O líder do golpe confirmou que o Presidente está com os militares, garantindo que “está num local seguro”.
Depois de instaurar a ordem militar pela primeira vez em mais de uma década no país da África Ocidental, foi imposto um recolher nocturno obrigatório e tanto a Constituição, como a Assembleia, foram dissolvidas. A junta disse que os governadores provinciais da Guiné vão ser substituídos por comandantes regionais. E, no encontro, os membros do antigo Governo ficaram proibidos de viajar até surgirem novas informações.
Guinée : le Lieutenant-colonel Mamady Doumbouya avait prévenu, les absents seront considérés comme des rebelles. Résultats, tous les ministres étaient présents à la première réunion post-coup d'État... pic.twitter.com/ieRFjHNuUl
— Le journal Afrique (@JTAtv5monde) September 6, 2021
O líder do golpe militar, o antigo membro da legião francesa e tenente-coronel Mamady Doumbouya, explicou nesta segunda-feira às forças de segurança do país que “chegou o momento de nos reconciliarmos com o nosso povo, a quem devemos o nosso serviço”, disse num comunicado. “É tempo de inspirar confiança, segurança e protecção no povo, não [de inspirar] medo ou desconfiança”, continuou, segundo o texto a que o site Vision Guinee teve acesso.
Em declarações à France 24, Doumbouya reiterou que a sua intenção não é “brincar com o poder”, mas “aprender com os erros que foram cometidos”. Sobre a detenção do Presidente, disse que estava com os militares, garantindo que “está num local seguro” e que teve acesso a cuidados de saúde.
Ao mesmo tempo, os militares ordenaram a libertação dos “presos políticos de todos os grupos”. A Frente Nacional para a Defesa da Constituição, que engloba as forças políticas contra um terceiro mandato de Condé, afirmaram num comunicado que entre os detidos a libertar destaca-se o activista Oumar Sylla, conhecido como Foniké Menguè – condenado a onze meses de prisão por “apelar a uma concentração desarmada” –, Étienne Soropgui, Abdoulaye Bah, entre outros opositores.
Enquanto isso, um porta-voz do Exército também avançou que as fronteiras foram abertas. E na zona de Kaloum, em Conacri, o trânsito começou a normalizar-se e algumas lojas reabriram, depois da troca de tiros de domingo que levou à reivindicação do poder pelos militares.
A tentativa de golpe de Estado tem o objectivo de pôr fim “à má gestão financeira, à pobreza e à corrupção endémica”, e ainda “à instrumentalização da justiça [e] ao atropelo dos direitos dos cidadãos”, nas palavras de Doumbouya.
A indignação contra o Presidente – no poder desde 2010 – atingiu um pico no ano passado, depois de o chefe de Estado ter convocado um referendo para alterar a constituição para concorrer a um terceiro mandato. A medida foi considerada inconstitucional pela oposição, gerando meses de tensão e dezenas de mortes. As eleições, que venceu, foram precedidas pela detenção de dezenas de opositores.
A condenação internacional não tardou em chegar e, além do secretário-geral da ONU, António Guterres, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Africana e a França também exigiram a libertação “imediata” e “incondicional” do Presidente da Guiné-Conacri.
O Departamento do Estado dos EUA também alertou que a violência e medidas que vão para além da constituição podem arruinar as possibilidades de estabilidade e prosperidades no país, “limitando a capacidade dos EUA e de outros parceiros internacionais da Guiné-Conacri de ajudar o país”, refere o comunicado. PÚBLICO.