"É um exemplo flagrante de que é um Governo que se impõe pelas armas. Sem as armas, não tem discurso. Sem as armas, não tem política. Sem as armas, não tem ideias. Portanto, é a única leitura que eu posso fazer", disse o político, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, em declarações à Lusa, já depois de sair do aeroporto de Maputo.
Eu estou psicologicamente, espiritualmente, emocionalmente pronto para todo o tipo de situações. Portanto, não há nada que possa ocorrer que seja surpresa ou que me possa provocar pânico. (...) Portanto, não me vou alterar de forma nenhuma. Isso vai fazer parte, certamente, do percurso, dos pedregulhos, das barreiras que eu terei que enfrentar pela luta e pela missão que eu decidi carregar. Então tudo isto tem um preço. Há missões que o preço, por exemplo, é só perder o salário. Há missões que é preciso perder o emprego, há missões que o preço é perder dinheiro. A minha missão está muito acima disso. É uma cruz que eu tenho que carregar", disse o responsável político em declarações à imprensa.
Questionado sobre o que poderia suceder nesta terça-feira depois de se deslocar à PGR, Venâncio Mondlane disse acreditar que "deve ser alguma coisa um pouco sinistra".
"Quando se diz que eu tenho que estar acompanhado do meu advogado para saber da resposta aos requerimentos que eu tenho... Não sei, já perdi a conta dos requerimentos que submetemos à Procuradoria desde 2023, que nunca tiveram respostas. Agora há uma resposta célere logo no dia que se segue a minha chegada aqui a Maputo. Mas como eu disse, isso não é uma coisa que me preocupa, é uma coisa que não me tira o sono. É uma coisa que não cria nenhum tipo de perturbação psicológica, porque eu estou pronto", vincou o líder de oposição.
Pouco depois de este responsável deixar o aeroporto onde foi acolhido com forte dispositivo de segurança, a polícia lançou gás lacrimogéneo para dispersar as várias dezenas de apoiantes que se tinham deslocado ao local. Em comentários à agência Lusa, Venâncio Mondlane considerou que se trata de "um exemplo flagrante de que é um Governo que se impõe pelas armas. Sem as armas, não tem discurso. Sem as armas, não tem política. Sem as armas, não tem ideias. Portanto, é a única leitura que eu posso fazer”.
O ex-candidato presidencial esteve algumas semanas na Europa, em contactos em Portugal e na Alemanha, e anunciou que chegaria ao aeroporto internacional de Maputo esta tarde, tendo sido recebido por várias dezenas de apoiantes, cerca das 15:30 locais (menos uma hora em Lisboa), com cânticos de "salve Moçambique, este país é nosso", tal como na campanha eleitoral e nas manifestações pós-eleitorais.
Pelas 16:00 locais, o político, envolvido por uma moldura humana e com vários meios da polícia posicionados no interior e nas avenidas adjacentes ao aeroporto, deixou o local, em direção a casa, no centro de Maputo, percurso em que foi escoltado por várias viaturas da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que realizaram mais de uma dezena de disparos de gás lacrimogéneo ao longo dos 10 minutos de viagem, enquanto apoiantes se concentravam nas ruas ao ver Venâncio Mondlane no tejadilho da viatura, perante um trânsito quase bloqueado.
"É, de facto, um reconhecimento de que este Governo não tem legitimidade nenhuma. Este Governo não tem base social absolutamente nenhuma. Este Governo está distanciado do povo e a única forma que eles têm de fazer política, ao invés de apresentar políticas públicas alternativas que respondam às necessidades do povo, a única forma que eles se posicionam na política é com base no campo das armas", criticou ainda.