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Terça, 05 Dezembro 2023 18:55

Sem solenidade de uma visita de Estado: Lourenço e Biden unem-se pelas matérias-primas

Os Estados Unidos querem um corredor ferroviário, o do Lobito, que garanta o abastecimento de minérios como o cobalto e o cobre. Angola precisa dos norte-americanos para diversificar a proveniência do investimento estrangeiro.

Não teve a solenidade de uma visita de Estado, mas serviu para reforçar do ponto de vista mediático a relevância que os Estados Unidos atribuem a Angola. O encontro de trabalho entre Joe Biden e João Lourenço que teve lugar na quinta-feira, 30 de novembro, foi um casamento de interesses perfeito. Foi útil ao Presidente angolano para passar a mensagem interna de que o país está a progredir e vai surgir mais investimento estrangeiro. Para o líder norte-americano tratou-se de consolidar um relacionamento que permita obter as matérias-primas necessárias à produção de carros elétricos escapando ao controlo chinês.

É precisamente nesta dimensão que entra em cena o corredor do Lobito, na província de Benguela, um megaprojeto ferroviário que quer unir o continente africano do Atlântico ao Índico.

A primeira fase deste projeto, que liga o Lobito à República Democrática do Congo (RDC), já foi adjudicada à Lobito Atlantic Railway, empresa constituída pela Mota-engil África, a suíça Trafigura e a belga Vecturis. A fase número dois do projeto passa por ligar a RDC à Zâmbia. A República Democrática do Congo é o maior produtor mundial de cobalto, sendo que ocupa igualmente a primeira posição entre os países africanos no ranking dos produtores de cobre.

A Zâmbia é igualmente um exportador relevante desta matéria-prima.

Não é por acaso que a Administração Biden tem feito questão de elogiar os esforços levados a cabo por João Lourenço para assegurar a pacificação da Região dos Grandes Lagos, uma vasta zona que compreende o Ruanda, Burundi, Uganda, República Democrática do Congo e partes da Tanzânia e Quénia.

Angola está a cumprir o segundo mandato na presidência na Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e essa circunstância deu-lhe uma dimensão diplomática acrescida no plano regional que os Estados Unidos valorizam.

Em contrapartida, o Governo de João Lourenço precisa de injetar dinamismo na economia. Os norte-americanos já demonstraram a intenção de investir 950 milhões de dólares (872 milhões de euros) no corredor do Lobito e outros 250 milhões de dólares (230 milhões de euros) em energia solar. Robert Kaplan, da Squire Patton Boggs, a empresa de lóbi dos EUA contratada por Angola em 2019, resume assim as portas abertas pelo encontro de Biden com João Lourenço. “Qualquer lugar em África é difícil para fazer negócios, mas se uma empresa americana os quiser fazer provavelmente escolherá um país que tenha uma relação muito próxima com os Estados Unidos ao mais alto nível. Portanto, esta reunião é significativa também para esse propósito”, afirmou o lobista ao site Politico.

A prioridade do presidente angolano passa assim por atrair este investimento, o qual é igualmente fundamental para diminuir a dependência económica do país em relação à China.

Para a história ficam as palavras. Joe Biden, após o encontro, garantiu que “a parceria entre Angola e os Estados Unidos é mais importante do que nunca”, enquanto João Lourenço sublinhou que Angola está disponível para cooperar com os EUA “em todos os domínios, incluindo economia, defesa e segurança, transportes e energia, telecomunicações, agricultura, exploração do espaço para fins pacíficos e outros domínios que forem do interesse dos dois países”.

Jornal de Negócios

 
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