“A nossa democracia demonstrou que está madura e a transferência de poder decorreu sem dramas”, sublinhou o advogado de direitos humanos de 54 anos eleito na semana passada Presidente deste país maioritariamente desértico da África Austral, vizinho de Angola e próximo de Moçambique.
De pé, ao lado do seu antecessor Mokgweetsi Masisi, 63 anos, com a sua característica gravata vermelha e sorriso largo, o advogado disse: “Sua Excelência telefonou-me e garantiu-me que iria entregar o poder e aqui estamos hoje sem qualquer apreensão ou acrobacia”. “Se estivéssemos noutros países, estas coisas não teriam acontecido.
Teríamos mergulhado numa agitação civil, com os detentores do poder a recusarem-se a aceitar os resultados”, afirmou na sede da presidência, em Gaborone.
O Botsuana está “a enviar uma mensagem ao continente e ao resto do mundo” de que “a democracia está viva e em ação”, acrescentou, prestando homenagem à atitude do seu antecessor.
“Para ele, a democracia não é apenas alardeada, é vivida. Se alguém tinha dúvidas sobre isso, incluindo eu próprio, elas foram dissipadas”, afirmou.
Descrito como escrupulosamente honesto, Duma Boko, que encarna uma forma de renovação, impulsionada pelo seu carisma de orador e por um estilo elegante, disse aceitar “com humildade” as “responsabilidades e expectativas consideráveis” que estão em jogo num país cuja economia está a meio gás.
Dirigindo-se aos altos funcionários e aos funcionários públicos, rejeitou qualquer noção de compadrio prometendo “funcionar com base no mérito” e que “o mérito não quer saber” quem é amigo de quem. Por seu lado, Masisi sublinhou que a democracia “não é uma abstração”.
O seu partido, que tem estado no poder desde a independência dos britânicos em 1966, tem agora de “aprender” a “ser uma minoria da oposição”, admitiu. A derrota foi admitida muito antes do anúncio, na sexta-feira dos resultados oficiais finais.
“O povo exprimiu-se em grande número e de forma transparente. Nós curvámo-nos perante os resultados. Perdemos”, referiu Masisi, acrescentando que "a responsabilidade era enorme, porque nunca tínhamos passado por uma mudança de regime antes”, insistiu, pedindo a todos que ‘respeitassem’ o novo Presidente".
O UDC, o principal partido da oposição no Botsuana, obteve a maioria absoluta no parlamento após eleições marcadas pela derrota histórica do partido BDP, e na sequencia o parlamento elegeu o Presidente do país, Duma Boko. O Botsuana, conhecido pelas suas minas de diamantes e por albergar a maior população de elefantes do mundo, é também a democracia mais antiga da África Austral.
Embora seja um dos países mais ricos de África em termos de Produto Interno Bruto ‘per capita’, o Botsuana também é um dos mais desiguais do mundo, de acordo com o Banco Mundial, e a sua economia tem sofrido nos últimos anos com a queda do preço dos diamantes. Os diamantes, de que é o segundo maior produtor mundial, representam um quarto da economia do país e mais de 90% das suas exportações.