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Quinta, 30 Outubro 2014 21:06

'Golpe de Estado' popular no Burkina Faso

Militares assumem “governo de transição” no Burkina Faso após dia de caos na capital Militares assumem “governo de transição” no Burkina Faso após dia de caos na capital

O Exército de Burkina Faso anunciou nesta quinta-feira a dissolução do governo e da Assembleia Nacional, depois que protestos contra o governo de Blaise Compaore resultaram na invasão do Parlamento unicameral, que foi incendiado. O chefe militar Honoré Traoré também anunciou a criação de um órgão de transição até a realização de eleições, em um período de um ano. Não precisou, no entanto, quem vai encabeçar a junta – na prática, ninguém sabe quem está no comando do país neste momento.

“Um órgão de transição será colocado em funcionamento em consulta com todos os partidos”, disse Traoré. “Uma volta à ordem constitucional é esperada para um período não superior a 12 meses”, completou.

Além do Parlamento, emissoras estatais de televisão e rádio também foram invadidas e tiveram de interromper a transmissão. Residências de aliados e familiares de Campaore foram incendiadas. Segundo testemunhas, forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e munição de verdade para repelir manifestantes que ameaçavam invadir o palácio presidencial, na capital Uagadugu. O número de mortos nos protestos diverge de acordo com a fonte – há relatos de até cinco vítimas. Diante do caos, os militares impuseram um toque de recolher das 19 horas às 6 horas, “para garantir a segurança das pessoas e das propriedades”, segundo Traoré.

As manifestações tentavam evitar o avanço de uma proposta que acabaria com o limite constitucional de dois mandatos. Na prática, Compaore está no poder há quase três décadas. Ele assumiu o comando do país em 1987, depois de um golpe, venceu todos os pleitos realizados desde então e tentava se eternizar no cargo, até ser alvo de um novo golpe nesta quinta. 

Antes de o Exército se manifestar, um texto distribuído a rádios locais e apresentado como um comunicado oficial do governo fazia um chamado ao diálogo para tentar colocar um fim à crise. A agência France-Presse, contudo, apontou que o documento não seguia o padrão oficial. O comunicado também declarava estado de emergência em Burkina Faso e acrescentava que o chefe das Forças Armadas estava encarregado de implementar a decisão. 

Ao fim da manhã, Blaise Compaoré fez uma primeira prova de vida através do Twitter, pedindo aos seus compatriotas que mantivessem a "calma e serenidade" — chegou a circular que saíra do país com a sua família. Ao mesmo tempo, o Governo anunciava que o decreto remetido ao Parlamento para mudar a Constituição tinha sido anulado e já não seria votado. Não ficou, porém, claro se se tratava de um adiamento ou se a proposta tinha sido abandonada, como exigiu a União Europeia e os Estados Unidos. 

O opositor Zephirin Diabre disse a uma rádio local que o estado de emergência era inaceitável. “Estamos convocando as pessoas a mostrarem que são contra isso. uma renúncia do presidente Blaise Compaore é a única coisa que pode trazer paz para o país”, defendeu.

Compaore foi ministro quando Thomas Sankara era presidente e assumiu o comando em 1987, depois de Sankara ter sido morto em circunstâncias não esclarecidas, informou a rede britânica BBC. Foi eleito em 1991 e 1998. No ano 2000, uma nova Constituição restringiu a dois os mandatos presidenciais. Ele ganhou mais duas vezes depois disso.

O país tornou-se independente da França em 1960 e, desde então, o poder mudou de mãos várias vezes devido a golpes militares nos anos 1970 e 1980. Um breve período de aparente estabilidade foi sacudido pela tentativa dos aliados de Campaore de persuadir o Parlamento para que ele pudesse se eternizar no comando de Burkina Faso, uma das nações mais pobres da África. Campaore também é um leal aliado para os Estados Unidos e a França, que usam o território como base para operações militares contra terroristas na região do Sahel.

BBC | AO24

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