesa que partilhamos e pelas gentes. Podemos viver em continentes diferentes, em climas distintos e com formas de estar diferentes, mas, como dizia Rui Veloso, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa.

 Angola começa a dar os seus passos como país rico. País rico com pessoas pobres, um paradoxo, nas palavras de cá, um país com recursos naturais vastos, que não chegam a todas as pessoas em igual medida. Mas hoje percebemos que, após o amuo de José Eduardo dos Santos e de continuar aberto o livro de cheques de Isabel dos Santos, a diplomacia entre os dois países funciona ao nível do que deve ser sempre uma diplomacia (bem executada): silenciosa. Palavra do senhor embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica.

A excitação pretérita, fruto da crescente ligação dos media entre Portugal e Angola levou a uma crise estéril. A pressão, dos dias de hoje, de se viver na espuma dos dias está bastante centrada na luta das tiragens. As relações entre Estados-soberanos merecem cuidados, recato e respeito mútuo. No entanto, o respeito jamais pode significar desculpabilização via livro de cheques.

Por mais que a Avenida da Liberdade aumente em número de lojas de luxo e cresçam as suas vendas, por mais que existam mais de 150 mil portugueses a labutar em Angola, a "parceria estratégica" não pode funcionar como instrumento de pressão, de cariz económico, em troca de arquivamento de processos judiciais. Se esta fronteira for clara, podemos continuar, nos bastidores, a trabalhar para uma verdadeira e mutuamente proveitosa relação entre Portugal e Angola.

Até lá, tem que ser claro que o dinheiro não compra tudo, nomeadamente respeitabilidade. Citando Karl Marx: "O dinheiro é o valor universal e autoconstituído de todas as coisas. Despojou, assim, o mundo inteiro, tanto o mundo humano como a natureza, do seu próprio valor." Mas restam-nos a honra e a justiça. Que, para gente de bem, não podem ter preço.

Por Diogo Agostinho

Diário Econômico

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