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Sábado, 25 Abril 2015 13:43

África do Sul tem um problema de imigração ilegal, diz Zuma em resposta a Mia Couto

O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, agradeceu o apoio dos moçambicanos na luta contra o "apartheid", numa resposta a uma carta aberta do escritor moçambicano Mia Couto, mas salientou que o seu país enfrenta um problema de imigração ilegal.

"Há algumas queixas e problemas que cidadãos levantam e que precisam ser ponderadas", escreveu Zuma, numa carta publicada na sexta-feira na íntegra em várias edições eletrónicas de jornais sul-africanos, referindo-se ao aumento da imigração ilegal, à criminalidade e à competição por postos de trabalho.

Segundo o Presidente sul-africano, as queixas dizem também respeito a estrangeiros não documentados que expulsam dos seus espaços pequenos vendedores locais, outros que se dedicam ao tráfico de droga ou de pessoas, e ainda imigrantes ilegais que aceitam salários mais baixos.

"Nenhuma destas queixas justifica qualquer forma de violência contra estrangeiros e que não será tolerada pelo Governo", destaca o Presidente sul-africano, acrescentando que "nem todos os imigrantes estão ilegais e nem todos estão envolvidos em atividades criminosas".

Na sua longa carta de resposta ao "irmão Mia Couto", Zuma agradeceu o apoio recebido no seu exílio em Maputo.

"Não posso esquecer-me da amizade que Moçambique concedeu aos meus camaradas e a mim pessoalmente. Na verdade, Moçambique tornou-se na minha segunda casa e mantém-se como minha casa", escreveu.

O Presidente sul-africano disse lembrar-se do romancista quando era jornalista e lamenta voltar ao contacto em "circunstâncias tristes e dolorosas", num momento em que a África do Sul vive a sua pior crise de violência xenófoba desde 2008 e que já custou a vida a sete pessoas, três das quais moçambicanas.

Zuma reconhece a dor na carta de Mia Couto, acrescentando que ela é partilhada pelos sul-africanos, que "não são definitivamente xenófobos", e que "as ações de uma minoria não podem ser usadas para rotular e estereotipar mais de 50 milhões de pessoas".

O Presidente da África do Sul afirmou que o seu país "trabalha incansavelmente desde 1994 para reverter a herança do colonialismo do `apartheid`" e assegurou que vai continuar "a construir uma sociedade livre de qualquer forma de discriminação", porque os sul-africanos conhecem "a dor de serem discriminados pela cor, língua e nacionalidade".

Foi na luta contra esse regime que Zuma reconhece o apoio dos seus "irmãos e irmãs africanos", lembrando o ataque de forças do "apartheid" à cidade da Matola, nos arredores de Maputo, em 1981, em que "muitos foram mortos".

"A África do Sul não mudou e não se esqueceu dessa camaradagem e solidariedade", declarou.

Numa carta aberta, divulgada há uma semana, Mia Couto considerou a onda de violência xenófoba uma agressão aos próprios sul-africanos, defendendo que esta crise "mancha" o país e ameaça os sentimentos de gratidão e solidariedade entre africanos.

Para fugir dos altos índices de pobreza em Moçambique, a população, principalmente a mais jovem das zonas rurais do sul do país, emigra ilegalmente para a África do Sul, à procura de melhores condições de vida no país vizinho e uma das economias mais avançadas de África.

A vaga de violência na África do Sul teve início após declarações atribuídas ao rei zulu, Goodwill Zwelithini, convidando os estrangeiros a fazer as malas e a partir e que o próprio disse entretanto ter sido mal interpretado.

Em declarações à imprensa local, Edward Zuma, filho mais velho do Presidente, disse concordar com o pronunciamento do rei zulu.

Mais de dois mil moçambicanos já regressaram ao seu país em fuga da crise xenófoba, que gerou uma vaga de indignação e ações pontuais de retaliação em Moçambique, cuja capital é hoje palco de uma manifestação de protesto contra a violência no país vizinho.

LUSA

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